Democracia versus oclocracia por Thomas Sowell em 17 de novembro de 2011
Em várias cidades americanas, manifestantes, em sua maioria jovens, quase sempre incoerentes, frequentemente barulhentos e algumas vezes violentos, estão se tornando um grande transtorno.
Enquanto isso, muitos na grande mídia estão praticamente correndo alegre e efusivamente feito manada atrás desses “protestantes”, dando-lhes a publicidade gratuita que tanto desejam para si e para a sua causa — qualquer que seja esta além de dar vazão às suas emoções na televisão.
Os membros das turbas aparentemente acreditam que outras pessoas, as que estão trabalhando enquanto eles se ocupam em vandalizar as ruas, deveriam ser forçadas a subsidiar a instrução que recebem nas faculdades — e aparentemente, o presidente do Estados Unidos pensa o mesmo.
Mas se a inabilidade desses boquirrotos arrogantes em concatenar uma linha de pensamento coerente vale como indicação da qualidade da instrução que receberam, os pagadores de impostos deveriam exigir seu dinheiro de volta — dinheiro desperdiçado durante anos nas escolas públicas à disposição dessa gente.
Raciocínio medíocre e palavras medíocres com frequência andam juntos, tanto nas turbas quanto na mídia que delas faz farta cobertura. Por exemplo, é comum ouvir na mídia a respeito de como os “protestantes” foram detidos ou presos. Mas qualquer um que leia os meus artigos sabe que eu protesto contra todo tipo de coisas — e não sou preso por isso.
A diferença é que eu não bloqueio o tráfego, não me junto aos bandos que passam noites dormindo em parques e nem urino na rua. Se a mídia não consegue distinguir entre protestar e perturbar a paz, então a sua instrução também parece ter sido um enorme desperdício de dinheiro dos contribuintes.
Nas ruas, algumas das palavras medíocres preferidas pelas turbas estridentes são “A ganância de Wall Street”. Mas mesmo que você ache que o pessoal de Wall Street, ou de qualquer outro lugar, está ganhando mais dinheiro do que merece, a palavra “ganância” não é explicação de jeito nenhum.
“Ganância” diz muito sobre quanto você quer. Acontece que você pode ser a pessoa mais gananciosa do mundo e isso não acrescentará nem um centavo ao seu pagamento. É o que outras pessoas lhe pagam que aumenta a sua renda.
Se o governo tem dado muito dinheiro dos contribuintes a pessoas em Wall Street — ou a outras em qualquer outro lugar — então a irresponsabilidade ou a corrupção dos políticos é o problema. Os vândalos cujo lema é “Ocupe Wall Street” deveriam ocupar a Pennsylvania Avenue [avenida em Washington onde está localizada a Casa Branca].
É bem possível que alguns dos banqueiros ou financistas devessem ter recusado os milhões e bilhões que os políticos vinham lhes oferecendo. Mas santidade é tão incomum em Wall Street quanto na Pennsylvania Avenue — a propósito e a bem da verdade, também é incomum na mídia ou na academia.
Na verdade, alguns bancos tentaram recusar o socorro financeiro do governo para evitar a interferência em seus negócios, coisa que sabiam vir embutida no resgate governamental. Mas funcionários do governo federal insistiram — e o poder das agências regulatórias federais para criar grandes problemas financeiros para os bancos tornou muito difícil dizer não à ajuda. Os funcionários federais lhes fizeram uma oferta que não tinham como recusar.
Pessoas que não conseguem distinguir entre democracia e oclocracia* podem cair na esparrela de que os desordeiros nas ruas representam os 99% que estariam protestando contra a “ganância” do restante 1%. Mas esses vândalos são menos de 1% da população e estão violando brutalmente os direitos de um número vastamente superior de pessoas forçadas a aturar a destruição das ruas que os rufiões promovem durante o dia e o barulho que fazem à noite, impedindo o sono daqueles que precisam trabalhar.
Quanto ao “um por cento no topo da pirâmide de renda”, que atrai tanta atenção, receio e condenação, é preciso dizer que sempre haverá um por cento de pessoas no topo da pirâmide de renda, a não ser que todos tenham a mesma renda. Esse um por cento de pessoas nessa faixa de mais alta renda tem tanto monopólio sobre a santidade ou sobre a vilania quanto as pessoas em qualquer outra faixa de renda.
Além disso, esse um por cento não é composto pelos “milionários e bilionários” de que Barack Obama tanto fala. Você nem precisa chegar a ter uma renda anual de quinhentos mil dólares para estar no topo das faixas de renda.
Ademais, essa não é uma classe perene de pessoas; nem mesmo duradoura é. Nem o são as pessoas em outras faixas de renda. A maioria das pessoas no topo fica lá por apenas um ano. Qualquer um que vender uma casa média em São Francisco pode subir ao topo da pirâmide de renda — mas apenas durante o ano da venda. Outros picos de renda ocasionais dão conta da maioria das pessoas classificadas como pertencentes ao um por cento agrupado no topo.
Mas tais fatos, simples e claros, têm pouco peso na retórica açodada e nas emoções descuidadas da turba e da mídia.
Tradução: Henrique Dmyterko
Título original: Democracy Versus Mob Rule
*NT:Oclocracia (do grego okhlos, multidão/plebe e kratos, poder), não é, rigorosamente, uma forma de governo, mas uma situação crítica pela qual atravessam as instituições ao sabor da irracionalidade das multidões. O termo oclocracia indica o jugo imposto pelas multidões ao poder legítimo e o desafio às leis.
Fonte:
http://www.midiaamais.com.br/eua-e-geopolitica/7294-democracia-versus-oclocracia
Tópico: ''Ocupe Wall Street'' - A irracionalidade das multidões (Lida 777 vezes)