Para Luiz Souto:
Acontece que Marx é um autor a favor da ação política ,e para a ação política é preciso já ter escolhido algumas visões morais. Pelo menos a visão do que é desejavel e do que não é, de qual é o objetivo a ser alcançado e qual não é. Nesse ponto, Marx não tinha como não ser um autor moral ,tanto é que nos seus textos ao falar do modo como os operários são tratados, há sim , muitas frases e paragrafos de indignação moral nos seus textos,sobretudo naturalmente ,nos textos mais de divulgação ,como o "Manifesto Comunista" ,mas também no "O capital".
Na verdade , num caso como esse ,no fundo , a tentativa de não fazer juizos morais ,acaba mais é sendo usada como justificativa para atrocidades e trambiques na ação política (o que é especialmente grave nas questões das atrocidades, no caso de trambiques pacíficos,ainda se poderia argumentar a favor deles) feitas pelos seus, com o discurso de se dizer que mesmo no caso de os anti-capitalistas de esquerda fazerem atrocidades ,condenar isso como um mal em si ,é um moralismo não cientifico, no entanto, já Marx quando falava das condições dos operários e quando descrevia e refutava os sofismas estilo falar que os pobres são preguiçosos, já usava um tom de indignação que é indubitavelmente moralista.
Ele era contra moralismos para descrever ações dos operários, mas usava sim , um tom moralista ao falar de ações dos burgueses, ou pelos menos, ao falar das consequencias práticas dessas ações, o que fica dificil de distinguir dos próprios agentes ,dos burgueses , na ação política ,ainda mais ação política revolucionária. Na verdade ,num caso desses, ele falar que não adiantavam as caracteristas pessoais de determinados grupos de burgueses para levar à nenhuma melhoria para os trabalhadores , ele na prática ,mais do que evitar um excesso de moralismo, na verdade fazia uma demonização muito pior do que a demonização moralista habitual, ele estava criticando os burgueses num mesmo sentido em que um racista critica as pessoas do grupo contra o qual tem racismo ,independentemente dos seus atos.
E não adianta dizer que não é demonização. Na ação política do tipo revolucionária, é inevitavel demonizar a ordem antiga e é difícil ,praticamente impossível ,separar isso dos agentes da ordem antiga. E além disso, ele também tinha a teoria da falsa consciencia ,da ideologia ,da consciência ligada à sua existência, o que também leva a pensar que em se tratando de um ex-burguês adulto ,que já era adulto quando era burguês ,não modificou sua consciencia com a nova ordem revolucionaria, e por isso não é confiável.