Autor Tópico: Desabafo de um médico  (Lida 1588 vezes)

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Offline Dr. Manhattan

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Desabafo de um médico
« Online: 27 de Janeiro de 2012, 18:17:31 »
Minha esposa recebeu o e-mail abaixo e acho que pode ser do interesse de todos. Antes que alguém venha alegar se tratar de hoax saiba que verifiquei que tal médico existe e, de qualquer forma, as informações relatadas não são novidade entre os profissionais de saúde:

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DESABAFO DE UM COLEGA OBSTETRA
EDSON BORGES DE SOUZA, MÉDICO OBSTETRA, BELO HORIZONTE




Quero, antes de tudo, manifestar meu apoio ao colega Marcos Augusto Bastos Dias, e repudiar a hipocrisia, não apenas do CRM-RJ, mas de todos os CRM's Brasil afora. Nessa disputa envolvendo assistência ao trabalho de parto e nascimento, não existe nenhuma pureza dentro dos conselhos. Os augustos, quase divinos conselheiros - encastelados em sua ética parcial - não estão assim tão interessados nos sujeitos principais do parto: a mulher, o bebê, a família. Estão ali para proteger o poder e os privilégios da categoria que representam - importantíssima, sim, mas nem por isso proprietária da fisiologia humana. Fazem uma balbúrdia quando se trata de compartilhar a assistência com outra categoria - obstetrizes e enfermeiros obstetras - e outros modelos de assistência - ainda que comprovadamente eficazes e seguros em vários outros países do mundo. Mas se calam, ou se acomodam em inúmeras outras situações, flagrantemente ilegais, absurdamente antiéticas, ou explicitamente desumanas...

1) Um médico, obstetra, professor-doutor, tutor de residência (talvez conselheiro em seu Estado) que chega no plantão da maternidade, onde mulheres foram ganhar seus bebês, e assim se pronuncia: "Como está o nosso Vietnã? Nossa Faixa de Gaza!!" Porque ele vai para o plantão como quem vai para uma guerra; as parturientes e seus familiares são o inimigo a ser vencido; ele está ali para matar ou morrer; para arrancar sangue; para dominar, para impor seu ponto de vista. Sua postura e suas condutas frente às mulheres, no decorrer do dia, são um desdobramento de seu "carinhoso" bom dia. Nossas maternidades estão abarrotadas de profissionais desse tipo, que vão trabalhar sem gostar do que fazem, e que descontam suas raivas nas mulheres que vão lá parir. O que os CRM's fizeram daquele estudo que mostra que cerca de 25% das mulheres são violentadas dentro das maternidades, na hora do parto? O que têm feito nossos CRM's, tão "preocupados" com a ética, contra médicos obstetras, anestesistas, pediatras (não todos, claro, mas muitos, muitos!!), que sistematicamente agridem mulheres nas mesas de cirurgia - principalmente quando são negras, obesas e pobres? Tem levantado a voz, pelo menos? Alguém foi punido, por isso? Ou isso é tão inerente à prática, que não vale a pena discutir?

2) E as cesarianas eletivas com 37 e 38 semanas, nas melhores maternidades do país - naquelas com imensos saguões de granito e manobrista? O que tem sido feito com esses profissionais, geralmente gente muito fina! Profissionais muito conceituados em suas cidades e seus Estados! O que tem sido feito com os profissionais que indicam e executam essas cesarianas? Não sei de onde sai tanta indicação: o líquido secou, o nenê não estava respirando, o cordão estava enrolado no pescoço, o nenê era muito grande, HbsA g +, estreptococo B positivo (essa é de rir - ou chorar!). Porque a mentira foi normalizada em nossos pré-natais. A mentira e a arte de aterrorizar. Há uns meses, minha irmã me ligou de Maceió, onde mora, desesperada. Estava com 39 semanas de gestação, já tivera um parto normal anterior e aguardava tranquilamente o trabalho de parto. Mas "inventou" de fazer um ultra-som; a ultrassonografista falou que tinha que ser cesariana porque o cordão estava enrolado no pescoço. Falei para ela que ficasse tranquila; quatro dias depois nasceu o bebê, com uma circular de cordão, em perfeitas condições. Quantas outras mulheres não tiveram a sorte de ter quem as tranquilizasse? E quantas outras "excelentes" ultrassonografistas, pelo Brasil afora, não fazem outras tantas brilhantes indicações como esta? Isso não configura um quadro de imperícia? Isso não é antiético? O que os CRM's têm feito nestas situações? Alguém foi chamado, pelo menos para uma advertência? E quando algum desses bebês afoitamente retirado com 37 semanas (porque o fim de semana, ou o feriado prolongado estava próximo, ou porque havia um risco iminente de nascimento por parto normal), por "azar", teve uma membrana hialina, ou uma taquipnéia mais severa, e teve que ir para uma UTI neonatal, e teve que ficar entubado lá, um ou dois dias, alguém questionou a conduta desse profissional de condutas tão ilibadas? Será que os diretores clínicos das nossas maternidades privadas investigam esses casos? No final, mãe e bebê e família retornam muito felizes para suas casas... Intercorrências benignas, não é! Ainda agradecem ao profissional, que "salvou" o bebê. É verdade que, às vezes não dá prá salvar... Os CRM investigam isso? Ou isso também é intercorrência benigna?

3) Existe maternidade pública no Brasil, onde o médico plantonista não avalia puérpera na enfermaria, porque na enfermaria não tem ar condicionado - ninguém merece aquele calor, né gente! Levem os prontuários para eles, no conforto médico, onde o ar condicionado mantém uma temperatura civilizada - 18, 20 graus, né gente! Por outro lado, ar condicionado de bloco cirúrgico-obstétrico tem que ser 16 graus, né gente! Para vestir capote cirúrgico, tem que abaixar a temperatura. "Senão, não dá para trabalhar!" A paciente (mãezinha, ou filhinha), de camisola, ou despida, que se vire! Ninguém pergunta se a temperatura está adequada para ela. Alguém se preocupa com isso? Ah! sim, claro, o pediatra, quando que o bebê nasce...

4) E as cesarianas para ligadura!! A lei do planejamento familiar já está bem velhinha! Mas até hoje tem mulher com dois ou três partos normais que entra na maternidade às 9:00 e às 10:30 é levada para o bloco cirúrgico para uma cesariana de urgência por sofrimento fetal agudo (com BCF de 140), ou distócia (distócia? teve tempo de ter distócia?), e na cesariana "ganha" a ligadura... Ou entra na maternidade com diagnóstico de pré-eclâmpsia (com PA de 150/100) e é encaminhada direto para o bloco, para cesariana de urgência + ligadura. Curiosamente, todas as outras medidas de PA situam-se em torno de 100/70; mais curioso ainda, a única medida anormal foi a medida da admissão, tomada pelo médico; curiosíssimo: talvez ele nem tenha colocado o esfigmomanômetro no braço da gestante... Como é mesmo o nome disso? Não entendo muito de lei! Falsidade ideológica? Será que cabe aqui? A Lei de Planejamento Familiar estabelece algumas penas... Tem algum CRM no Brasil preocupado com essa prática? Comuníssima ainda nos grotões... Claro, ainda tem o cachê do médico: mil reais pra fazer a ligadura...

5) E os "esquemas" de plantão? Tem três pediatras de plantão. Na prática, só tem um, porque eles rodam. "Tem que contratar mais pediatra", fala uma pediatra absolutamente sobrecarregada, "porque não estou dando conta do serviço!". Os outros dois estão nos seus consultórios ... "Não dá para fazer analgesia peridural nas pacientes em trabalho de parto, porque não tem gente suficiente", fala o anestesista de plantão. O outro anestesista, também de plantão, não está... (onde está?). E assim por diante... Cadê os CRMs?? Cadê os nobres conselheiros?

6) "Período de dilatação, pra mim, dura 6 horas; período expulsivo, 30 minutos. Mais que isso, é cesariana" Ou Kristeller. Porque, depois que vai para a litotomia, tem que nascer em 15 minutos. “Isso! Cuidado mãe! (ela subindo na litotomia). Vamo butá o pezinho aqui mãe, pro menino nascer rápido! Força para o menino sair daqui. Mãe, presta atenção, tá fazendo errado. Peraí!! Puxa isso aqui. Vamo butá o campo. Vai nascer! Agora mãe, quando vier a dor, é pra você ajudá. Puxa, tá certo?, na hora da dor. Puxa! Tá descendo? Força, confiança. Fecha a boca. Vai mãe, vamo, vamo, vai, vai, vai mãezinha, vai, vai. Ela tá muito desesperada. (Mãe: não aguento). Oh mãe, presta atenção. Você tá com desespero, mas sem necessidade. (Mãe: mas dói demais); (Mãe: eu tô tentando). Aquela hora achei que ia nascer lá (gemidos). Bota o pezinho, isso. Ajuda mãe! Ajuda aí. Vai, força, vai, força, puxa o ferro. Vai mãe, vai mãe, espreme, tá vindo, tá nascendo. Vá mãe, vá, VAI. Força!!! (Mãe: oh, gente! - tá dando agonia!). Presta atenção, mãe, presta atenção, vamo lá. (Mãe: Oh, meu deus). Desça o bumbum, desça, desça mais. Vá, mãezinha, isso! Muito bem. (Mãe: Ah, meu deus). Desce, na contração, sobe. (Mãe: Oh, gente! Oh, senhor!). Tá chegando, vamo mãe, bota o pezinho pra cima e puxa o ferro, vamo vai vá, vá, vá mãezinha, empurra o pé. Vá, mãe, vá. É que as contrações dela são poucas. (Mãe: dói demais, gente). Força, vá, força, vá (grito). (Mãe: gente!). Respira, puxa o ar pelo nariz (Mãe: não aguento mais não. Meu pai!). (Mãe: não, não). Empurra, vá, vai nascer. Vamos, vamos (grito) Você tá segurando! Não mãe, tenha calma, deixa descer mais. Força Raimunda, vá. Vamos, Raimunda. Não devagar, de uma vez só. Sobe ela. Tô deixando rodar. Nasceu, pronto. Respire mamãe. Nasceu! Pronto".
Essa gritaria toda durou quinze minutos. De fato nasceu. Tinha que nascer em 15 minutos? O BCF estava ótimo e a parturiente tinha dois partos normais prévios. Essa é a assistência padrão de período expulsivo no país inteiro. E o que os CRM's fazem então com esse bullying sistemático nos períodos expulsivos das mulheres brasileiras (na hora de fazer você não gritou assim), com essa gritaria (parece que estamos tocando vaca!), com esse estímulo irracional ao puxo dirigido (será que ninguém nunca viu o que o Caldeiro-Barcia já havia mostrado em 1979?), com essas multidões penduradas nos períneos das mulheres (força, mãezinha!)? Claro que os CRM's não fazem nada... A fazer algo, teriam que reconhecer que MÉDICO(a) OBSTETRA NÃO SABE ASSISTIR UM PARTO NORMAL EUTÓCICO. Mas isso é demais... Porque na sequência teriam que reconhecer que outros profissionais - não médicos, e uns poucos médicos - sabem o que eles não sabem; e que têm muito a aprender com esses outros. E que talvez as CASAS DE PARTO possam ser locais mais adequados para o nascimento, e que a obstetriz e o enfermeiro obstetra, são tão capazes quanto eles na assistência ao parto. E isso eles não parecem dispostos a fazer.
Isso é um desabafo, absolutamente pessoal...



Edson Borges de Souza, Médico Obstetra - Belo Horizonte


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A propósito: minha sobrinha nasceu praticamente prematura, apesar da gravidez ser normal (o médico reclamava do aumento de pressão de minha irmã, mas curiosamente isso só acontecia nas medições no consultório). O fato é que o médico insistiu em fazer uma cesariana antes do tempo... porque ia viajar.
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Alan Watts

Offline Titoff

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Re:Desabafo de um médico
« Resposta #1 Online: 27 de Janeiro de 2012, 18:42:29 »
Não que o resto não seja perturbador, mas...

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O que os CRM's fizeram daquele estudo que mostra que cerca de 25% das mulheres são violentadas dentro das maternidades, na hora do parto?
:what:

Offline Hold the Door

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Re:Desabafo de um médico
« Resposta #2 Online: 27 de Janeiro de 2012, 18:54:51 »
o médico reclamava do aumento de pressão de minha irmã, mas curiosamente isso só acontecia nas medições no consultório

Síndrome do jaleco branco.
Hold the door! Hold the door! Ho the door! Ho d-door! Ho door! Hodoor! Hodor! Hodor! Hodor... Hodor...

Offline Diegojaf

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Re:Desabafo de um médico
« Resposta #3 Online: 27 de Janeiro de 2012, 18:58:42 »
Minha esposa recebeu o e-mail abaixo e acho que pode ser do interesse de todos. Antes que alguém venha alegar se tratar de hoax saiba que verifiquei que tal médico existe e, de qualquer forma, as informações relatadas não são novidade entre os profissionais de saúde:

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DESABAFO DE UM COLEGA OBSTETRA
EDSON BORGES DE SOUZA, MÉDICO OBSTETRA, BELO HORIZONTE




Quero, antes de tudo, manifestar meu apoio ao colega Marcos Augusto Bastos Dias, e repudiar a hipocrisia, não apenas do CRM-RJ, mas de todos os CRM's Brasil afora. Nessa disputa envolvendo assistência ao trabalho de parto e nascimento, não existe nenhuma pureza dentro dos conselhos. Os augustos, quase divinos conselheiros - encastelados em sua ética parcial - não estão assim tão interessados nos sujeitos principais do parto: a mulher, o bebê, a família. Estão ali para proteger o poder e os privilégios da categoria que representam - importantíssima, sim, mas nem por isso proprietária da fisiologia humana. Fazem uma balbúrdia quando se trata de compartilhar a assistência com outra categoria - obstetrizes e enfermeiros obstetras - e outros modelos de assistência - ainda que comprovadamente eficazes e seguros em vários outros países do mundo. Mas se calam, ou se acomodam em inúmeras outras situações, flagrantemente ilegais, absurdamente antiéticas, ou explicitamente desumanas...

Tinha um tópico em que eu postei algo como um número de 5 médicos excluídos pelo Conselho nos últimos 50 anos. A melhor profissão do país para errar, aparentemente. Não dá nada.
"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." - Rui Barbosa

http://umzumbipordia.blogspot.com - Porque a natureza te odeia e a epidemia zumbi é só a cereja no topo do delicioso sundae de horror que é a vida.

Offline Donatello

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Re:Desabafo de um médico
« Resposta #4 Online: 27 de Janeiro de 2012, 19:13:58 »
Violentadas aí tem a conotação de agredidas verbalmente ou deixadas mofando ou submetidas a procedimento de forma agressiva, sem "carinho", Titoff. Não que seja mais ok, é só que talvez você tenha interpretado o termo de modo mais erótico ;)

Na maternidade em que trabalho a queixa mais frequente das mulheres parece ser o inverso, de que o médico demorou muito tentando forçar o parto normal e que por isso a criança nasceu com complicações. Não sei mesmo se procedem, não tenho a mínima competência para entrar no mérito, mas que são as queixas mais comuns entre as mães de bebês que vão parar na UTI, são.

Ontem registrei a internação de uma gesta XV para XIV, quase dando a luz ao 15º indigentezinho, pode parecer escroto demais para um pobretão como eu, mas confesso que nestas horas, talvez até por isso, eu mesmo fico com vontade de violentá-las na porrada.

Offline Donatello

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Re:Desabafo de um médico
« Resposta #5 Online: 27 de Janeiro de 2012, 19:22:02 »
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E os "esquemas" de plantão? Tem três pediatras de plantão. Na prática, só tem um, porque eles rodam. "Tem que contratar mais pediatra", fala uma pediatra absolutamente sobrecarregada, "porque não estou dando conta do serviço!". Os outros dois estão nos seus consultórios ... "Não dá para fazer analgesia peridural nas pacientes em trabalho de parto, porque não tem gente suficiente", fala o anestesista de plantão. O outro anestesista, também de plantão, não está... (onde está?). E assim por diante... Cadê os CRMs?? Cadê os nobres conselheiros?

Exato. A saúde é o setor público dos esquemões, deputado que chega em Brasília 3ª e vai embora 5ª morre de inveja dos esquemas de escala da saúde. Sério, sobretudo os dos médicos.
« Última modificação: 27 de Janeiro de 2012, 19:24:03 por Hans Sauerkraut »

Offline Sergiomgbr

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Re:Desabafo de um médico
« Resposta #6 Online: 27 de Janeiro de 2012, 19:27:11 »
E o que os CRM's fazem então com esse bullying sistemático nos períodos expulsivos das mulheres brasileiras (na hora de fazer você não gritou assim), com essa gritaria (parece que estamos tocando vaca!), (...)
Ou seja, é quase um açougue. :hein:
Até onde eu sei eu não sei.

Offline gogorongon

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Re:Desabafo de um médico
« Resposta #7 Online: 27 de Janeiro de 2012, 23:33:47 »
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1) Um médico, [...] que chega no plantão da maternidade, onde mulheres foram ganhar seus bebês, e assim se pronuncia: "Como está o nosso Vietnã? Nossa Faixa de Gaza!!" Porque ele vai para o plantão como quem vai para uma guerra; as parturientes e seus familiares são o inimigo a ser vencido; [...] Nossas maternidades estão abarrotadas de profissionais desse tipo, que vão trabalhar sem gostar do que fazem, e que descontam suas raivas nas mulheres que vão lá parir.
Orra, esse tipo de comentário não é coisa de gente que tá com raiva, é apenas humor negro.

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4) E as cesarianas para ligadura!! A lei do planejamento familiar já está bem velhinha! Mas até hoje tem mulher com dois ou três partos normais que entra na maternidade às 9:00 e às 10:30 é levada para o bloco cirúrgico para uma cesariana de urgência por sofrimento fetal agudo (com BCF de 140), ou distócia (distócia? teve tempo de ter distócia?), e na cesariana "ganha" a ligadura... Ou entra na maternidade com diagnóstico de pré-eclâmpsia (com PA de 150/100) e é encaminhada direto para o bloco, para cesariana de urgência + ligadura. Curiosamente, todas as outras medidas de PA situam-se em torno de 100/70; mais curioso ainda, a única medida anormal foi a medida da admissão, tomada pelo médico; curiosíssimo: talvez ele nem tenha colocado o esfigmomanômetro no braço da gestante... Como é mesmo o nome disso? Não entendo muito de lei! Falsidade ideológica? Será que cabe aqui? A Lei de Planejamento Familiar estabelece algumas penas... Tem algum CRM no Brasil preocupado com essa prática? Comuníssima ainda nos grotões...
Isso pode ser antiético, uma realidade triste, mas não sou contra. A maioria das pessoas é incompetente demais para criar mesmo um único filho direito, que se dirá vários.

Quanto ao resto do texto, os fatos são realmente lamentáveis.

Offline DDV

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Re:Desabafo de um médico
« Resposta #8 Online: 28 de Janeiro de 2012, 10:04:02 »
A maior parte do texto é mimimi inútil.

Quanto às indicações de cesárias, é muito mais danoso para a gestante, o bebê e O PRÓPRIO MÉDICO deixar de indicar uma cesária e dar merda do que indicar a cesária ao menor sinal de dar merda. Como já foi dito, se o médico insistir em fazer parto normal e dar merda, ele será crucificado.

Medicina não é uma ciência exata, ela trabalha na maior parte do tempo com possibilidades e não certezas.


No item 1 o cara reclama do humor negro do médico frente a uma maternidade pública superlotada. Está precisando assistir o Dr. House e relaxar mais.  :D



Ar-condicionado de hospitais é um problema da alçada da administração, não dos médicos. Se a administração acha que os pacientes aguentam ficar no calor sem reclamar (ao contrário dos médicos), isso é com ela e os pacientes.



O item 6 é ridículo, dado que quem tem mais interesse que o parto ocorra o mais rápido possível é a própria parturiente. Para quem não sabe, as contrações uterinas são MUITO dolorosas e só cessam após o bebê sair.








 
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

Offline Dr. Manhattan

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Re:Desabafo de um médico
« Resposta #9 Online: 28 de Janeiro de 2012, 11:37:05 »
A maior parte do texto é mimimi inútil.

DDV, nem eu nem você temos expertise para discutir a necessidade ou não de uma cesária em um caso particular. Porém,  (a) eu conheço inúmeros profissionais de saúde que afirmam que a quantidade de cesáreas desnecessárias feitas no Brasil é absurdo, (b) existe o FATO de que no resto do mundo as cesáreas são a exceção, feitas apenas quando realmente não existe alternativa e (c) uma cesariana é uma intervenção cirúrgica, com todos os riscos que isso acarreta. Além disso, conversei com médicos que concordaram com esse desabafo, com a ressalva de que muitas vezes tentam justificar as cesáreas desnecessárias com os baixos salários. Portanto, sugiro você se informar melhor para não se deixar carregar nos braços de Dunning e Kruger.

Quanto às indicações de cesárias, é muito mais danoso para a gestante, o bebê e O PRÓPRIO MÉDICO deixar de indicar uma cesária e dar merda do que indicar a cesária ao menor sinal de dar merda.

De acordo com muitos médicos, "dar merda" significa "perder meu tempo acompanhando o trabalho de parto" ou "perder minha viagem para a conferência".

Como já foi dito, se o médico insistir em fazer parto normal e dar merda, ele será crucificado.

:histeria: Leia de novo o texto do médico. Ele está reclamando justamente da falta de punições!


Medicina não é uma ciência exata, ela trabalha na maior parte do tempo com possibilidades e não certezas.

Correto quando se trata de um caso particular. Errado quando se trata de uma tendência geral.

No item 1 o cara reclama do humor negro do médico frente a uma maternidade pública superlotada. Está precisando assistir o Dr. House e relaxar mais.  :D

Quantas vezes House apanhou merecidamente de familiares de pacientes?


O item 6 é ridículo, dado que quem tem mais interesse que o parto ocorra o mais rápido possível é a própria parturiente. Para quem não sabe, as contrações uterinas são MUITO dolorosas e só cessam após o bebê sair.

O parto normal tem o seu próprio ritmo. Em alguns casos é rápido (principalmente se for o segundo ou terceiro filhos). Em outros pode demorar bastante. Para sua informação, se a mulher por exemplo, "apertar" na hora errada, isso pode causar problemas (a vulva dela pode literalmente rasgar - existem casos que a fissura vai até o músculo do ânus). Isso pode gerar infecções e mais dor.







 
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Alan Watts

Offline DDV

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Re:Desabafo de um médico
« Resposta #10 Online: 28 de Janeiro de 2012, 12:15:25 »
A maior parte do texto é mimimi inútil.

DDV, nem eu nem você temos expertise para discutir a necessidade ou não de uma cesária em um caso particular.

Existe uma lista definida de indicações para cesárea. Algumas são absolutas e outras relativas (dependem de outros fatores, como proximidade do parto, estado de saúde materno, resultados de alguns exames, etc). Mas os problemas surgem de fatores econômicos e sociais, como veremos abaixo...
 
Citação de: Dr Manhattan
Porém,  (a) eu conheço inúmeros profissionais de saúde que afirmam que a quantidade de cesáreas desnecessárias feitas no Brasil é absurdo, (b) existe o FATO de que no resto do mundo as cesáreas são a exceção, feitas apenas quando realmente não existe alternativa e (c) uma cesariana é uma intervenção cirúrgica, com todos os riscos que isso acarreta.

...no Brasil, nem todos os exames necessários para um completo acompanhamento e avaliação da gestante são disponíveis no setor público. Grande parte das gestantes chegam no parto sem terem tido um acompanhamento pré-natal mínimo. Daí, os médicos precisam tomar decisões baseados no que têm na hora (às vezes, só a cardiotocografia e uma história pobre). Nessas condições, levando-se em conta os potenciais riscos, eles optam pro fazer a cesárea. É como o bandeirinha que na dúvida marca o impedimento.

Ou seja, problemas no sistema público brasileiro. Não dá para comparar com países onde a saúde pública é decente.

Ao contrário do que você diz, o parto cesariano é MAIS seguro do que o normal em diversas situações onde é plenamente possível fazer parto normal (Ex: feto com aprsentação pélvica). Não é por dar menos trabalho, é de fato um menor risco para bebê e mão. A sua tese de que o parto normal deve ser tentado até o máximo que for possível, só fazendo cesárea nos casos mais extremos, é falsa.

Além disso, nas maternidades particulares, há muitas mães que preferem cesárea e pagam por isso. O que fazer?
 
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Além disso, conversei com médicos que concordaram com esse desabafo, com a ressalva de que muitas vezes tentam justificar as cesáreas desnecessárias com os baixos salários. Portanto, sugiro você se informar melhor para não se deixar carregar nos braços de Dunning e Kruger.

Sim, a corrupção existe e é grave em diversas áreas da saúde (Ex: ortopedista que faz trato com empresas de próteses, médicos com farmácias, etc). Eu não me referi às indicações de cesárea sem nenhum motivo ou justificativa, me refiro aos casos onde alterações no BCF, dados da história e outros exames não deixem o médico 100% tranquilo em tentar o parto normal. E é fato que os médicos que tentam o parto normal em situações "duvidosas" são crucificados depois caso dê merda, o que não ocorre quando optam pela cesárea.

Tenha calma e maneire aí, pois você não sabe se eu sou uma pessoa leiga nesse assunto ou não.


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Quanto às indicações de cesárias, é muito mais danoso para a gestante, o bebê e O PRÓPRIO MÉDICO deixar de indicar uma cesária e dar merda do que indicar a cesária ao menor sinal de dar merda.

De acordo com muitos médicos, "dar merda" significa "perder meu tempo acompanhando o trabalho de parto" ou "perder minha viagem para a conferência".

Os médicos têm escalas de plantão definidas em maternidade. Quando o seu tempo acaba, são substituidos por outros que passam a acompanhar os trabalhos de parto. Ninguém legalmente irá sair do plantão antes de completar as 12 ou 24 horas determinadas. Logo, é indiferente quanto ao tempo se ele acompanha o trabalho de parto dentro desse período. Na verdade, a cesariana é mais trabalhosa, leva mais tempo e exige presença do médico em tempo integral, ao contrário do perído expulsivo do parto normal, que é bem mais rápido.
« Última modificação: 28 de Janeiro de 2012, 12:49:13 por DDV »
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

Offline DDV

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Re:Desabafo de um médico
« Resposta #11 Online: 28 de Janeiro de 2012, 12:36:33 »
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Como já foi dito, se o médico insistir em fazer parto normal e dar merda, ele será crucificado.

:histeria: Leia de novo o texto do médico. Ele está reclamando justamente da falta de punições!

Devido a uma peculiaridade psico-social dos pacientes, não só no Brasil, o médico que fizer uma cesárea após 37 semanas (período mínimo para haver maturidade pulmonar fetal) e o bebê precisar ser entubado não é criticado, mas o que fizer parto normal em situações "duvidosas" e der merda são trucidados. É óbvio que os médicos optarão pelo menos arriscado.

Situações análogas ocorrem em outras áreas. Um exemplo: se um paciente chega em um PA particular com dor torácica, história de desmaio ou dispnéia transitórios, mas com ECG normal, o médico é meio que "obrigado" a pedir dosagem de enzimas do miocárdio mesmo que ele tenha convicção de que o paciente não tem infarto. Se ele dispensar o paciente, mal-estar acontece. Os médicos costumam chamar essas coisas de condutas por "questão social". O mesmo ocorre com pacientes que são internados sem indicação formal apenas porque são miseráveis que não têm como se cuidar ou tratar sozinhos devido à extrema pobreza e/ou ignorância.

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Medicina não é uma ciência exata, ela trabalha na maior parte do tempo com possibilidades e não certezas.

Correto quando se trata de um caso particular. Errado quando se trata de uma tendência geral.

Sim, há erros, mas não necessariamente devido aos médicos (ao menos primariamente), pode ser devido ao sistema de saúde ou até mesmo à cultura dos pacientes.

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O item 6 é ridículo, dado que quem tem mais interesse que o parto ocorra o mais rápido possível é a própria parturiente. Para quem não sabe, as contrações uterinas são MUITO dolorosas e só cessam após o bebê sair.

O parto normal tem o seu próprio ritmo. Em alguns casos é rápido (principalmente se for o segundo ou terceiro filhos). Em outros pode demorar bastante.

O trabalho de parto como um todo, sim. O período expulsivo (última etapa do trabalho de parto) é relativamente rápido e as contrações da mulher ajudam a acelerá-lo.

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Para sua informação, se a mulher por exemplo, "apertar" na hora errada, isso pode causar problemas (a vulva dela pode literalmente rasgar - existem casos que a fissura vai até o músculo do ânus). Isso pode gerar infecções e mais dor.

Errado. Se a vulva irá ou não rasgar, isso depende primariamente da passagem, e não da velocidade de expulsão em si e das contrações da mulher. Quando a cabeça aparece, o médico já consegue ver se há possibilidade de passagem intacta ou não a depender da relação entre o tamanho da cabeça e a passagem. Existe uma manobra para proteger a vulva durante a saída da cabeça (apertando a parte inferior para que a pressão da cabeça se redistribua). Se a passagem estiver muito pequena, faz-se a episiotomia. Em casos maos raros, pode-se optar pela cesárea já nesse momento (o que é má prática, pois isso deveria ser visto antes do período expulsivo).

Ou seja, no período expulsivo, quanto  mais a mulher contrair o abdomen, mais rápido será a expulsão, o que é desejável. O risco ao períneo não deixa de existir se ela contrair pouco, e as manobras para proteção do mesmo não seriam diferentes.
 







 
« Última modificação: 28 de Janeiro de 2012, 12:42:15 por DDV »
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

 

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