O “Wall Street Journal” disse ter obtido acesso a um estudo inédito do Banco Mundial que será divulgado na segunda-feira 27.
A pesquisa, conta o diário americano, foi batizada de “China 2030″ e prevê que o modelo chinês de desenvolvimento sofra uma crise até aquela data caso não implemente reformas.
Esta poderia ser mais uma entre milhares de projeções econômicas erradas que são publicadas o tempo todo. Mas o que torna esse estudo importante não é a chance de acertar, e sim o fato de ter sido feito em parceria com uma instituição ligada ao governo chinês, o Centro de Pesquisas para o Desenvolvimento.
Isso sinaliza que algumas autoridades da China estão empenhadas em fazer reformas no sistema.
Liu Re, o número 2 desse instituto chinês, participou da elaboração do atual plano quinquenal de desenvolvimento. Li Keqiang, o vice-primeiro-ministro da China, cotado para ser nomeado premiê em 2013, apoia a parceria do governo com o Banco Mundial, segundo o “Journal”.
É uma pena que a reportagem não diga exatamente qual o processo que levaria o atual modelo chinês ao declínio. O texto afirma, por exemplo, que a ajuda mútua entre empresas estatais (exemplo: bancos públicos emprestam a juros mais baixos a elas) distorce a competitividade no país. Mas a matéria não descreve como tal situação evoluiria para uma crise. Cada leitor que complete as lacunas da forma como achar melhor.
Outro problema apontado é o fato de que muitas estatais têm subsidiárias no mercado imobiliário e a atuação delas estaria inflando o preço dos imóveis. Mas também nesse caso a reportagem não explica por que isso derrubaria o modelo chinês. A princípio, pode-se imaginar que uma bolha imobiliária causaria uma crise, mas não necessariamente a queda de um regime, assim como a bolha americana até agora não derrubou o sistema vigente nos Estados Unidos.
Reformas
Pelo que o “Journal” reportou, a mudança que o estudo sugere à China não é na direção de uma sociedade de livre mercado. Longe disso, as reformas não chegariam nem sequer a criar um estado de bem-estar social.
O Banco Mundial propõe que as estatais chinesas passem orientar suas ações por critérios de mercado, mas não sugere a privatização delas, ainda segundo a reportagem do “Journal”. A sugestão é de que essas companhias elevem os dividendos pagos aos acionistas, o que inclui o governo, que por sua vez passe a destinar esse dinheiro a programas sociais.
Resistência
As sugestões, mesmo sendo leves, encontram resistência dentro do governo, segundo a reportagem. A Comissão de Supervisão e Administração de Ativos Estatais, que junto com o Partido Comunista nomeia e demite os presidentes das empresas públicas, vai tentar bloquear o projeto, relata o jornal.
“Então, esse estudo não vale nada”, poderíamos pensar. Mas não é bem isso. O fato de ele ter sido levado adiante mostra que uma ala reformista do governo chinês está ganhando espaço. Não é pouco, se considerarmos que se trata de um sistema de partido único e que passa uma aparência de monolítico.
Estado gigante
Abaixo, algumas informações relevantes ou pelo menos curiosas sobre o modelo chinês, publicadas no “Journal” .
- As estatais correspondem hoje a 45% da economia chinesa urbana. Na década de 1970, antes da abertura, todas as companhias eram do Estado;
- Em 2011, 60 empresas chinesas estavam entre as 500 maiores do mundo, listadas pela revista americana “Fortune”. Em 2006, apenas 20 estavam nesse ranking;
- O governo chinês muitas vezes obriga empresas estrangeiras a transferir tecnologia a estatais. Isso permite, por exemplo, que a indústria de aviação local seja capaz de competir com a Boeing e com a Airbus;
- A imensa população chinesa leva algumas empresas locais a rapidamente se tornarem líderes mundiais em seus setores. A China Mobile Communications, de telefonia móvel, tem 665 milhões de assinantes, duas vezes a população dos EUA. Portanto, nunca uma empresa americana chegaria a esse número de clientes sem precisar se expandir para o exterior. Dentro dos EUA, o que elas podem conseguir é ganhar mais por causa do poder de compra mais alto dos consumidores.
http://blogs.estadao.com.br/radar-economico/2012/02/23/wsj-banco-mundial-preve-crise-do-modelo-chines-ate-2030/