Queria destacar a seguinte pérola:
No texto, Brossard – ex-ministro da Justiça, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, ex-senador e, hoje, advogado – argumentou que a figura de Cristo aparece nos tribunais porque ele foi injustiçado e lembra aos juízes os seus deveres de isenção.
— Cristo foi julgado seis vezes, três pelos romanos e três pelos judeus. Foram julgamentos nos quais não foi respeitado o rito processual. Pôncio Pilatos (o governador romano da Judeia), por exemplo, foi um juiz covarde. Lavou as mãos na hora de decidir — escreveu Brossard.
Primeiro: me espanta que ele realmente leve a sério toda essa história de julgamento, lavagem de mãos, etc. Questão pessoal dele, naturalmente, mas não deixo de me surpreender que alguém obviamente inteligente e culto como ele possa realmente aceitar os detalhes dos Evangelhos como se fossem História, e não "estória". Mas isso é só mais exemplo dos malabarismos mentais aos quais os crentes devem se submeter para persistir na sua fé.
Segundo: pelo que sei, é meio estranho afirmar que Jesus foi injustiçado. A própria Bíblia dá a impressão de que Jesus
sabia que seria condenado a morte e mais, que esse era o resultado que Jesus
esperava. Sem falar que, sendo Jesus supostamente onisciente, ele também saberia que ressuscitaria depois de três dias. Portanto, mesmo a morte seria, na pior das hipóteses um incômodo dolororso, mas passageiro. É possível então falar de injustiça nesse caso?
Terceiro: Até onde sei, Jesus estava sendo acusado de blasfêmia e os romanos delegavam julgamentos dessa natureza ao sinédrio. Ou seja, Pilatos nem mesmo tinha motivos para se manifestar a esse respeito. Daí ser injusto (heh) acusá-lo de "covardia". [1]
[1] Isso sem falar de inúmeras outras inconsistências históricas do texto bíblico. Mas isso é para outro tópico.