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Canhões na miraObras da Zona Portuária do Rio revelam mais um canhão do século XVII e aumenta o mistério sobre o processo de militarização da região. Enquanto isso, outras três armas, encontradas há um mês, foram removidas sem receber o tratamento adequadoFelipe Sáles12/3/2012 O quarto canhão encontrado sob a Rua Sacadura Cabral, Zona Portuária do Rio. Fotos: Divulgação/SMO O mistério dos canhões do século XVII descobertos durante as obras da Zona Portuária do Rio de Janeiro aumentou com uma nova arma na última quinta-feira (dia 8) – a quarta em um mês. Mais intrigante é que o equipamento foi encontrado em um local diferente das demais, onde também não há registros da existência de fortificações. Os achados arqueológicos mobilizaram a comunidade acadêmica e as autoridades cariocas, mas não tanto quando se tratou de oferecer os cuidados necessários para manter o armamento intacto: após um mês da descoberta, as outras três peças passaram apenas por um “trabalho de limpeza” – ação que, no entanto, só deveria acontecer após um processo de estabilização para evitar danos. O novo canhão foi encontrado na Rua Sacadura Cabral, próximo ao Largo da Prainha – a 18 metros das demais armas localizadas na mesma via. Agora já são quatro equipamentos: as duas primeiras foram achadas em 13 de fevereiro, e a terceira, no dia 24. Os canhões, que têm cerca de 1,50 metro de comprimento e foram identificadas como sendo do século XVII, são os mais antigos já descobertos no Rio de Janeiro – e possivelmente, no Brasil. Análises preliminares revelaram que eles não se enquadram em nenhuma estrutura de fortificação da cidade. Uma das suspeitas é de que eles faziam parte de uma bateria de canhões ao longo da praia, no pé do Morro da Conceição – como parte de um sistema de defesa que funcionava ao longo da costa para combater invasões às terras cariocas. O curioso, porém, é que esse tipo de armamento costuma seguir o mesmo padrão dos demais fortes e canhões da cidade, o que não acontece neste caso. Risco de danos As peças estão sendo armazenadas no Parque Noronha Santos, no Centro, onde fica a sede da Gerência de Monumentos e Chafarizes da Prefeitura do Rio. Segundo a Secretaria Municipal de Conservação, “os objetos foram colocados sob madeiras, em local coberto e sem umidade”. O órgão ressalta que o trabalho de limpeza contou com a orientação de técnicos do Iphan. Porém, o historiador e pesquisador do Iphan, Adler Homero Fonseca – especialista em armamento militar e um dos responsáveis pelos pareceres do instituto – afirma que os equipamentos até hoje não passaram pelo procedimento padrão capaz de evitar danos a relíquias históricas desse tipo. “O pessoal mais adequado para receber o material seria a prefeitura mesmo, mas só depois dos canhões estarem estabilizados – processo que consiste em aquecer os canhões a mais de 800 graus por um período de uma semana, para que o cloreto de sódio (sal marinho) que contamina o objeto seja expelido. A prefeitura não tem condições de fazer esse trabalho de estabilização, só o Museu Naval poderia dar o tratamento necessário”. O Iphan até hoje não emitiu um parecer prévio – que demoraria, no máximo, dois dias – sobre os canhões, o que seria capaz de dirimir, por exemplo, dúvidas sobre a origem dos equipamentos. O setor de tombamento do Departamento de Patrimônio Material de Fiscalização do Iphan – responsável por emitir tal parecer e por indicar os tratamentos necessários –, que existia há 75 anos, foi extinto no mês passado.Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional