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Os dois lados do mercado de trabalho na China
« Online: 10 de Abril de 2012, 16:58:34 »
Os dois lados do mercado de trabalho na China

As semanas de trabalho mais curtas e as remunerações mais altas prometidas em março pela maior fábrica contratada pela Apple, a Foxconn, significariam uma mudança fundamental no trabalho nas fábricas chinesas _ supondo-se que um número suficiente de trabalhadores poderá ser encontrado.

Há um número cada vez menor de operários dispostos a trabalhar nas fábricas chinesas. Essa escassez é uma causa importante dos turnos longos e das semanas de trabalho utilizadas pela indústria para atingir suas metas de produção, o que está levando a um aumento dos salários no coração industrial da China.

Isso não significa que o trabalho não seja cansativo e, muitas vezes, perigoso, conforme a Fair Labor Association, uma associação patronal de proteção dos direitos dos trabalhadores, afirmou em um relatório sobre a Foxconn, divulgado no dia 29 de março. Mas isso pode significar que, mesmo que a Foxconn tenha a intenção de cumprir sua promessa, o mercado de trabalho chinês pode não ter a capacidade de reagir rapidamente.

"Esse é um processo evolutivo", afirmou Ricardo Ernst, professor de logística global na Faculdade de Administração McDonough da Universidade de Georgetown. "Os Estados Unidos têm um ambiente de trabalho bastante particular, no que diz respeito a sua forma e suas condições, e não se deve necessariamente esperar que o mesmo ambiente de trabalho exista na Ásia amanhã de manhã."

Em muitas zonas industriais chinesas, a falta de operários já é tão grave que as fábricas têm dificuldade para encontrar um número suficiente de pessoas para que suas linhas de montagem funcionem. Com frequência, as fábricas pagam taxas para agentes que tentam recrutar operários assim que estes chegam em trens e ônibus de longa distância, vindos de províncias afastadas.

Em um início de tarde de março, em Guangzhou, a capital do distrito industrial da província de Guandong, cerca de 100 operários estavam parados do lado de fora dos portões cinza do complexo industrial de uma das muitas concorrentes da Foxconn na fabricação de produtos eletrônicos, a Liteon.

Atrás deles, estavam dezenas de agentes aguardando pelas taxas pagas pelas fábricas quando acham funcionários minimamente aceitáveis.

As taxas para os agentes podem equivaler a uma semana de trabalho de um operário, e fazem parte dos custos da fábrica, não são tiradas dos salários dos operários. Com frequência, os próprios operários também recebem um bônus por assinar os contratos, embora ele não passe do equivalente a um dia de salário.

Portanto, a despesa adicional na contratação de operários pode tornar mais barato simplesmente pedir que os funcionários façam horas extras, mesmo quando as fábricas atuam de acordo com as regras que exigem que os operários recebam o dobro pelas horas extras e o triplo pelas horas trabalhadas em feriados.

Contudo, muitos operários também querem turnos longos. A pesquisa realizada pela Fair Labor Association com os funcionários da Foxconn descobriu que 48 por cento deles acreditavam que seus turnos eram razoáveis e que 34 por cento, na verdade, preferiam trabalhar mais. Apenas 18 por cento disseram que os turnos eram longos demais.

Em entrevistas dadas ao New York Times ao longo dos últimos anos, operários de outras fábricas no sudoeste da China disseram, com frequência, que queriam turnos longos porque eram jovens, tinham pouco o que fazer durante as folgas, nos alojamentos das fábricas, e desejavam conseguir o máximo possível de dinheiro para poderem voltar a suas cidades natais.

Quando o governo chinês aplicou a atual lei limitando as horas extras, há quatro anos, isso gerou reclamações tanto entre os operários quanto entre as fábricas.

"A lei é extremamente restritiva", afirmou um negociante estrangeiro no sudoeste da China. Ele pediu que sua identidade não fosse revelada, pois temia que seus comentários fossem vistos como uma crítica ao governo.

A atual legislação chinesa, que entrou em vigor em 2008, exige o pagamento de horas extras para funcionários que trabalhem mais de 8 horas por dia e mais de 40 horas por semana. Os trabalhadores recebem o dobro pelas horas extras e o triplo nos feriados.

A Fair Labor Association acusou a Foxconn e a Apple de violarem repetidas vezes os limites dos turnos estabelecidos segundo a lei. As empresas agora dizem que irão assegurar a total conformidade com os máximos regulamentares até meados do ano que vem.

Geoffrey Crothall, porta-voz do China Labor Bulletin, uma organização sem fins lucrativos de Hong Kong, que procura firmar acordos coletivos e outras formas de proteção trabalhista para trabalhadores no interior da China, afirmou que há uma variação considerável entre o número de horas que os operários chineses desejam trabalhar.

"Se você conversar com os operários, compreenderá rapidamente que alguns deles desejam trabalhar um número mínimo de horas, apenas para se manterem, enquanto outros desejam trabalhar muito mais e ganhar mais dinheiro", afirmou. "O problema é que a Foxconn não permite que eles deem sua opinião a respeito."

A Apple e a Foxconn afirmaram que iriam preservar os salários de seus funcionários, mas que iriam eliminar o excesso de horas extras. Com os salários subindo até 15 por cento ao ano no sudeste asiático, a Foxconn pode ser capaz de fazer isso sem aumentar os salários no ritmo acelerado que havia previsto anteriormente.

O salário mínimo em Shenzhen, onde a Foxconn tem a maior parte de seus 1,2 milhão de funcionários, passou de 635 renminbi por mês em 2005 para 1.500 renminbi atualmente.

O aumento dos salários é ainda maior quando convertido para dólares, já que o valor do renminbi tem aumentado gradualmente nos mercados cambiais. O salário mínimo valia cerca de 80 dólares por mês em 2005, de acordo com a taxa cambial daquela época; já o salário mínimo atual vale cerca de 240 dólares por mês.

O aumento do preço dos alimentos foi responsável por parte desse aumento, mas os aluguéis cresceram vertiginosamente. O aluguel de um apartamento ficou mais caro para os operários, e eles precisam pagar até 30 dólares por mês por um quarto, ao invés de viverem nos alojamentos das fábricas. Mas, ainda assim, um número maior de operários está deixando os alojamentos e se mudando para apartamentos, à medida que seus salários aumentam.

Contudo, as expectativas dos operários cresceram ainda mais rapidamente, já que a internet possibilitou o acesso a imagens que mostram como famílias mais abastadas vivem em outras regiões da China e em outras partes do mundo.

Os funcionários da Foxconn muitas vezes ganham quase o dobro do salário mínimo. A empresa aumentou os salários de modo a mantê-los acima dos mínimos legais, mas os salários mais altos pagos pela Foxconn também refletem uma enorme quantidade de horas extras, segundo o relatório da Fair Labor Association.

Gao Qing, uma jovem de 21 anos vinda de Zhengzhou, no centro-norte da China, com um diploma de ensino médio, mas nenhum estudo complementar, ficou parada do lado de fora de um portão da fábrica, esperando para ser contratada em um dia de março. Ela afirmou que não era difícil encontrar um trabalho com salário mínimo, mas queria encontrar algo melhor.

"É difícil encontrar um bom trabalho", afirmou. "Mas é fácil encontrar um trabalho qualquer."

http://nytsyn.br.msn.com/negocios/os-dois-lados-do-mercado-de-trabalho-na-china

"That's what you like to do
To treat a man like a pig
And when I'm dead and gone
It's an award I've won"
(Russian Roulette - Accept)

 

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