Tópico: Governo ignora cientistas em debates importantes

[4 Ton Mantis]

http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1078316-governo-ignora-cientistas-em-debates-importantes.shtml


Justamente agora que o Brasil atingiu a 13ª posição na produção científica mundial, aumentou a quantidade de universidades federais e o número de pesquisadores, o país deu um "tiro no pé" reduzindo em 22% os recursos federais para ciência, diz a biomédica Helena Nader.

Para a presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), o governo erra ao ignorar o que a ciência nacional tem a dizer nos debates públicos sobre temas importantes, como o novo Código Florestal ou a conferência Rio+20.

Folha - Na semana passada a presidente Dilma afirmou que os cientistas deveriam ser avaliados também por patentes, além de produção científica. O que a sra. pensa disso?
Helena Nader - A universidade até pode fazer patente, mas esse não é o seu papel. O grande produtor de patentes deve ser a iniciativa privada. A Capes [Coordenação de Pessoal de Nível Superior] hoje pontua programas de pós-graduação com patentes. Mas querer que a universidade se responsabilize por patentes é um erro, mesmo que sejam feitas em parcerias com empresas. Essas parcerias ainda são muito frágeis.

Por que são frágeis?
As leis são problemáticas e deixam o cientista em uma posição vulnerável. Há problemas na interpretação das leis, como a Lei do Bem [de 2005, que trata prioritariamente de pesquisa em empresas].

Hoje, um professor com dedicação exclusiva em uma universidade pode, pela legislação, dedicar um dia por semana para um projeto em parceria com uma empresa. Mas isso pode causar problemas no Ministério Público, que entende que ele está deixando de fazer pesquisa e ensino. O professor concursado pode colocar em risco a carreira dele. Precisamos de uma legislação mais clara.

O Código Nacional de Ciência e Tecnologia, que tramita no congresso desde setembro do ano passado, resolveria isso?
Essa proposta é fantástica. Mas o texto ainda está sendo aprimorado [o texto compila leis atuais ligadas à pesquisa, relacionadas por exemplo à importação e compra de equipamentos]. A questão é que no Brasil as empresas multinacionais quase não fazem ciência, diferentemente do que acontece na Índia e na China. O Brasil precisa ter mais pesquisa e desenvolvimento nas empresas.

<a href="http://Mas as empresas costumam alegar que falta mão de obra para fazer pesquisa no Brasil." target="_blank" class="new_win">http://Mas as empresas costumam alegar que falta mão de obra para fazer pesquisa no Brasil.</a>
Houve um aumento grande no número de cientistas nos últimos 20 anos, mas ainda não foi suficiente. No entanto, aqui temos cientistas de primeira. Nós não existíamos como ciência pesada há 20 anos! Isso aconteceu nas universidades e nos institutos de pesquisa. E não adianta dizer que os cientistas das universidades são voltados à ciência básica [produção do conhecimento] e não à ciência aplicada [que gera produtos e inovações] porque essa polarização é fictícia. As duas formas de pesquisa se complementam.

A SBPC tem se manifestado recorrentemente em relação ao corte de 22% de recursos federais à ciência. Houve algum retorno do governo?
Por enquanto, nada. Só se essa resposta estiver sendo formulada agora, enquanto estamos conversando (risos). E os números dos cortes ainda serão piores. Se o PIB (Produto Interno Bruto) crescer, a porcentagem destinada à ciência ficará menor ainda. O "PAC da Ciência" previa 1,8% para ciência em 2015. Isso não vai acontecer. Nós tiramos o chapéu quando o presidente Lula criou universidades federais. Essas instituições têm professores com, no mínimo, doutorado. Agora que a ciência tem força, nós cortamos o dinheiro?

A SBPC também tem brigado para alterar o texto do Código Florestal, que deve ser votado na semana que vem. Os cientistas estão sendo ouvidos?
Os cientistas não são ouvidos pelo governo porque não temos uma "bancada de cientistas" no Congresso, como têm os ruralistas. A ciência nacional cresceu e se fortaleceu, temos pesquisadores sendo disputados por instituições de pesquisa respeitadas em todo o mundo. Agora os cientistas deveriam ser ouvidos. Nós temos uma proposta para o Código Florestal, assim como temos um material que levaremos para discussão na Rio+20. Deveríamos ser mais ouvidos.

SAIBA MAIS

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência foi fundada em 1948, com um grupo inicial de 265 sócios que incluía nomes como o microbiologista José Reis (1907-2002), um dos criadores do jornalismo científico no país e colunista da Folha. A instituição seguia os moldes de outras sociedades similares já existentes no exterior.

A SBPC criou em 1982 a revista "Ciência Hoje", um dos primeiros e mais influentes órgãos de divulgação científica no Brasil. Durante a ditadura militar, o órgão ajudou a fortalecer a pressão da sociedade civil pela redemocratização.

Hoje, a SBPC tem o papel de agregar cerca de cem sociedades científicas e soma em torno de 10 mil sócios ativos. Membros da instituição participam de mais de 20 comissões e conselhos do governo federal.

O órgão faz uma reunião anual, a cada ano numa região diferente do país, que funciona como um grande congresso científico, com apresentação de pesquisas de várias áreas. Também há reuniões regionais.

[D|V]

Os cientistas não são ouvidos pelo governo porque não temos uma "bancada de cientistas" no Congresso, como têm os ruralistas.

Falou tudo aqui. Há tempos nota-se que o Congresso não está lá pra defender os interesses do povo, e sim os interesses próprios. Cada bancada votando de acordo com o que é melhor para sua patotinha. Não é a toa que cientistas, técnicos, especialistas não são ouvidos a respeito de nenhum tema, porque não importa o que eles tem a dizer, isso não vai mudar os interesses daqueles que estão votando.

[SnowRaptor]

Os cientistas não são ouvidos pelo governo porque não temos uma "bancada de cientistas" no Congresso, como têm os ruralistas.

Falou tudo aqui. Há tempos nota-se que o Congresso não está lá pra defender os interesses do povo, e sim os interesses próprios. Cada bancada votando de acordo com o que é melhor para sua patotinha. Não é a toa que cientistas, técnicos, especialistas não são ouvidos a respeito de nenhum tema, porque não importa o que eles tem a dizer, isso não vai mudar os interesses daqueles que estão votando.

Muito bem colocado.

[Pregador]

Os cientistas não são ouvidos pelo governo porque não temos uma "bancada de cientistas" no Congresso, como têm os ruralistas.

Falou tudo aqui. Há tempos nota-se que o Congresso não está lá pra defender os interesses do povo, e sim os interesses próprios. Cada bancada votando de acordo com o que é melhor para sua patotinha. Não é a toa que cientistas, técnicos, especialistas não são ouvidos a respeito de nenhum tema, porque não importa o que eles tem a dizer, isso não vai mudar os interesses daqueles que estão votando.

Muito bem colocado.

Pois é, mas quantos são os cientistas num Estado como o Paraná? Duvido que sejam suficientes para elegerem um único deputado federal, isso considerando uma fidelidade total.

Acho que seria, talvez mais viável, tentar uma mobilização por uma bancada dos "professores", de todos os tipos, que entre outras coisas, defenderiam os interesses da comunidade acadêmica, e por tabela da ciência e da tecnologia.

[Cumpadi]

Pois é, mas quantos são os cientistas num Estado como o Paraná? Duvido que sejam suficientes para elegerem um único deputado federal, isso considerando uma fidelidade total.

Acho que seria, talvez mais viável, tentar uma mobilização por uma bancada dos "professores", de todos os tipos, que entre outras coisas, defenderiam os interesses da comunidade acadêmica, e por tabela da ciência e da tecnologia.

Se o "interesse" da comunidade científica passar por cima do interesse da população que financia as coisas (come ocorre no Brasil, dinheiro da população é jogado sobre a "ciência"), não acho isso certo. Nosso governo já gasta demais para ficar jogando mais dinheiro em cima de bobagens, ainda bem que não temos mais uma bancada de mais uma minoria que se impõe, usando-se de politicagem improdutiva para defender seus interesses. Nossa ciência/ educação é relativamente improdutiva pois ela se volta para interesses políticos (leia-se aqui conseguir votos) e pela nossa economia fraca e pouco competitiva, não pela falta de defesa dos interesses dos cientistas na câmara.

[SnowRaptor]

Deixa eu ver se eu entendi.

Você está dizendo que investir em ciência é bobagem porque o governo já gasta muito dinheiro com outras coisas, portanto é melhor não investir em ciência do que controlar os gastos em outras áreas, como infraestrutura e suas obras supervalorizadas?

[Cumpadi]

Deixa eu ver se eu entendi.

Você está dizendo que investir em ciência é bobagem porque o governo já gasta muito dinheiro com outras coisas, portanto é melhor não investir em ciência do que controlar os gastos em outras áreas, como infraestrutura e suas obras supervalorizadas?

Não, é melhor não começar o que não deveria começar, e acabar com o que não deveria ter começado. Como sabemos, não adianta nada haver prostitutas formadas em física como em Cuba, é necessário que os interessados em projetos de física os financie, e não a população que sequer entende o que é feito com seu dinheiro.

[SnowRaptor]

Não estou feliz coma  resposta, mas estou ocupado demais para replicar à altura.

[Titoff]

Também não entendi direito. A questão do código florestal, para seguir o exemplo, é que deveria se ter a visão técnica/científica do que é mais adequado e não de cientistas tentando conseguir votos ou verbas para suas pesquisas.

Procurar alocar melhores verbas para pesquisas é outra questão que não tem nada com o exemplo citado.

Nossa ciência/ educação é relativamente improdutiva pois ela se volta para interesses políticos (leia-se aqui conseguir votos) e pela nossa economia fraca e pouco competitiva, não pela falta de defesa dos interesses dos cientistas na câmara.

Hein?

[Dr. Manhattan]

Deixa eu ver se eu entendi.

Você está dizendo que investir em ciência é bobagem porque o governo já gasta muito dinheiro com outras coisas, portanto é melhor não investir em ciência do que controlar os gastos em outras áreas, como infraestrutura e suas obras supervalorizadas?

Não, é melhor não começar o que não deveria começar, e acabar com o que não deveria ter começado. Como sabemos, não adianta nada haver prostitutas formadas em física como em Cuba, é necessário que os interessados em projetos de física os financie, e não a população que sequer entende o que é feito com seu dinheiro.

Do jeito que você diz, parece até que o governo gasta muito com pesquisa... E o que você, e muita gente de fato, não entende, é que não é possível controlar os resultados de uma pesquisa. Toda pesquisa é uma aposta. As empresas, por terem fins lucrativos, e cujos CEOs precisam dar satisfação aos acionistas, costumam fazer apostas mais seguras: "vamos aperfeiçoar um processo X de síntese de fármacos e com isso obter um aumento de 5% na nossa margem de lucro no próximo anos." Somente as empresas grandes, como IBM, Microsoft e Google, são capazes de fazer apostas mais arriscadas: "vamos tentar criar um novo dispositivo que, Se funcionar, nos dará um aumento da margem de lucro de 150% daqui a 15 anos." É por isso que no mundo inteiro os governos investem em pesquisa básica. Em 1920, as questões de Física Nuclear eram algo restrito aos debates acadêmicos, típica obsessão de nerds; 25 anos depois ela demonstrou sua relevância na vida do cidadão comum. Simplesmente não podemos prever qual nova descoberta da pesquisa básica vai desaguar na coluna de política ou de negócios dos jornais.

E outra coisa: uma motivação importante para se investir em ciência básica é a pura e simples geração de conhecimento. Não estamos aqui apenas para comer, dormir e assistir TV. Fazemos ciência pela mesma razão porque fazemos arte - é uma característica do ser humano ser curioso. Se quiser reclamar de gastos inúteis, então reclame do gasto com salários no senado, ou com os cartões corporativos do executivo.

[Dr. Manhattan]

Nossa ciência/ educação é relativamente improdutiva pois ela se volta para interesses políticos (leia-se aqui conseguir votos) e pela nossa economia fraca e pouco competitiva, não pela falta de defesa dos interesses dos cientistas na câmara.

Hein?

Acho que nem ele sabe o que quis dizer...

[Cumpadi]

Nossa ciência/ educação é relativamente improdutiva pois ela se volta para interesses políticos (leia-se aqui conseguir votos) e pela nossa economia fraca e pouco competitiva, não pela falta de defesa dos interesses dos cientistas na câmara.

Hein?

Acho que nem ele sabe o que quis dizer...

Explico melhor: ela é voltada para propagandismo, para políticos dizerem que estão "investindo" em educação/ pesquisa, para eles dizerem que o Brasil está produzindo x vezes mais "ciência" (apesar do impacto estar sendo y vezes menor). Aliás vem daí o motivo deles não quererem enfiar mais dinheiro em pesquisa: não dará muito mais votos/ real desperdiçado.

[Dr. Manhattan]

Nossa ciência/ educação é relativamente improdutiva pois ela se volta para interesses políticos (leia-se aqui conseguir votos) e pela nossa economia fraca e pouco competitiva, não pela falta de defesa dos interesses dos cientistas na câmara.

Hein?

Acho que nem ele sabe o que quis dizer...

Explico melhor: ela é voltada para propagandismo, para políticos dizerem que estão "investindo" em educação/ pesquisa, para eles dizerem que o Brasil está produzindo x vezes mais "ciência" (apesar do impacto estar sendo y vezes menor). Aliás vem daí o motivo deles não quererem enfiar mais dinheiro em pesquisa: não dará muito mais votos/ real desperdiçado.

Com que base você faz tal afirmação? E o que você quer dizer com "improdutiva"?

[Cumpadi]

É por isso que no mundo inteiro os governos roubam dinheiro da população para reaplicá-lo em pesquisa básica. Em 1920, as questões de Física Nuclear (que poderiam muito bem ter sido feita por empresas privadas) eram algo restrito aos debates acadêmicos, típica obsessão de nerds; 25 anos depois ela demonstrou sua relevância na vida do cidadão comum. Simplesmente não podemos prever qual nova descoberta da pesquisa básica vai desaguar na coluna de política ou de negócios dos jornais.

Pronto, corrigi certos trechos.

E outra coisa: uma motivação importante para se investir em ciência básica é a pura e simples geração de conhecimento. Não estamos aqui apenas para comer, dormir e assistir TV. Fazemos ciência pela mesma razão porque fazemos arte - é uma característica do ser humano ser curioso. Se quiser reclamar de gastos inúteis, então reclame do gasto com salários no senado, ou com os cartões corporativos do executivo.

Concordo 100%, investir em ciência básica é uma motivação por si só, por isso os acionistas das empresas poderiam muito bem pegar seu dinheiro e investir em projetos/ empresas que fizessem pesquisas que os agradarem (aliás, não só os acionistas, como toda a população). E concordo plenamente que jogamos dinheiro fora no senado, aliás jogamos muito dinheiro fora com muitos funcionários públicos que assim como os índios, que não tem o que fazer (terra eles já tem de sobra, vontade de produzir é o que falta), e ficam chorando para mamar nas tetas do governo.

[Zóio de Vidro]

Quanta barbaridade num tópico só.
Quer dizer que dinheiro vai pra voto vir? Tudo funciona assim?  Que visão mais parca!
 
O dinheiro para pesqusa normalmente vem da iniciativa privada. O lado negro disso está no condicionamento da linha de pesquisa aos interesses destas empresas. Quanto menos $ do poder público, mais dependente do capital privado a nossa ciência fica.

[Luiz F.]

A conta é simples: Acabando com os governos o mundo vira um paraíso. Simples e claro.