Eu não acho que isso tenha necessariamente a ver com a mulher ser vista como "propriedade do macho", ainda que isso possa acontecer, sem dúvidas. Mas praticamente sempre a explicação mais geral/menos específica é a mais certa (as mais específicas requerem evidência mais rigorosa), e esses casos "são violência", as pessoas cometem atos de violência contra outras pessoas em todo lugar do mundo, e quando a violência é de homem contra homem, o que provavelmente é a maior parte da violência de pessoa contra pessoa, não se tenta essas explicações psicanalíticas de "eles se acham donos dos outros homens".
Penso que é um erro se tentar explicar isso como algo fundamentalmente diferente da violência "intrasexual". Tem elementos particulares, mas é arriscado se criar uma perspectiva distorcida se "isolamos" demais a violência homem-mulher, em vez de considerarmos como um outro "subconjunto" no conjunto contingente geral de "violência", havendo até o risco de "esquecer" que ela existe. Com isso não quero minimizar em nada a gravidade desses casos, nem fazer um ponto do tipo "coitadinhos dos homens, as maiores vítimas, e esquecidas", é só uma preocupação técnica/teórica sobre a abordagem que se usa para tentar entender a coisa.
Exemplo do que quero dizer: a colocação do Iabadabadu me parece análoga a se pegar casos de pais que mataram os filhos e dizer algo como "no mundo todo, as crianças são vistas como propriedade dos pais", ou a partir de casos como da Suzanne Hichtoffen, algo como, "no mundo todo, a burguesia vê as pessoas, até os próprios pais, como objetos descartáveis." "Resumindo, toda violência se explica pela aceitação dos valores capitalistas pela sociedade. Se acreditamos na propriedade privada (mesmo sem evidências da existência da mesma), a conseqüência lógica é sim a competição selvagem rumo ao topo, onde as outras pessoas são apenas ferramentas, degraus a serem pisados, ou obstáculos a serem destruídos."