Numa nota de pé de página Marx faz uma observação que acho pertinente sobre o carisma monárquico , mas extensiva às outras formas de fascínio político ( caudilhos , ditadores , pais-da-pátria:
É curioso o que sucede com essas conceituações reflexas. Um homem, por exemplo , é rei porque outros com ele se comportam como súditos. Esses outros acreditam que são súditos, porque ele é rei.
Observação que resume La Boétie , que no início do seu Discurso da Servidâo Voluntária pergunta no mesmo tom:
Por hora gostaria apenas de entender como pode ser que tantos homens , tantos burgos , tantas cidades , tantas nações suportam às vezes um tirano só , que tem apenas o poderio que eles lhe dão , que não tem o poder de prejudicá-los senão enquanto têm vontade de suportá-lo , que não poderia fazer-lhes mal algum senão quando preferem tolerá-lo a contradizê-lo. Coisa extraordinária , por certo; e porém tão comum que se deve mais lastimar-se do que espantar-se ao ver um milhão de homens servir miseravelmente , com o pescoço sob o jugo, não obrigados por uma força maior , mas de algum modo (ao que parece) encantados e enfeitiçados apenas pelo nome de um, de quem não devem temer o poderio pois ele é só , nem amar as qualidades pois é desumano e feroz para com eles.