Na verdade, o principal inconveniente que eu vejo nessa visão não é nem a questão do sado-masoquismo embora ela também exista. A principal objeção que eu tenho dessa visão é que no fundo, egoismo espiritual, pelo menos nos casos em que o martirizado se recusou a uma retratação religiosa verbal ou a esse tipo de coisa leve ou mesmo ter se recusado a fugir antes ou a se esconder o suficiente e por isso foi martirizado. Alguns mártires cristãos assassinados por comunistas, anarquistas e islâmicos no século XX foram desse tipo.
Agora me parece que nesse caso, seria mais caridade espiritual fazer a falsa retratação, ou fazer a coisa leve a fazer ou ter fugido, ou ter se escondido. Pois por mais que os algozes fossem maus e provavelmente fizessem outras vitimas, sempre diminuir um pouco a quantidade de vitimas de cada um faz já alivia um pouco a sua situação espiritual.
Com essa visão, o que se recusou a se retratar, fazer outra coisa leve, fugir, se esconder, etc.... na verdade quis toda a glória espiritual para si, e só piorou a situação espiritual dos com problemas.
E nos livros de Emmanuel também há essa visão e isso em relação aos primeiros mártires feitos pelos romanos. Só que nesse caso ainda há a incongruência a mais de considerar que em alguns casos os que sofrem atrocidades são inocentes e em outros é uma questão de karma. E num caso desses, justamente a resposta que se poderia prever para isso, que foram os que procuraram mesmo a encrenca, não se escondendo quando podiam, não fazendo uma retratação verbal, etc....é que eram inocentes. Só que para mim, isso só mostrar que eram mais egoístas espirituais do que os outros.
É claro que em termos políticos é diferente, ser um mártir político é diferente e também ser uma vitima de preconceito por ser rico, de classe média,tecnocrata, pobre conservador,o equivalente a desempregado etc..... Mas eu estou falando da visão católica de glorificar mártires que o foram pelo motivo especifico de catolicismo, enquanto acham que os martirizadores vão ficar no inferno, pelo menos no inferno da depressão eterna do seu espírito quando morrer. Num caso desses, não fazer o máximo possível para evitar esse destino para o que quer martirizá-lo, é na verdade, um egoísmo espiritual.
E nos livros de Emanuel há muito disso, e não só na questão do martírio de arena, também ha casos de auto-calunia para supostamente "proteger' à um parente ou à família,embora nessa caso gratuitamente . Além disso ser insano, na verdade isso só piora a situação espiritual da pessoa ou das pessoas a quem ele quer "ajudar" isso aconteceu em dois livros "Cinquenta anos depois" e "Há dois mil anos". E também no livro "Renúncia" a Alcione, ficou em Paris, oficialmente não denunciado a Susana que 21 anos antes, tinha feito uma falsa certidão de morte para a mãe da Alcione e dito que a neném (a Alcione) havia morrido, para os parentes e para o pai da Alcione que estavam em outro lugar e com isso depois ela casou com o pai da Alcione, e a mãe da Alcione e a Alcione neném ficaram sozinhas, com pouco recursos financeiros e ainda com a mãe da Alcione tendo acabado de sair da varíola, com alguns problemas nas pernas. Depois elas foram para a Espanha, enquanto a Susana e o pai de Alcione e os outros parentes foram para a América anglo-saxônica, futuro Estados Unidos. Depois os dois grupos voltaram para a França e acabaram se encontrando e num caso desses a Alcione acabou sendo cuidadora da irmã mais nova, 8 anos mais nova de que ela, que tinha 13 anos enquanto a Alcione tinha 21. Ela descobriu a verdade, mas nem quis denunciar, nem quis sair da França para voltar para a Espanha. Se julgava (e o livro a descreveu assim) como um santa por viver como emprega na casa do pai sem denunciar. Só que isso era só egoísmo espiritual, pois é claro que não daria para esconder eternamente isso. Então eles acabaram descobrindo, justo quando a mãe da Alcione estava expirando. Quanto isso aconteceu a Susana já adorava a Alcione, ao contrário do começo em que a Susana implicava com a Alcione mas depois da Alcione cuidar com o maior carinho da Susana quando ele estava doente, a Susana passou a gostar muito dela, e também a Alcione tinha começado a participar das reuniões religiosas semanais do lar, e a Alcione a tinha impressionado assim como a todos, com sua espiritualidade. Aí a Susana se sentiu com o dever de confessar tudo para a família, e ela que já vivia muito perturbada psicologicamente com essa culpa, surtou de vez e além disso também porque o Cirilo, seu marido e pai da Alcione morreu com o choque da revelação o que aumentou ainda mais o remorso da Susana, enquanto a Alcione recusou a herança e o reconhecimento externo da sua condição. E a Susana que apesar do surto ainda conseguiu perceber isso, ficou ainda mais humilhada, e sem nem sequer que isso impedisse que dentro de casa mesmo todos soubessem da verdade e isso já fosse uma humilhação para a Susana. E depois que o pai da Susana morreu ela deixou a sua fortuna para a Alcione, e ela acabou recebendo o equivalente à sua herança do mesmo jeito....
Ainda houve uma história de que ela se recusou a casar com um ex-padre, porque ele tinha sido padre (ela conheceu ele quando ele ainda o era) e depois quando ele deixou de ser, ela falou que não podia, nem explicou para ele o porque (ela estava inventando intimamente que tinha um dever para com seu pai, irmã e até com a Susana e os parentes da Susana, afinal de contas parentes de sua irmã) só que não deu tempo de falar para ele, pois ele ficou tão decepcionado que já foi saindo e ela nem mandou uma carta para ele para explicar. Depois ele se meteu num casamento desastroso e a esposa o traiu e ele virou inquisitor e acabou degradado moralmente.
Quer dizer, a Alcione foi infeliz e ainda atrapalhou na verdade a vida da Susana e do Carlos, e tudo só por uma visão de vida do martírio que no fundo é uma arrogancia e excesso de orgulho espirtual, de querer ser só ela a "boazona espiritual" ainda mais considerando que ela acreditava em vida após a morte.
No entanto o livro e os espíritas, falam que é um "ótimo exemplo de vida" a Alcione....
Exemplo isso sim, de sado-masoquismo e o que é pior, de egoismo espiritual, embora travestido de generosidade e martírio.