Vamos retomar o assunto:
Considerar que a ditadura cubana é pior do que foram a ditadura chilena ou argentina , baseado nos números de mortos , é uma falácia que leva a conclusões bastante pitorescas.
Se o número de mortos por um regime ditatorial é o que leva a defini-lo como pior ou melhor então , a partir da década de 60 , era muito melhor e menos opressivo se viver na URSS ou na Polônia ou na Tchecoslováquia ( mas não na Alemanha Oriental , Bulgária ou Romênia) que em qulaquer ditadura de direita na América Latina.
Baseado no mesmo critério de contagem de corpos alguns neste forum consideraram a ditadura militar brasileira como "ditamole" sem sequer notarem que , por coerência , deveriam então sequer considerar o regime soviético no mesmo período como ditadura...
Se é o grau de violência
física que é usado para determinar o grau de opressão de uma ditadura a pergunta não deveria ser "quantos foram mortos pela ditadura X" pois isto leva ao problema de incluir os mortos em combate contra a ditadura junto com os mortos após prisão , não leva em consideração os que foram torturados mas sobreviveram nem os que foram exilados ou perderam empregos. Aos que querem utilizar o critério das mortes pela ditadura sugiro que a pergunta a ser feita seja: "Qual a probabilidade de um oposicionista ao regime ser morto?"
Mas acho que está claro que considero um critério falacioso o julgamento do grau de opressão de uma ditadura
apenas pelo número de oposicionistas mortos sem levar em consideração todas as formas outras de opressão utilizadas , ou então veremos o quase negacionismo de achar que a ditadura brasileira , ou soviética ( de 1956 a 1991) ou o fascismo italiano foram "lights"...
A maior violência física em uma ditadura se dá , habitualmente , em sua instalação - quando a oposição tem que ser sufocada e as novas instituições repressivas consolidadas - e ( em alguns casos ) próximo a sua derrocada , quando a oposição consegue se tornar forte o suficiente para se contrapor ao regime mas este ainda tem apoio suficiente para não cair de maduro.
Ditaduras estabelecidas e que conseguiram um grau de aceitação ( geralmente associado a um grau de apatia política) na população aliado à eliminação de grupos de oposição efetiva não precisam recorrer à violência física para a manutenção de seu domínio , as ferramentas "administrativas" (perda ou negação de acesso a empregos , intimidações, detenções , exílio...) habitualmente são suficientes.
O caso da Tchecoeslováquia poś-68 é bastante claro: na sufocação da Primavera de Praga o número de mortos pela invasão soviética e pelo regime posterior não dá dez pessoas. Foi um regime brando? Milhares foram levados ao exílio , os intelectuais e profissionais que se recusavam a fazer "autocrítica" e se domesticarem eram proibidos de residir na capital e tinham que se contentar com empregos braçais ( o própio Alexander Dubcek , secretário geral deposto do PCT , passou a trabalhar como guarda-florestal) , o acesso a moradia era regido por critérios de conformidade política , qualquer suspeita ( ou nem mesmo isso) era motivo para ser chamado para dar explicações e sofrer intimidaçoes , familiares de indivíduos "não-confiáveis" eram discriminados a não ser que os renegassem ostensivamente... Este mesmo padrão era vigente na URSS e demais países do Leste Europeu. Isto é "light"?
Todas as ditaduras não são iguais em seu grau de repressao política , mas
todas são repressiva , todas eliminam ou cerceiam as liberdades fundamentais do cidadão e , portanto , todas são detestáveis e merecem ser derrubadas. Mas olhar apenas a violência física ( especialmente as mortes) é um critério falho pois frequentemente esta é apenas a ponta do iceberg da opressão social e política.
É melhor mesmo abrir esse tópico para não desviar mais o tópico sobre a Argentina. No caso de gente decente (ou talvez seja o caso de sem falsa consciência sobre o assunto) como o DDV dá para debater. Mas eu não vou responder e nem sequer ler a sem-vergonhas (ou o que é pior, doentes de falsa consciente mas de boa fé). E aconselho que o resto da gente decente (ou sem falsa consciência) do forum faça o mesmo.
Este seu parágrafo obviamente se refere ao meu post no seu tópico da questão racial na Argentina. Devo te dizer três coisas:
- Estou mantendo o debate neste tópico ( também não gosto de off-topics) pois discordo das suas afirmações.
-O seu último parágrafo do seu primeiro post no tópico da Argentina continua não tendo relação lógica com os demais parágrafos.A minha colocação lá continua válida.
-Será a última vez que tolerarei ver o termo sem-vergionha ou indecente aplicado a mim , que estou discutindo calma e racionalmente com vocẽ. Se não concorda com minhas posições (também não concordo com as tuas) é normal em um debate e direito de cada um. Mas a proxima falta de respeito para comigo denunciarei à moderação.