Sobre bois e demônios
Emmanuel fiscalizava não só as palavras ditas por Chico Xavier como também, e principalmente, as escritas. Vetava, sem piedade, "idéias impróprias". Até Humberto de Campos sofreu censura espiritual. Tudo porque assinou, através de Chico, artigo sobre um dilema já em alta naquela época: o homem deve ou não comer carne?
Para responder à questão, Humberto contou a história de um anjo encarregado por Deus de fazer um relatório sobre a Terra. Chegou aqui e encontrou um animal arando o campo, açoitado por uma espécie de demônio. Depois, viu outro animal no curral, com outro demônio espremendo suas tetas e tirando leite, em prejuízo do filho dele, que berrava à distância. Mais tarde, viu um enorme animal sendo morto, suas carnes sendo comidas pelos pequenos demônios e seu couro sendo usado em calçados. Era o bastante. Ele anotou no seu bloco:
O homem é um ser muito elevado, bom e paciente, merecedor do amor de Deus.
E decidiu conversar com o demônio:
- Por que fazes isto com o homem? Por que o maltratas e o matas se ele te dá tudo?
O demônio desfez o mal-entendido:
Eu sou o homem. Ele é o boi.
O anjo ficou perplexo e enviou o mais rápido possível seu relatório a Deus.
Emmanuel apareceu, leu a parábola e mandou Chico rasgar o texto em pedacinhos. Os espíritas poderiam ser influenciados por aquela história. Muitos deles, inclusive Rômulo Joviano e Chico Xavier, funcionários da Fazenda Modelo, trabalhavam com a carne e ganhavam a vida assim. O artigo poderia provocar problemas sociais mais graves do que os gerados pela alimentação carnívora.
(do livro “As Vidas de Chico Xavier”, de Marcelo Souto Maior)