Como os novos filmes e games de Batman resgataram a honra do Homem-MorcegoCom os filmes de Christopher Nolan e os games da Rocksteady Studios, Batman finalmente ressurgiu das cinzas.Ao lado do Homem-Aranha e um eventual Conan, Batman foi meu grande amigo de infância, quando eu mergulhava nas velhas pilhas de quadrinhos do meu pai para explorar mundos muito mais legais que o meu. Mas nunca consegui gostar do Batman que o cinema, a TV e os games tentavam me enfiar goela abaixo. Pelo menos não até pouco tempo atrás, quando os filmes de Christopher Nolan e os jogos da Rocksteady Studios começaram a mudar as coisas.
Até então, o Batman dos cinemas era um cara meio esquizofrênico, às vezes tentando copiar o estilão de sua versão dos HQs, às vezes simplesmente sendo ridículo, cafona e um tanto vergonhoso. Nas séries animadas da Warner, ele não trazia nada de novo. E nos games, onde eu achava que poderia realizar o sonho de assumir o fardo de Bruce Wayne e limpar Gotham do mal, o máximo que conseguia era um Ninja Gaiden ou um Streets of Rage com skins do Batman (DLC no Nintendinho?). Era divertido, mas só.
Batman é um mito, uma lenda, já faz parte do nosso inconsciente coletivo. Mas ele não funcionava bem fora de seu habitat natural até que algumas pessoas espertas percebessem que, como um mito, o Morcego não precisa ser apenas um amontoado de referências às suas raízes centenárias.
O Cavaleiro das Trevas, como Nolan deixa bem claro em um dos pilares ideológicos de sua excelente trilogia de filmes, é uma ideia. Ele pode ser qualquer coisa, qualquer um. E foi assim que Batman, depois de 70 anos de vida, conseguiu finalmente conquistar o cinema e os games (as animações continuam sendo apenas reproduções mais acessíveis do que já vimos nos quadrinhos, mas tudo bem).
Em 2005, Christopher Nolan nos apresentou um Bruce Wayne mais maduro, mais complexo. Diferente do amontoado de clichês quadrinescos de Tim Burton e da bizarrice grotesca de Joel Schumacher, esse Batman se apropriava do que era necessário em suas raízes para formar algo novo, algo diferente, algo que nunca havíamos visto. Ele não queria simplesmente agradar os fã já na meia idade dos quadrinhos clássicos, nem os fãs nervosinhos da era da internet. Ele queria ser interessante, convincente e compreensível para todos que conheciam o herói. E acabou agradando quase todo mundo com isso.
Praticamente ao mesmo tempo, uma tal de Rocksteady fazia o mesmo com o Batman dos games. Em 2009, quando Arkham Asylum foi lançado, nós finalmente pudemos realizar aquele sonho antigo de ser o Homem-Morcego – e não apenas controlá-lo. Finalmente, um jogo do Batman que realmente valia a pena ser jogado.
Antes de Arkham Asylum, tínhamos o fim da era de ouro dos bons jogos do Homem-Aranha, que começou com Spider-Man 2 para PlayStation e terminou com a adaptação para os games do filme Spider-Man 2, lançado em 2004. Sequer ouvíamos falar do Batman dos games – exceto em uma ou outra piada com Dark Tomorrow.
Talvez tenha sido um pouco de sorte em escolher a época certa, combinada com as baixas expectativas de todos os fãs, que fez Arkham Asylum ter tanto sucesso. Mas é impossível ignorar a qualidade do trabalho da Rocksteady em fazer nos games algo semelhante ao que Nolan fez em sua trilogia: reconstruir a lenda de um dos maiores heróis de todos de forma competente, inteligente e pensada especificamente para a mídia em que seria apresentada.
O Batman de Arkham Asylum é bem diferente daquele dos quadrinhos. E também é muito diferente daquele de Nolan. Sua personalidade é menos forte. Seu passado, menos preponderante na formação de seu heroísmo. Suas falas, consideravelmente menos relevantes. Ele é feito sob medida para que possamos entrar debaixo daquele uniforme para assumir o papel que nos cabe como heróis daquela história. E apesar de o Batman de Arkham City já ser um tanto mais engessado, ele ainda é livre para fazer o que quisermos que ele faça.
Enquanto isso, tudo ao redor do herói ganhava maior destaque. O asilo Arkham é mais ameaçador, sufocante. Os seus parceiros são mais carismáticos e os vilões são fortes o bastante para roubarem, em muitos momentos, o holofote do herói da trama. Afinal, são essas coisas que nos motivam a continuar jogando: bons vilões, grandes desafios e uma ambientação. E os jogos da Rocksteady trazem esse pacote completo, às vezes tão completo a ponto de exagerar na dose.
Claro, nada é perfeito. The Dark Knight Rises é o elo mais fraco da corrente que Nolan construiu; Arkham City tem sua gama de problemas. Mas temos um Heath Ledger e um Mark Hamill com suas versões, ambas maravilhosas, do Coringa. Temos duas Mulher-Gatos primorosas (Anne Hathaway, sua linda). E temos novas formas de explorar, imaginar e curtir Gotham, Batman e todas aquelas lendas que cercam esse herói. E isso é bom demais.
Eu espero que não voltemos nunca para a era de jogos adaptados de filmes que foram adaptados de gibis. Ainda vemos isso o tempo todo no lado Marvel da brincadeira – que descobriu como fazer bons filmes mas, desaprendeu a fazer o mesmo nos games -, e provavelmente ainda vamos ver isso acontecendo de novo com Batman, Flash, Mulher-Maravilha, Super-Homem e companhia limitada, agora que a DC descobriu a mina de ouro e quer fazer um monte de filmes de herói até chegar em na Liga da Justiça, seu próprio “Os Vingadores”.
Mas, se isso acontecer, pelo menos vamos poder falar para as futuras gerações que “na nossa época o Batman dos games era mais legal”. Mais ou menos como nossos velhos falam sobre o Batman dos gibis. Se não funcionar, a gente busca consolo na Feira da Fruta (mesmo que seja só em quadrinhos).
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