Tá bom! Vá lá... Concordo que o filme foi feito "de propósito". Aquele bosquímano ou é um ator ou foi treinado para ser um ator.
Contudo, vejo no seu discurso algo ultrapassado, ele parece um discurso modernista.
O que é o Pós-modernismo?
O Pós-modernismo é o fim de todas as ilusões. Esse filme mesmo não é um filme pós-moderno, porque hoje, na perspectiva pós-moderna, até mesmo o trabalho de campo do antropólogo é questionado.
Mas ainda assim, o filme deixa entrever aspectos dramáticos de uma cultura contraditória como a nossa. E a contradição está nessas suas apologias, como "eles tem um alto índice de mortalidade" e etc.
O filme é atual, contudo. Senão vejamos. Por exemplo, a grandeza e a riqueza da indústria automobilística no mundo inteiro. Quem é que quer ter carro novo e para quê? Para passar na Anhanguera às 18 horas no trecho Jundiaí- São Paulo e ficar preso ali durante 2 horas? Certamente não é isso que leva você a comprar um carro novo financiado.
Vamos discutir outros aspectos da cultura pós-moderna. O que aconteceu? Aconteceu que, no Modernismo, os valores burgueses eram valores hipócritas. Era uma faz de conta: o pai de família ia à missa, chegava todo dia bêbado em casa fazendo terrorismo com a família, mas ainda assim ele era justificado socialmente. Como? Ora, ele era o diretor de empresa bem sucedido, com carro novo na garagem, casa para morar, relacionamentos sociais. A moral burguesa ainda estava consubstanciada com a moral religiosa.
Com o pós-modernismo, descobriu-se que tudo isso é hipocrisia. Retiraram o véu da hipocrisia.
Modernismo: "Você é o que você faz e não o que você fala". Esse era um discurso hipócrita.
Pós-modernismo: "Você é o que você tem".
Conheci muitas capitais do nordeste brasileiro, e o nordestino é bem pé no chão, ele diz: "Você é o que você tem; se tem 1 real, você vale um real; se você não tem nada, você não vale nada".
Veja que é uma cultura pobre materialmente dizendo isso. Mas estendamos esse raciocínio para outros modos de possuir: você é o que você tem, ou seja, boas relações, boa imagem social, capacidade de se submeter ao sistema e ganhar dinheiro.
É o fim das ilusões! "Pagando bem, que mal tem"? Ouvi até um senhor amigo meu que fora empresário dizer isso. Ele disse que limparia a minha casa, desde que eu pagasse bem a ele.
O pós-modernismo é o fim de todos os valores religiosos-burgueses. Não existe mais aquela hipocrisia de antes.
Dois pensadores malditos profetizaram os dias atuais: Marx e Nietzsche.
Marx disse que "Tudo o que é sagrado é profanado", e Nietzsche declarou a "morte de deus", ou seja, dos valores hipócritas da sociedade iluminista.
Quais são então, os valores da sociedade atual? Os valores são aqueles - conforme disse Marx - que ajudam a incrementar o próprio sistema.
Qual comportamento, qual moral é a correta? É aquela que ajuda a incrementar, a fortalecer o sistema. Isso já estava presente nas obras de Dostoivisky, em "Crime e Castigo", em que a madastras obriga a enteada a fazer programa, e quando ela volta com dinheiro para casa, a madastra beija os seus pés.
"Tudo é mercadoria", profetizou Marx. Advogados, médicos, todos são obrigados a vender a sua força de trabalho.
Qual comportamento ético é o correto? É aquele que gera lucro ou benefícios de alguma forma. Não existe mais o certo ou errado; não mais "se você fizer isso, vai para o céu, se fizer aquilo, vai para o inferno". O que existe é: "se você se comportar de forma socialmente produtiva, você será moralmente enaltecido".
Quem é o "homem do mal"? É o que critica as instituições, o que não se submete a elas. É o zé-ninguém.
Conceitos de mal e bem na sociedade pós moderna:
Bem: é todo comportamento que visa manter a lógica do sistema, incrementá-lo do ponto de vista material e "espiritual".
Mal é todo comportamento que visa criticar o sistema, como você se recusar a andar de carro novo, a comprar uma casa nova, etc.
O filme portanto - para eu não me delongar - é atual. O etnocentrismo é justamente a cultura européia no centro do universo.
As religiões com suas regras morais, são apenas aparatos do sistema para disciplinar os egos - vide a indústria da caridade hoje. Marcelo Rossi foi criticado pela própria igreja.
Quais são os novos valores a serem criados? Nenhum!
Vejo esta sociedade em escombros, em total decadência, pois, tem que "piorar o máximo", o que dá, para depois haver uma melhora, mas não em termos marxistas, em que "a burguesia destrói tudo hoje para construir melhor amanhã", segundo Marx, no Manifesto Comunista.
Se for assim, aí não resta outra coisa senão uma guerra. Mas é preciso uma guerra quando os signos, quando as próprias instituições simbólicas já determinam o comportamento das pessoas??
É o apocalipse! Não tem para onde fugir, a não ser adotar um comportamento - como os hiipyes fizeram - de negar tal conjuntura.
A própria Antropologia está em crise, pois, alguns antropólogos pós-modernos, dizem ser uma aberração ou um ato de etnocentrismo, você ir lá "á campo", com sua caderneta, fazer observações sobre tal ou tal sociedade primitiva. O que eles pensam disso?
O signo é arbitrário e reduz todas as coisas a conceitos de uma única cultura, diz Jacques Derrida.
É isso aí.