Autor Tópico: Abuso quântico e pseudociência  (Lida 755 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Offline Südenbauer

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 10.297
  • Sexo: Masculino
Abuso quântico e pseudociência
« Online: 05 de Dezembro de 2012, 15:19:33 »
Abuso quântico e pseudociência

Ayres Britto diz que sua visão espiritualista é confirmada pela física quântica, mas não é disso que ela trata. O analfabetismo científico é um risco à sociedade

Em entrevista recente à Folha, o recém-aposentado ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, afirmou que sua visão espiritualista de mundo seria confirmada pela física quântica, citando diversos autores, entre os quais Einstein ("A vida começa aos 70", em 18 de novembro).

Cito dois trechos:

1) "Depois, de uns 12 anos para cá, comecei a me interessar por física quântica, e ela me pareceu uma confirmação de tudo o que os espiritualistas afirmam. A física quântica, sobretudo os escritos de Dannah Zohar [especializada em aconselhamento espiritual e profissional]."

2) "Einstein, físico quântico que era, cunhou uma expressão célebre: 'efeito do observador'. Ele percebeu que o observador desencadeava reações no objeto observado. (...) Claro que quando você joga teoria quântica para a teoria jurídica, se expõe a uma crítica mordaz. O sujeito diz: "Mas isso não é ciência jurídica'."

Na verdade, a fascinante física quântica aplica-se somente a sistemas físicos na escala atômica, jamais a questões profissionais ou jurídicas. As analogias podem ser exercícios criativos ou poéticos até interessantes, mas não passam disso.

Ao buscar a palavra "quantum" em qualquer livraria virtual, é assombroso notar que a maioria das obras listadas refere-se a supostas explicações quânticas dos mais diversos aspectos da vida -da memória à cura de enfermidades, passando pelo sucesso no amor e na carreira.

Como físico, acredito em coisas incríveis, como entes que são ondas e partículas simultaneamente, universos multidimensionais, tempos e comprimentos que dependem da velocidade do objeto, estruturas nanoscópicas que podem atravessar verdadeiras paredes e muitos outros fenômenos que certamente não são nada intuitivos e continuam sendo impressionantes, mesmo após anos e anos de estudo.

Mas em ciência o importante é que as teorias sejam comprovadas seguindo critérios rígidos, metodologias adequadas e publicadas em periódicos de circulação internacional, para que outros pesquisadores possam tentar repetir os experimentos e modelos, verificando possíveis falhas e buscando explicações alternativas, com certo ceticismo. Não é o caso das ideias citadas pelo ministro.

Ocorre que, diariamente, somos inundados por inúmeras promessas de curas milagrosas, métodos de leitura ultrarrápidos, dietas infalíveis, riqueza sem esforço. A grande maioria desses milagres cotidianos são vestidos com alguma roupagem científica: linguagem um pouco mais rebuscada, aparente comprovação experimental, depoimentos de pesquisadores "renomados", alardeado acolhimento em grandes universidades. São casos típicos do que se costuma definir como pseudociência.

A maioria das pessoas vive perfeitamente bem sem saber diferenciar ciência de pseudociência. Mais cedo ou mais tarde, porém, em alguns momentos da vida esse conhecimento pode ser muito importante. Seja para decidir um tratamento médico, seja para analisar criticamente algum boato, seja para se posicionar frente a alguma decisão importante que certamente influenciará a vida de seus filhos e netos.

A sociedade como um todo deve assimilar a cultura científica. É importante a participação de instituições, grupos de interesse e processos coletivos estruturados em torno de sistemas de comunicação e difusão social da ciência, participação dos cidadãos e mecanismos de avaliação social da ciência.

Em uma sociedade onde a ciência e a tecnologia são agentes de mudanças econômicas e sociais, o analfabetismo científico, seja de quem for, pode ser um fator crucial para determinar decisões que afetarão nosso bem-estar social.

É impossível tomar uma decisão consciente se não se tem um mínimo de entendimento sobre ciência e tecnologia, como funcionam e como podem afetar nossas vidas.

MARCELO KNOBEL, 44, físico, é professor do Instituto de Física Gleb Wataghin e pró-reitor de graduação da Unicamp

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/81335-abuso-quantico-e-pseudociencia.shtml

Offline SnowRaptor

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 17.962
  • Sexo: Masculino
Re:Abuso quântico e pseudociência
« Resposta #1 Online: 05 de Dezembro de 2012, 17:35:49 »
Porque Einstein era um físico quântico...
Elton Carvalho

Antes de me apresentar sua teoria científica revolucionária, clique AQUI

“Na fase inicial do processo [...] o cientista trabalha através da
imaginação, assim como o artista. Somente depois, quando testes
críticos e experimentação entram em jogo, é que a ciência diverge da
arte.”

-- François Jacob, 1997

Offline Dr. Manhattan

  • Moderadores Globais
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 8.342
  • Sexo: Masculino
  • Malign Hypercognitive since 1973
Re:Abuso quântico e pseudociência
« Resposta #2 Online: 05 de Dezembro de 2012, 17:47:48 »
Repetindo o que já escrevi antes por aqui: a Mecânica Quântica é fascinante e misteriosa. Mas ela não é fascinante e misteriosa da maneira que os leigos gostariam que ela fosse. A maioria das pessoas gosta de mistérios, mas apenas enquanto estes dizem respeito à sua vida pessoal: mistérios que tenham a ver com sua paz de espírito, seu sucesso profissional ou sua vida amorosa. As pessoas, coletivamente, são narcisistas. É por isso que a maioria conhece o seu signo, mas poucos sabem que a humanidade pôs um robô em órbita de Saturno.
You and I are all as much continuous with the physical universe as a wave is continuous with the ocean.

Alan Watts

Offline SnowRaptor

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 17.962
  • Sexo: Masculino
Re:Abuso quântico e pseudociência
« Resposta #3 Online: 05 de Dezembro de 2012, 18:42:36 »
Muito bem colocado!
Elton Carvalho

Antes de me apresentar sua teoria científica revolucionária, clique AQUI

“Na fase inicial do processo [...] o cientista trabalha através da
imaginação, assim como o artista. Somente depois, quando testes
críticos e experimentação entram em jogo, é que a ciência diverge da
arte.”

-- François Jacob, 1997

Offline Buckaroo Banzai

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 38.735
  • Sexo: Masculino
Re:Abuso quântico e pseudociência
« Resposta #4 Online: 05 de Dezembro de 2012, 20:26:16 »
Ah, essess materialistas fundamentalistas! Sempre tentando reafirmar os dogmas em que têm fé cega, mesmo quando a ciência está os pulverizando um a um...  :nao3:

Offline Lord_Dracon

  • Nível 11
  • *
  • Mensagens: 166
  • Sexo: Masculino
  • =D
Re:Abuso quântico e pseudociência
« Resposta #5 Online: 07 de Dezembro de 2012, 10:06:50 »
Que legal, descobri que sou mais inteligente que um ministro de brasília.
O que, por sinal, não é difícil de encontrar [pessoas mais inteligentes que eles].

Offline Rocky Joe

  • Nível 34
  • *
  • Mensagens: 2.757
  • Sexo: Masculino
Re:Abuso quântico e pseudociência
« Resposta #6 Online: 07 de Dezembro de 2012, 12:12:53 »
A comunidade científica também tem sua parcela de culpa, dada a pouca divulgação e mesmo, durante um tempo, a falta de discussões sobre o que a MQ quer dizer, afinal de contas, qual a sua "ontologia".

 

Do NOT follow this link or you will be banned from the site!