A ideia de um censo é justamente ele não ter participação voluntária. Somente esse detalhe já cria um monte de vieses nesse Atheist Census. Evidentemente há o viés de voluntariado: quem se dá ao trabalho de responder a um censo ateísta tem um perfil mais engajado, o que poderia, por exemplo, resultar num número maior de pessoas jovens e do sexo masculino respondendo. Paradoxalmente, esse engajamento também pode fazer com que uma maioria das respostas venha de países onde o ateísmo é mais socialmente estigmatizado: notem como curiosamente os países com mais ateus neste momento são EUA, Brasil e Turquia, enquanto que países onde várias pesquisas mostram que há altas taxas de ateísmo como Noruega, França e República Checa tem poucas respostas. Creio que como nesses países ser ateu não é grande coisa, as pessoas não ficam visitando blogs e fóruns ateístas para se informar de que há um "censo" rolando por aí.
Outro viés é que evidentemente a pesquisa é conduzida pela internet, então só pode responder quem a acessa frequentemente. Será que a maioria dos ateus têm acesso à internet? Creio que no ocidente isso seja verdade, mas e na China, por exemplo? A China é um país comunista que tolera algumas religiões, mas incentiva o ateísmo, então devem haver dezenas de milhões de ateus nesse país, muitos deles em zonas rurais ou que não acessam páginas estrangeiras na internet rigidamente controlada do país. E o perfil do ateu chinês pode ser bem diferente do do ocidental, por exemplo, podem ter menor escolaridade, maior idade, ser mais bem distribuídos em termos de gênero...
Então o censo provavelmente não serve para sabermos que país tem mais ateus e também não serve para saber o sexo, a idade e a escolaridade dos ateus. Para quê ele serve?
A informação que eu achei mais interessante vinda desse censo é o background religioso dos respondentes. Ele não dá um número preciso do perfil religioso da nação, mas permite uma avaliação qualitativa interessante. Por exemplo, é evidente que a maioria dos turcos e iranianos que respondem ao censo eram islâmicos, dada a prevalência do islamismo nessas sociedades. Nos EUA também não é surpresa que a maioria dos ateus costumavam ser cristãos protestantes, seguidos de perto pelos católicos. Mas vejam que interessante são os dados da França, da República Checa, da Noruega e da Holanda, por exemplo. Uma quantidade significativa, às vezes majoritária dos ateus não tinham nenhuma religião antes de se tornarem ateus. São os ateus de segunda geração sociedades já altamente secularizadas. Acho que essa é a informação relevante, que embora não nos dê um número preciso de ateus, nos diz que países são mais religiosos ou menos religiosos.
Outra coisa interessante: há exatamente uma pessoa do sexo masculino, com mais de 65 anos e apóstata do catolicismo que se declara ateia e vive na Cidade do Vaticano.