Autor Tópico: Veraneio  (Lida 455 vezes)

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Offline Aronax

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Veraneio
« Online: 11 de Dezembro de 2012, 18:14:32 »
A propósito deste assunto, um texto para matar de inveja todos do fórum que não moram aqui no Rio Grande do Sul......



VERANEIO NO R. G. DO SUL
 
 
Para conhecimento nacional e reconhecimento regional:
 
Está chegando o verão e com ele o veraneio, como chamamos aqui no Sul.
Não sei se vocês, de outros Estados, sabem, mas temos o mais fantástico litoral do País: de Torres ao Chuí, uma linha reta, sem enseadas, baias, morros, reentrâncias ou recortes. Nada!
Apenas uma linha reta, areia de um lado, o mar do outro.
Torres, aliás, é um equívoco geográfico, contrário às nossas raízes farroupilhas e devia estar em Santa Catarina.
Característica nossa, não gostamos de intermediários.
Nosso veraneio consiste em pisar na areia, entrar no mar, sair do mar e pisar na areia.
Nada de vistas deslumbrantes, vegetações verdejantes, montanhas e falésias, prainhas paradisíacas e outras frescuras cultivadas aí para cima.
O mar gaúcho não é verde, não é azul, não é turquesa.
É marrom!
Cor de barro iodado, é excelente para a saúde e para a pele! E nossas ondas são constantes, nem pequenas nem gigantes, não servem para pegar jacaré ou furar onda. O solo do nosso mar é escorregadio, irregular, rico em buracos. Quem entra nele tem que se garantir.
Não vou falar em inconvenientes como as estradas engarrafadas, balneários hiper-lotados, supermercados abarrotados, falta de produtos, buzinaços de manhã de tarde e de noite, areia fervendo, crianças berrando, ruas esburacadas, tempestades e pele ardendo, porque protetor solar é coisa de fresco e em praia de gaúcho não tem sombra. Nem nos dias de chuva, quase sempre nos fins-de-semana, provocando o alegre, intermitente, reincidente e recorrente coaxar dos sapos e assustadoras revoadas de mariposas.
Dois ventos predominam, em nosso veraneio: o nordeste – também chamado de nordestão – e o sul, cuja origem é a Antártida.
O nordestão é vento com grife e estilo.... estilo vendaval.
 Chega levantando areia fina que bate em nosso corpo como milhões de mosquitos a nos pinicar. Quem entra no mar, ao sair rapidamente se transforma no – como chamamos com bom-humor – veranista à milanesa. A propósito, provoca um fenômeno único no universo, fazendo com que o oceano se coloque em posição diagonal à areia: você entra na água bem aqui e quando sai, está a quase um quilômetro para sul. Essa distância é variável, relativa ao tempo que você permanecer dentro da água.
Outra coisa: nosso mar é pra macho!
Água gelada, vai congelando seus pés e termina nos cabelos. Se você prefere sofrer tudo de uma vez, mergulhe e erga-se, sabendo que nos próximos quinze minutos sua respiração voltará ao normal: é o tempo que leva para recuperar-se do choque térmico.
Noventa por cento do nosso veraneio é agraciado pelo nordestão que, entre outras coisas, promove uma atividade esportiva praiana, inusitada e exclusiva do Sul: Caça ao guardassol. Guardassol, você sabe, é o antigo guarda-sol, espécie de guarda-chuva de lona, colorida de amarelo, verde, vermelho, cores de verão, enfim, cujo cabo tem uma ponta que você enterra na areia e depois senta embaixo, em pequenas cadeiras de alumínio que não agüentam seu peso e se enterram na areia.
Chega o nordestão e... lá se vai o guardassol, voando alegremente pela orla e você correndo atrás. Ganha quem consegue pegá-lo antes de ele se cravar na perna de alguém ou desmanchar o castelo de areia que, há três horas, você está construindo com seu filho de cinco anos.
O vento sul, por sua vez, é menos espalhafatoso. Se você for para a praia de sobretudo, cachecol e meias de lã, mal perceberá que ele está soprando. É o vento ideal para se comprar milho verde e deixar a água fervente escorrer em suas mãos, para aquecê-las.
Raramente, mas acontece, somos brindados com o vento leste, aquele que vem diretamente do mar para a terra. Aqui no Sul, chamamos o vento leste de ‘vento cultural’, porque quando ele sopra, apreendemos cientificamente como se sentem os camarões cozinhados ao bafo.
E, em todos os veraneios, acontece aquele dia perfeito: nenhum vento, mar tranquilo e transparente, o comentário geral é: “foi um dia de Santa Catarina, de Maceió, de Salvador” e outras bichices. Esse dia perfeito quase sempre acontece no meio da semana, quando quase ninguém está lá para aproveitar. Mas fala-se dele pelo resto do veraneio, pelo resto do ano, até o próximo verão.
Morram de inveja, esta é outra das coisas de gaúcho!
Atenta a essas questões, nossa indústria da construção civil, conhecida mundialmente por suas soluções criativas e inéditas, inventou um sistema maravilhoso que nos permite veranear no litoral a uma distância não inferior a quinhentos metros da areia e, na maioria dos casos, jamais ver o mar: os famosos condomínios fechados.
A coisa funciona assim: a construtora adquire uma imensa área de terra (areia), em geral a preço barato porque fica longe do mar, cerca tudo com um muro e, mal começa a primavera, gasta milhares de reais em anúncios na mídia, comunicando que, finalmente agora você tem ao seu dispor o melhor estilo de veranear na praia: longe dela. Oferece terrenos de ponta a ponta, quanto mais longe da praia, mais caro é o terreno. Você vai lá e compra um.
Enquanto isso a construtora urbaniza o lugar: faz ruas, obras de saneamento, hidráulica, elétrica, salão de festas comunitário, piscina comunitária com águas térmicas, jardins e até lagos e lagoas artificiais onde coloca peixes para você pescar. Sem falar no ginásio de esportes, quadras de tênis, futebol, futebol-sete, se o lago for grande, uma lancha e um professor para você esquiar na água e todos os demais confortos de um condomínio fechado de Porto Alegre, além de um sistema de segurança quase, repito, quase invulnerável.
Feliz proprietário de um terreno, você agora tem que construir sua casa, obedecendo é claro ao plano-diretor do condomínio que abrange desde a altura do imóvel até o seu estilo.
O que fazemos nós, gaúchos, diante dessa fabulosa novidade? Aderimos, é claro.
Construímos as nossas casas que, de modo algum, podem ser inferiores às dos vizinhos, colocamos piscinas térmicas nos nossos terrenos para não precisar usar a comunitária, mobiliamos e equipamos a casa com o que tem de melhor, sobretudo na questão da tecnologia: internet, TV à cabo, plasma ou LCD, linhas telefônicas, enfim, veraneamos no litoral como se não tivéssemos saído da nossa casa na cidade.
Nossos veraneios costumam começar aí pela metade de janeiro e terminar aí pela metade de fevereiro, depende de quando cai o Carnaval. Somos um povo trabalhador, não costumamos ficar parados nas nossas praias.
Vamos para lá nas sextas-feiras de tarde e voltamos de lá nos domingos à noite. Quase todos na mesma hora, ida e volta.
É assim que, na sexta-feira, pelas quatro ou cinco da tarde, entramos no engarrafamento. Chegamos ao nosso condomínio lá pelas nove ou dez da noite. Usufruímos nosso novo estilo de veranear no sábado – manhã, tarde e noite – e no domingo, quando fechamos a casa.
Adoramos o trabalhão que dá para abrir, arrumar e prover a casa na sexta de noite, e o mesmo trabalhão que dá no domingo de noite.
E nem vou contar quando, ao chegarmos, a geladeira estragou, o sistema elétrico pifou ou a empregada contratada para o fim-de-semana não veio.
Temos, aqui no Sul, uma expressão regional que vou revelar ao resto do mundo:
                                    -Graças a Deus que terminou esta bosta de veraneio!   
Paulo Wainberg
Uma verdade ou um ser podem ser vistos de vários pontos, porém a verdade e o ser estão acima de pontos de vista.

Offline Südenbauer

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Re:Veraneio
« Resposta #1 Online: 11 de Dezembro de 2012, 21:03:12 »
Haha... é bem nessa, bom texto.

Nunca fui muito fã de praia. Ok, é relaxante, é bonito. Mas coisa para um ou dois dias e deu. Pessoal aqui no RS parece que tem uma doença, chega o verão e PRECISAM sair correndo para alguma praia. Tem gente que passa um mês inteiro.

Sou muito mais rio.

Offline LaraAS

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Re:Veraneio
« Resposta #2 Online: 11 de Dezembro de 2012, 22:29:11 »
Haha... é bem nessa, bom texto.

Nunca fui muito fã de praia. Ok, é relaxante, é bonito. Mas coisa para um ou dois dias e deu. Pessoal aqui no RS parece que tem uma doença, chega o verão e PRECISAM sair correndo para alguma praia. Tem gente que passa um mês inteiro.

Sou muito mais rio.


             Já eu prefiro muito mais piscina aquecida como as dos Sescs Consolação, Vila Mariana e Ipiranga em que vou regularmente (essas unidades têm a vantagem e ter piscinas com uma metade com uma profundidade razoável o que não acontece nos outros Sescs que eu conheço). No caso de rios só se for como em Caldas Novas que são quentes ou como parte das águas térmicas de Áraxa que também são quentes.
             No caso de praias, só duas vezes, uma vez em fins de 1985 quando eu tinha 13 anos em que fui em uma praia de Suarão  em Itanhaém (no litoral do estado de São Paulo perto de Santos e do Guarujá) em que a água estava quente e em janeiro de 1988 em que eu tinha 15 anos, ocasião em que eu fui em algumas praias Santa Catarina que eram quentes. Só que depois em janeiro de 1997 eu voltei para essas mesmas praias e elas tinham se transformados em frias, igualmente umas vezes em que eu voltei  para a praia de Suarão....Eu ouvi dizer que há praias do nordeste quentes também, mas eu nunca fui no Nordeste. De qualquer modo eu não gosto do sal do mar.
« Última modificação: 12 de Dezembro de 2012, 17:27:57 por LaraAS »

Offline Gaúcho

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Re:Veraneio
« Resposta #3 Online: 12 de Dezembro de 2012, 00:16:51 »
Praia é vida.

Nesta sexta já estou indo com a nega véia para um merecido fim de semana longe de forno alegre. :)
"— A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras." Sérgio Moro

Offline Canopus

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Re:Veraneio
« Resposta #4 Online: 12 de Dezembro de 2012, 09:06:17 »
Quase toda praia no nordeste tem água morna, límpida e belíssima paisagem.

Fala aí, Derfel!
A capacidade de transgredir é o que nos torna sujeitos da transformação.
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Não é demonstração de saúde ser bem ajustado a uma sociedade profundamente doente.
J.krisnamurti

 

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