A música pop é discriminada injustamente por alguns meios, principalmente os ditos meios intelectuais, como aquilo que portaria um discurso vazio e fútil. Sendo que, se realmente analisado, todo o discurso da música pop suscita as mesmas questões contemporâneas a que esses ditos intelectualoides se debruçam. Estão presentes ideologias e bandeiras de importantes seguimentos progressistas da sociedade como o feminismo, questões de sexualidade, uma critica as religiões e a muitos outros padrões normativos da sociedade.
Veja um fenômeno recente, como esse das “marchas das vadias”. Eles vêm somente agora reivindicando o que as grandes “Divas” do pop já gritam desde os anos 80, com Madonna e companhia. Vendo os clipes dessas cantoras, estão lá desde sempre as mesmas reivindicações por liberdade e igualdade feminina, os mesmos questionamentos dos padrões da sociedade, da sexualidade, dos gêneros e afins...
Quando uma Lady Gaga coloca homens de salto alto se beijando em seus clipes, ou quando se mostra envolvida em situações sexuais com muitos homens ou mulheres, onde se apresenta como objeto sexual e objeto de desejo que também objetifica o outro, tornando-se dona de sua própria imagem enquanto objeto que se vende apenas se, a quem e a quantos quiser, ela está fazendo exatamente o que uma multidão faz numa marcha “das vadias” ou numa “parada gay”; ela está mostrando a diferença, e fazendo todo o questionamento e um desmonte dos padrões normativos de nossa sociedade machista e patriarcal... A diferença é que seus clipes chegam a MILHÕES de pessoas que os ouvem ávidos e assimilam aquilo mesmo que não saibam bem o que estão assimilando. Enquanto uma marcha chega a poucos milhares, se muito, que mal bola dão, ou criticam porque não entendem o que ali se passa...
É preciso muito preconceito ou pouca crítica para não querer ver a importância destas manifestações artísticas da música pop. Desde os anos 80 e 90 os jovens vem sendo moldados por toda essa cultura que passa inevitavelmente pelos vídeos clipes, suas músicas, mas principalmente pela figura mesma, pela vida pessoal e os discursos de seus interpretes. Qualquer pessoa que se debruce um pouco com um olhar semiótico a esses vídeos verá a riqueza de sua simbologia para construção de todo um novo paradigma social. Como, por exemplo, em Lady Gaga e sua abordagem do tema da mulher morta e do pós-feminismo.
O Crime de Lady Gaga (Marcia Tiburi):
http://revistacult.uol.com.br/home/2010/05/o-crime-de-lady-gaga/Tudo isso com o devido paradoxo de que estes vídeos enquanto mercadoria da “sociedade do espetáculo” também aprisionam por aquilo que vendem junto, sejam os padrões normativos de beleza e estética, sejam as ideologias da fama a qualquer custo, ou outras tranqueiras que acabam por disseminar.
Então, acho triste que haja tanto preconceito daqueles que não percebem que as grandes manifestações populares, sejam na música, sejam no cinema, ou em outras áreas, são justamente o que vem ajudando nossa sociedade a mudar padrões, para o bem a para o mal. Não querem ver que nada neste mundo é puro acaso e nada está separado de uma ideologia que prega e dissemina algo em nome do poder. Estas, positivas ou negativas tem uma importância inegável que precisam ser mais discutidas e estudas.
Afinal música pop é arte? Lixo? Mercadoria? Ideologia? Ou uma mistura interessante de tudo isso?
Estava pensando aqui a música pop, mas como esse pode não suscitar um debate, trago também algo relacionado. Como se constroi e se dissemina um ideologia nos dias de hoje. Quais são as ideologias dominates na contemporaneidade, suas qualidades e seus defeitos?
feature=relmfu (Madonna - Human Nature)
(Kylie Minogue - All The Lovers)
(Katy Perry – Firework)
(Lady Gaga - Judas )
(Christina Aguilera – Beautiful)
(P!nk - Raise Your Glass)