Autor Tópico: A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo  (Lida 1311 vezes)

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Offline AleYsatis

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A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo
« Online: 28 de Dezembro de 2012, 00:17:05 »
"A todos com quem realmente me importo, desejo sofrimento, desolação, doença, maus-tratos, indignidades, o profundo desprezo por si, a tortura da falta de autoconfiança e a desgraça dos derrotados.” Nietzsche

" ...nascimento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento, enfermidade é sofrimento, morte é sofrimento..." Primeira nobre verdade budista, a essência da vida é sofrimento.
 
Tendo a achar que o sofrimento é sim caminho de aprendizado, talvez o único. Nossos modelos mitológicos que procuram nos guiar rumo a desejada transcendência do sofrimento, nos ensinam que, se isso for possível, será somente através do próprio sofrimento e de seu conhecimento. A dor e sua aceitação são os caminhos para sua possível superação. Não foi negando o sofrimento que Cristo alcançou o paraíso, ele teve de sofrer e aceitar todos os martírios da carne, morrer e descer ao inferno (o mais profundo em nossas mentes e nossos medos) para buscar a chave que lhe daria entrada ao paraíso (a liberação mental de todas as dores). O mesmo se dá no mito de Buda, que enfrentou todas as provações de Mara, senhor da ilusão, caindo no mais profundo de suas dores e dúvidas até alcançar a liberação e a budeidade...

Mas nossa sociedade higienista nega o sofrimento a todo custo, e com isso nega a vida. Toda a busca do homem, da ciência, e das religiões na atualidade, para além do que nos ensinam os seus mitos, visam a negação do sofrimento e uma busca hedonista por cada vez mais e mais prazer e contentamento. Essa é a lógica do capital que precisa nos tornar mais e mais descontentes e desejosos ao mesmo tempo em que torna mais e mais inaptos a lidar e pensar sobre o sofrimento para nos prender nesta roda do consumo que promete sanar essas nossa necessidades insanáveis.

Nossa sociedade ocidental esconde a morte, a doença, tudo o que é relacionado ao sofrimento é rechaçado. Somos uma sociedade doente de si mesma como diz Nietzsche. Queremos e vivemos só para a alegria e a facilidade e nos esquecemos de que estas são resultados de algo, e provavelmente de um caminho que requer sofrimentos prévios. Mas não, vivemos na sociedade da alegria falsa, dos falsos sorrisos, dos "felizinhos" de Facebook. Quem quer parecer triste, deprimido, melancólico ou pessimista num mundo capitalista cor de rosa? Viva a sociedade dos "tarja-pretas", dos ansiolíticos e dos antidepressivos. Nós temos o remédio para você: COMPRE!

Compre um remédio para sustentar essa felicidade falsa, compre um carro para compensar o "pinto" pequeno, compre uma casa para fingir que ela garantirá uma família para você. Só não pense muito em questões doloridas e difíceis. Aceite as "verdades" que temos para te vender no balcão, temos para todos os gostos e tipos de niilistas: os religiosos, os céticos-científicos, os deprimidos...

Quando conseguiremos alcançar a visão Nietzschiana de eterno retorno e sua completa aceitação da vida tal como está dada? A questão do sofrimento, e de como devemos vê-lo, ou como devemos lidar com ele, é das mais importantes... Por mais difícil que seja sua compreensão e aceitação, não deve ser tomado como a visão que a maioria das pessoas têm: de que é algo ruim e deve ser evitado e esquecido a todo custo. É justamente esta visão que está na raiz de uma sociedade altamente infeliz, medicamentada e altamente consumista. Essa sociedade jamais nos ensinará que nossas dores existenciais não serão sanadas por esse consumo, essa negação e o niilismo que nos caracteriza enquanto sociedade doente que somos...
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Offline uiliníli

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Re:A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo
« Resposta #1 Online: 28 de Dezembro de 2012, 00:53:24 »
Acho que você interpretou mal Buda. As quatro nobres verdades são: o sofrimento existe; o sofrimento tem origem no apego; a cessação do sofrimento é atingível; e existe um caminho de aperfeiçoamento (o nobre caminho óctuplo) que leva ao fim do sofrimento.

Então o Budismo não defende que você sofra para se aperfeiçoar, quem diz isso são os espíritas. O budismo se propõe a oferecer um método, uma norma de conduta para você evitar o sofrimento. Não é necessário passar por provações terríveis para se atingir a iluminação, mas ser disciplinado e cultivar a virtude. É interessante até que o budismo é uma das poucas religiões importantes que toleram o suicídio, e uma situação na qual ele é particularmente aceito (e praticado por monges inclusive) é quando uma doença torna o sofrimento de seu corpo intolerável.



Saindo do Budismo e chegando ao Ocidente, até o exemplo do suicídio é um exemplo em contrário. O Cristianismo não tolera o suicídio nem mesmo quando você sofre de dores excruciantes por uma doença adquirida, ele prega a paciência e resignação. Seus médicos também farão o máximo possível para extender sua vida, mesmo que você não possa ter qualidade de vida nenhuma após receber esse "favor". A maioria de nós morre em camas de hospitais após meses de cirurgias, remédios e efeitos colaterais terríveis de remédios, em vez de morrer naturalmente em nossas casas ao lado de pessoas que amamos.

O sofrimento às vezes também é corrompido pelo capitalismo. Você perguntou quem quer parecer triste, deprimido, melancólico ou pessimista em um mundo capitalista cor-de-rosa. E eu vos direi: "Muita gente!" Os emos, os góticos, os hipsters... Tristeza, melancolia e pessimismo podem ser embalados e vendidos como produtos tanto quanto qualquer outro sentimento, não subestime o capitalismo nesse ponto ;)

O niilismo existe na nossa sociedade. Mas também existe o impopular e minoritário monismo dos ateus e materialistas. O mais popular é o dualismo dos cristãos, corpo e alma. Você disse que essa é a sociedade dos antidepressivos, mas eu conheço um monte de dualistas que se recusam a tomar remédios que alterem seu humor, pois tem medo de "não serem mais elas mesmas" depois disso. Muita gente prefere sofrer a se medicar porque não querem que a química altere seu "verdadeiro eu", para espanto dos monistas que exclamam "seu verdadeiro eu é a química!"

Offline Moro

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Re:A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo
« Resposta #2 Online: 28 de Dezembro de 2012, 00:56:30 »
As quatro nobres groselhas.
« Última modificação: 28 de Dezembro de 2012, 10:29:06 por Agnóstico »
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

Faisal Saeed Al Mutar


"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

Peter Boghossian

Sacred cows make the best hamburgers

I'm not convinced that faith can move mountains, but I've seen what it can do to skyscrapers."  --William Gascoyne

Offline uiliníli

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Re:A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo
« Resposta #3 Online: 28 de Dezembro de 2012, 01:08:05 »
Eu gosto de groselha. É doce e rica em vitamina C.

Offline AleYsatis

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Re:A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo
« Resposta #4 Online: 28 de Dezembro de 2012, 01:27:08 »
Acho que você interpretou mal Buda. As quatro nobres verdades são: o sofrimento existe; o sofrimento tem origem no apego; a cessação do sofrimento é atingível; e existe um caminho de aperfeiçoamento (o nobre caminho óctuplo) que leva ao fim do sofrimento.

Então o Budismo não defende que você sofra para se aperfeiçoar, quem diz isso são os espíritas. O budismo se propõe a oferecer um método, uma norma de conduta para você evitar o sofrimento. Não é necessário passar por provações terríveis para se atingir a iluminação, mas ser disciplinado e cultivar a virtude. É interessante até que o budismo é uma das poucas religiões importantes que toleram o suicídio, e uma situação na qual ele é particularmente aceito (e praticado por monges inclusive) é quando uma doença torna o sofrimento de seu corpo intolerável.



Saindo do Budismo e chegando ao Ocidente, até o exemplo do suicídio é um exemplo em contrário. O Cristianismo não tolera o suicídio nem mesmo quando você sofre de dores excruciantes por uma doença adquirida, ele prega a paciência e resignação. Seus médicos também farão o máximo possível para extender sua vida, mesmo que você não possa ter qualidade de vida nenhuma após receber esse "favor". A maioria de nós morre em camas de hospitais após meses de cirurgias, remédios e efeitos colaterais terríveis de remédios, em vez de morrer naturalmente em nossas casas ao lado de pessoas que amamos.

O sofrimento às vezes também é corrompido pelo capitalismo. Você perguntou quem quer parecer triste, deprimido, melancólico ou pessimista em um mundo capitalista cor-de-rosa. E eu vos direi: "Muita gente!" Os emos, os góticos, os hipsters... Tristeza, melancolia e pessimismo podem ser embalados e vendidos como produtos tanto quanto qualquer outro sentimento, não subestime o capitalismo nesse ponto ;)

O niilismo existe na nossa sociedade. Mas também existe o impopular e minoritário monismo dos ateus e materialistas. O mais popular é o dualismo dos cristãos, corpo e alma. Você disse que essa é a sociedade dos antidepressivos, mas eu conheço um monte de dualistas que se recusam a tomar remédios que alterem seu humor, pois tem medo de "não serem mais elas mesmas" depois disso. Muita gente prefere sofrer a se medicar porque não querem que a química altere seu "verdadeiro eu", para espanto dos monistas que exclamam "seu verdadeiro eu é a química!"

Realmente não sou dos mais entendedores, apenas queria mostrar que como essência dessas religiões e pensamentos morais não havia a lógica atual que temos de fuga do sofrimento. O budismo me parece que procura ser uma ferramente para a suposta superação do sofrimento, mas não por sua negação sim por sua aceitação, entendimento e superação de suas causas. Se você analisa os 12 elos da originação interdependente você vai vendo que a existência é sofrimento e é assim por causa da ignorância do apego e não compreensão da verdade da vacuidade de todos os fenômenos e etc... Então a vida vai continuar sendo sofrimento até sua liberação, ou iluminação, que é a cessação da ignorância, a compreensão da vacuidade a saída deste ciclo de sofrimento e a liberação de todo carma que são as solidificações das ações e das ignorâncias, logo a solidificação dos processos de sofrimento. Então, ainda que o Budismo vise a libertação do sofrimento, quando esta ocorre você já não está preso a vida, ao sansara, então a vida é sim sofrimento e continuará assim até nosso completo entendimento... É isso que estava querendo dizer, há uma aceitação do sofrimento, inclusive por o ver como resultados de nossas próprias ações. Na minha leitura do Budismo, é claro, que pode estar errada.

Nunca disse que o objetivo era sofrer, nem que devemos buscar o sofrimento isso seria igualmente niilismo. Se busco o sofrimento deliberado como um emo ou outros que você citou já, estou negando a vida também. Estou negando o sofrimento que me cabe e acreditando por infinitas razões que preciso criar mais. Então você está certo, neste mundo cor de rosa também cabe o sofrimento como produto para estes outros niilistas que negam a vida por sua fuga ou buscando o sofrimento deliberado como forma de aplacar uma busca existencial que o sistema não nos ensina como realizar. Era este o meu ponto. Então para mim, mesmo esses poucos que buscam sofrer, e todos os demais que querem mais e mais prazer e alegria, todos estão fugindo de aceitar a vida e aceitar o sofrimento de alguma forma...

Agora a sua relação entre niilismo e monismo não compreendi... Um monista não pode ser niilista? Para Nietzsche um homem cientista é niilista, um religioso é niilista, qualquer pessoa que negue a existência imediata ao criar conceitos de verdade, de um mundo pós-morte, ou um mundo melhor, um mundo futuro, um mundo mais justo, um mundo onde a ciência resolverá cada vez mais problemas, onde cada vez mais estaremos mais perto desta verdade que criamos e acreditamos que existe, enfim, o monismo não inviabiliza niilismo algum...
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Offline uiliníli

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Re:A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo
« Resposta #5 Online: 28 de Dezembro de 2012, 01:45:24 »
Concordo com suas observações no primeiro e segundo parágrafos. Quanto ao terceiro, só para esclarecer eu não quis dizer que ser monista e niilista ou dualista e niilista são coisas excludentes, eu citei essas duas correntes de pensamento para comentar sobre como lidam com o sofrimento psíquico de maneiras diferentes, uma vez que eu entendi que sua mensagem fosse de que o consumismo e a cultura de massa homogenizam a maneira como as pessoas se comportam. Eu não entendo muito de Nietzsche, mas a nossa cultura é dinâmica, há várias forças opostas atuando simultaneamente, as chamadas culture wars, e a questão monismo × dualismo é uma das trincheiras.

Offline AleYsatis

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Re:A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo
« Resposta #6 Online: 28 de Dezembro de 2012, 02:00:31 »
Entendi uiliníli  :ok:

E como eu falo principalmente por uma ótica Nietzscheana que enxerga a necessidade de uma aceitação completa da vida, coloco um trecho do seu conceito de eterno retorno que visa demonstrar o que seria essa aceitação que seria realizada por seu "Super-Homem" um dia quando a sociedade se libertasse do niilismo, desconstruísse toda e qualquer moral estabelecida que negue a vida e suas potencias como a moral religiosa, a moral científica, as ideias de verdade e etc..

"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"

PS: Trecho do Wikipedia, não conferi a tradução com o meu livro que estou com preguiça de redigitar tudo...
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Offline uiliníli

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Re:A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo
« Resposta #7 Online: 28 de Dezembro de 2012, 02:04:12 »
Tinha ouvido falar bem en passant sobre o conceito de eterno retorno. Lembra um pouco o budismo o estoicismo, mas também ouvi falar en passant que Nietzsche também não simpatizava particularmente com essas duas filosofias, estou certo?

Offline AleYsatis

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Re:A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo
« Resposta #8 Online: 28 de Dezembro de 2012, 02:49:54 »
Tinha ouvido falar bem en passant sobre o conceito de eterno retorno. Lembra um pouco o budismo o estoicismo, mas também ouvi falar en passant que Nietzsche também não simpatizava particularmente com essas duas filosofias, estou certo?
Na verdade até onde se sabe Nietzsche não tinha muito conhecimento das filosofias orientais a não ser por influencia de Schopenhauer que tinha influencia declarada do Budismo. Mas Nietzsche apesar de sua critica ferrenha as religiões, no Anti-Cristo ele tece até elogios ao Budismo, porque no Budismo não há transcendência e então não há necessariamente essa necessidade da negação desta vida em prol de uma outra, não há um niilismo necessário como no Judaico-Cristianismo ao qual dirige todo o seu ataque. No Budismo sequer conceitos como o de verdade, que é o suprassumo da nossa ideia de razão a qual ele também critica, no budismo são conceitos não muito claros. Não dá pra dizer o que é a verdade, se para eles a essência ultima é a vacuidade e esta é justamente o vazio conceitual, é vazio de tudo, o espaço base de onde tudo brota mas onde nada há, ao se chegar ao conceito de vacuidade nada resiste, nem conceitos de bem, mal, verdade, que ele também tentar desconstruir... Então ele tem sim alguma influência indireta, ainda que ele ache que o resultado a que Schopenhauer chega é extremamente niilista já que esse acha que a grande moral é a do homem asceta, do monge que deve negar a vontade e viver se diminuído diante disto que a vida é, neste ponto e para quem toma o Budismo assim ele seria contra sim. Nietzsche com seu conceito de vontade de potência se insurge contra ele dizendo que não, o homem deve dar vazão a suas potências, aceitar a vida em sua plenitude e procurar tudo aquilo que lhe potencialize e de força de ação aceitando a tragédia da vida e não a fugindo ou negando...
« Última modificação: 28 de Dezembro de 2012, 02:52:07 por AleYsatis »
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Offline uiliníli

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Re:A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo
« Resposta #9 Online: 28 de Dezembro de 2012, 02:52:18 »
Que livro é uma boa introdução à filosofia de Nietzsche?

Offline AleYsatis

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Re:A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo
« Resposta #10 Online: 28 de Dezembro de 2012, 03:10:15 »
Que livro é uma boa introdução à filosofia de Nietzsche?
Na verdade é complicado dizer uma ordem, tudo depende. Geralmente as pessoas começam por "Humano, Demasiado Humano", "Além do Bem e do Mal" que são mais fáceis para uma introdução. O livro "Assim falou Zaratustra" as pessoas já acham mais complicado para tirar dele os conceitos já que ele é mais lirico, mais ficcional, trabalha mais com imagens e tal.

Eu, na verdade, comecei com Schopenhauer, e recomendo "O Mundo como Vontade e Representação" dele, além de ser um livro LINDO, a bíblia do pessimismo, de uma verdade crua  :lol: a filosofia de Nietzsche é na verdade uma negação de Schopenhauer que ele tinha tomado como um grande mestre e um dos maiores filósofos até "romper" com ele para criar sua própria filosofia.

Tanto é que seus maiores conceitos tem sempre algo de Schopenhauer, mesmo que pela sua negação. Schopenhauer falava que a essência do mundo é a Vontade, uma força cega, surda e muda, um desejo não pessoal, uma força vital que tudo move e faz mover, nós seriamos só representações ou fantasmagorias dessa vontade e nossa maior liberdade seria negar o quanto pudéssemos essa força que nos constitui e que nos arrasta. Nietzsche cria dai o termo Vontade de Potencia para dizer que não, se tudo o que há é a Vontade nós somos essa vontade e nega-la é fazer o que todas as filosofias e religiões fazem, é nos diminuir e fazer o homem doente de si mesmo... Enfim... Se se interessar vai pegando o que você conseguir ai para ler, todos os livros dele são excelentes, na minha opinião.

PS: Paralelamente a leitura do autor é sempre bom fazer a leitura de comentadores, livros explicativos e de divulgação, enfim, tipo livros do Oswaldo Giacóia Júnior, por exemplo. Sem contar que como Nietzsche é um filósofo pop hoje em dia :lol: Existem muito vídeos de introdução, uns trocentos cafés filosóficos sobre ele, são bem bons pra ajudar a se localizar...
« Última modificação: 28 de Dezembro de 2012, 03:17:30 por AleYsatis »
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Offline uiliníli

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Re:A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo
« Resposta #11 Online: 28 de Dezembro de 2012, 10:27:28 »
Valeu, estava mesmo na hora de eu fazer uma leitura de Nietzsche. Mas acho que vou ler Kant primeiro, é um imperativo categórico :)

Offline AlienígenA

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Re:A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo
« Resposta #12 Online: 28 de Dezembro de 2012, 12:35:50 »
As quatro nobres groselhas.

Discordo. Groselha é doce. Desapego é amargo.  :P

Offline AleYsatis

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Re:A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo
« Resposta #13 Online: 28 de Dezembro de 2012, 15:33:39 »
Valeu, estava mesmo na hora de eu fazer uma leitura de Nietzsche. Mas acho que vou ler Kant primeiro, é um imperativo categórico :)

Boa sorte, esse ai eu ainda não consegui não... Chato, difícil... Suas categorias a priori são das coisas mais estranhas que já vi...  :biglol: E também não gosto do interdito kantiano, talvez porque eu prefira Schopenhauer que é critico a ele. Esse é o mais interessante de estudar a história da Filosofia um autor vai levando a outro, Nietzsche não existiria sem Schopenhauer que não existiria sem Kant que não existiria sem Descartes e Hume, e assim vai...  Seja para negá-los ou aprová-los mas são inevitáveis...
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Offline AleYsatis

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Re:A Humanidade Niilista a Negação do Sofrimento e o Consumo
« Resposta #14 Online: 28 de Dezembro de 2012, 16:18:45 »
INDÚSTRIA CULTURAL DA FELICIDADE

MARCIA TIBURI
7 DE MAIO DE 2012
REVISTA CULT

PARA QUEM ESTÁ ACOMPANHANDO O SEMINÁRIO “FELICIDADE?” QUE ESTÁ INDO AO AR NA TV CÂMARA, ESSE ARTIGO FOI PUBLICADO NA REVISTA CULT NO ANO PASSADO.

Tornou-se perigoso o emprego da palavra felicidade desde seu mau uso pelas publicações de auto-ajuda e pela propaganda. Os que se negam a usá-la acreditam liberar os demais dos desvios das falsas necessidades, das bugigangas que se podem comprar em shoppings grã-finos ou em camelôs na beira da calçada que, juntos, sustentam a indústria cultural da felicidade à qual foi reduzido o que, antes, era o ideal ético de uma vida justa.

A felicidade sempre foi mais do que essa ideia de plástico. Tirá-la da cena hoje é dar vitória antes do tempo ao instinto de morte que gerencia a agonia consumidora do capitalismo. Por isso, para não jogar fora a felicidade como signo da busca humana por uma vida decente e justa, é preciso hoje separar duas formas de felicidade: uma felicidade publicitária e uma felicidade filosófica.

A felicidade filosófica é a felicidade da eudaimonia que desde os gregos significa a ideia da vida justa em que a interioridade individual e as necessidades da vida exterior entrariam em harmonia. Felicidade era o nome dado ao sentido da pensante existência humana. Estado natural do pensamento reflexivo, ela seria o oposto da alienação em relação a si mesmo, ao outro, à história e à natureza.

Condição natural dos filósofos, a felicidade seria, no seu ápice, o prazer da reflexão que ultrapassa qualquer contentamento.

Sacralização do consumo

A ausência de pensamento característica de nossos dias define a falta de lucidez sobre a ação. Infelicidade poderia ser o nome próprio desse novo estado da alma humana que se perdeu de si ao perder-se do sentido do que está a fazer. Desespero é um termo ainda mais agudo quando se trata da perda do sentido das ações pela perda da capacidade de reflexão sobre o que se faz.

Sem pensamento que oriente lucidamente ações, é fácil se deixar levar pelos discursos prontos que prometem “felicidade”. Perdida a capacidade de diálogo que depende da faculdade do pensamento, as pessoas confiam cada vez mais em verdades preestabelecidas, seja pela igreja ou pela propaganda – a qual constitui sua versão pseudo-secularizada.

A propaganda vive do ritual de sacralização de bugigangas no lugar de relíquias, e o consumidor é o novo fiel. Nada de novo em dizer que o consumismo é a crença na igreja do capitalismo. E que o novo material dos ídolos é o plástico.

Tudo isso pode fazer parecer que a felicidade foi profanada para entrar na ordem democrática em que ela é acessível a todos. O sistema é cínico, pois banalizando a felicidade na propaganda de margarina, em que se vende a “família feliz”, ou de carro, em que se vende o status e certa ideia de poder, a torna intangível pela ilusão de tangibilidade.

Sacralizar, sabemos, é o ato de tornar inacessível, de separar, de retirar do contato. Na verdade, o que se promove na propaganda é uma nova sacralização da felicidade pela pronta imagem plastificada que, enchendo os olhos, invade o espírito ou o que sobrou dele. A felicidade capitalista é a morte da felicidade por plastificação.

Fora disso, a felicidade filosófica é da ordem da promessa a ser realizada a cada ato em que a aliança entre pensamento e ação é sustentada. Ela envolve uma compreensão do futuro, não como ficção científica, mas como lugar da vida justa que se constrói no tempo presente.

A felicidade publicitária apresenta-se como mágica dos gadgets eletrônicos que se acionam com um toque, dos “amigos” virtuais que não passam de má ficção. A felicidade publicitária está ao alcance dos dedos e não promete um depois. Ilude que não há morte e com isso dispensa do futuro. Resulta disso a massa de “desesperados” trafegando como zumbis nos shoppings e nas farmácias do país em busca de alento.
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