"A todos com quem realmente me importo, desejo sofrimento, desolação, doença, maus-tratos, indignidades, o profundo desprezo por si, a tortura da falta de autoconfiança e a desgraça dos derrotados.” Nietzsche
" ...nascimento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento, enfermidade é sofrimento, morte é sofrimento..." Primeira nobre verdade budista, a essência da vida é sofrimento.
Tendo a achar que o sofrimento é sim caminho de aprendizado, talvez o único. Nossos modelos mitológicos que procuram nos guiar rumo a desejada transcendência do sofrimento, nos ensinam que, se isso for possível, será somente através do próprio sofrimento e de seu conhecimento. A dor e sua aceitação são os caminhos para sua possível superação. Não foi negando o sofrimento que Cristo alcançou o paraíso, ele teve de sofrer e aceitar todos os martírios da carne, morrer e descer ao inferno (o mais profundo em nossas mentes e nossos medos) para buscar a chave que lhe daria entrada ao paraíso (a liberação mental de todas as dores). O mesmo se dá no mito de Buda, que enfrentou todas as provações de Mara, senhor da ilusão, caindo no mais profundo de suas dores e dúvidas até alcançar a liberação e a budeidade...
Mas nossa sociedade higienista nega o sofrimento a todo custo, e com isso nega a vida. Toda a busca do homem, da ciência, e das religiões na atualidade, para além do que nos ensinam os seus mitos, visam a negação do sofrimento e uma busca hedonista por cada vez mais e mais prazer e contentamento. Essa é a lógica do capital que precisa nos tornar mais e mais descontentes e desejosos ao mesmo tempo em que torna mais e mais inaptos a lidar e pensar sobre o sofrimento para nos prender nesta roda do consumo que promete sanar essas nossa necessidades insanáveis.
Nossa sociedade ocidental esconde a morte, a doença, tudo o que é relacionado ao sofrimento é rechaçado. Somos uma sociedade doente de si mesma como diz Nietzsche. Queremos e vivemos só para a alegria e a facilidade e nos esquecemos de que estas são resultados de algo, e provavelmente de um caminho que requer sofrimentos prévios. Mas não, vivemos na sociedade da alegria falsa, dos falsos sorrisos, dos "felizinhos" de Facebook. Quem quer parecer triste, deprimido, melancólico ou pessimista num mundo capitalista cor de rosa? Viva a sociedade dos "tarja-pretas", dos ansiolíticos e dos antidepressivos. Nós temos o remédio para você: COMPRE!
Compre um remédio para sustentar essa felicidade falsa, compre um carro para compensar o "pinto" pequeno, compre uma casa para fingir que ela garantirá uma família para você. Só não pense muito em questões doloridas e difíceis. Aceite as "verdades" que temos para te vender no balcão, temos para todos os gostos e tipos de niilistas: os religiosos, os céticos-científicos, os deprimidos...
Quando conseguiremos alcançar a visão Nietzschiana de eterno retorno e sua completa aceitação da vida tal como está dada? A questão do sofrimento, e de como devemos vê-lo, ou como devemos lidar com ele, é das mais importantes... Por mais difícil que seja sua compreensão e aceitação, não deve ser tomado como a visão que a maioria das pessoas têm: de que é algo ruim e deve ser evitado e esquecido a todo custo. É justamente esta visão que está na raiz de uma sociedade altamente infeliz, medicamentada e altamente consumista. Essa sociedade jamais nos ensinará que nossas dores existenciais não serão sanadas por esse consumo, essa negação e o niilismo que nos caracteriza enquanto sociedade doente que somos...