É você está certo, realmente não sabemos como foi essa criação dele, mas é justamente isso que estou querendo trazer de argumentação, seja qual for a criação desses dalai Lama, não podemos nos esquecer que são 14, sem contar todos os outros monges e lamas que são tidos como reencarnações e encontrados em tenra infância, como Lama Michel Rinpoche, por exemplo, e todos eles se tornam o que são criados para ser. Esse é o ponto importante. Então se não cremos nessa balela de reencarnação devemos assumir que a grande maioria de nós que recebesse essas mesmas criações, sejam duras e impositivas ou não, nos tornaríamos monges... Então, para minha argumentação não importa muito pensar se eles todos, tem, ou tiveram dúvidas e como foi essa criação, se foi abusiva ou não, enfim, o que importa é que funciona, então onde ficam os argumentos de que não é a sociedade e a criação que nos determina em todo? E se é criação que nos determina, como pensar o caso da criminalidade em nossa sociedade? Onde estão as tais influencias hormonais, genéticas e biológicas ai? Se influenciam um pouco, parece que não é suficiente para subjugar uma educação, e é essa quem realmente nos faz ser quem somos? Ou não, quem discorda vê como esse exemplo que trago dos Dalai Lama? Não importa quão dura é sua educação e se hipoteticamente são mega coagidos, porque muita gente em suas educações também são, quantas pessoas não são coagidas uma vida toda a serem cristãs, até apanham de seus pais e tal...
Mas poderíamos ampliar o debate tendo como base isso que esse exemplo parece nos mostrar, ou seja, que somos determinados pela sociedade e pela educação que recebemos. Se isso for verdade, então os argumentos de um Foucault são muito precisos. Ele vai dizer que nossa sociedade erigida sobre o sistema da exclusão e da dominação é quem cria os grupos excluídos para puni-los... Nós criamos a diferença, criamos os grupos dominadores e dominados e criamos todo um sistema moral para justificar os dominadores e justificar a reclusão, o extermínio e a separação do grupo que colocamos como dominados...
Vamos ver exemplos concretos, o que é um policial em nossa sociedade? É um cachorrinho do estado, um capitão do mato moderno. Os capitães do mato eram negros que caçavam outros negros para manter a ordem dos senhores e manter o poder de uma elite dominante do qual não faziam parte. O mesmo é um policial, por exemplo, é um pobre, um excluído que passa a vida caçando aqueles que atacam os senhores e seus bens, mas ele mesmo não faz parte desta elite que protege. E porque protege? Porque esta elite vende sua ideologia e obriga a todos a aceitar pela normatização dos seus discursos o poder que eles tem como algo natural e inviolável... Enfim, o sistema cria a diferença, cria o rico e o pobre e junto cria um discurso de empoderamento que normatiza essa dominação a tal ponto de que os próprios explorados os veem como se esses senhores estivessem em seus lugares de direito.
A ideologia sempre cria um grupo de privilegiados e junto dele um discurso de validação desse grupo... A lógica da punição, segundo Foucault, não passa então de uma ferramenta de controle pelo medo, para manter na população excluída e explorada essa noção de que essas diferenças sociais são naturais e de que boa ou não, não podemos tentar mudar a força. Se alguém deseja mudar sua situação de submissão vai precisar entrar no jogo criado e mantido pelos dominadores, passando a dominar e subjugar outros se assim conseguirem ascensão social. Ou seja, nossa sociedade até permite certa mobilidade social, desde que esta não pretenda quebrar com as próprias estruturas de dominação que impõe a alguns outros... Aqueles que não contentes neste sistema que criamos, e que agirem contra ele, conscientes ou inconscientes do que fazem, não importa, esses serão exemplarmente punidos para mostrar aos demais que a ordem de dominação vigente vai continuar gostem ou não...
Enfim, esse post é mais para debater com aqueles que criticam tanto Foucault, como alguns já citaram ele dizendo que ele está errado... Então, para esses, como argumentariam contra essa aparente prova de que somos determinados em ultima instancia pela educação e pela cultura? E se aceitarem que somos em grande parte fruto de uma educação, então não somos nós mesmo, enquanto cultura que estamos criando os bandidos que punimos com tanto gozo??