NÃO PERDÔO, NÃO
Percival Puggina
Perdão é algo que ocorre entre indivíduos e envolve decisão estritamente pessoal. Isso quer dizer que não pode haver perdão coletivo?", indagará o leitor. Pois é. Alguém pode, de fato, ter feito mal a muitos e se escusar ante todos. No entanto, o perdão só se efetivará através da concessão que cada um, individualmente, vier a fazer. Dito isso, ouvidos e lidos os coletivos pedidos de perdão de Lula e do PT, eu venho a público declarar que não me sinto em condições de os conceder.
Há quase vinte anos, em virtude de severas divergências ideológicas, venho me defrontando com petistas em debates freqüentes nos meios de comunicação. Esses eventos contam-se em centenas, de modo que conheço bem suas estratégias. E é em virtude de elas ainda persistirem nos debates que prosseguimos mantendo nestes dias que me obrigo a informar: não perdôo. Ressalvadas as exceções, a maioria das lideranças petistas com que debato segue a cartilha stalinista: manifesta profundo desrespeito pela honra alheia e escasso apreço à verdade. Na melhor das hipóteses, se ao opositor nada pode ser pessoalmente imputado, ergue-se contra ele a acusação de estar aliado aos inimigos do povo, parceiro de canalhas, a serviço das piores causas.
É possível que o leitor destas linhas me acuse de estar sendo excessivamente rigoroso. No entanto, indago: não é isso o que continua acontecendo em meio à crise e aos pedidos de perdão? Não atribuem às elites as responsabilidades pelo que está acontecendo? Não andam desfilando pelas ruas, denunciando manobras da direita contra o austero governo do senhor Lula? Pararam de desenrolar o infindável cordão de mentiras publicamente proferidas?
O corrupto general José Miguel Gómez (o Tubarão), que governou Cuba no início do século passado, distribuía com generosidade seus ganhos entre amigos e necessitados. Em vista disso, dizia-se que " Tubarão toma banho, mas respinga". Pois a estratégia petista destes dias se esforça em respingar lama para todos os lados. E cumprida essa pouco higiênica tarefa, lança o último bordão: Que autoridade têm o PSDB, o PFL e o PP para julgar o PT? Como ousa o neto do ACM erguer o dedo contra nosso partido?"
De um lado, tomam-nos por mentecaptos incapazes de perceber que, segundo esse arrogante disparate, só o PT teria autoridade moral para investigar e fazer oposição política ao PT. De outro não percebem os espertos que, pelo mesmo raciocínio, a partir de 2007, findo o atual governo, não haveria mais oposição no país porque também o PT, sob o peso das próprias culpas, estaria impedido de a exercer. Enquanto se comportarem assim não têm perdão, não.