Mas é preciso desmistificar essa visão de que ensino privado é ruim, ensino público é bom, e que isso se deve unicamente ao fato de um ser privado e do outro ser público. A USP é o que é porque dispõe de recursos (humanos, materiais, "matéria-prima") que nenhuma outra universidade, pública ou privada, no Brasil dispõe.
Não é bem assim.
A FAPESP não aprova projetos exclusivamente de instituições públicas. Se uma universidade privada quisesse, poderia pagar decentemente os professores, dando carga horária para pesquisa, e exigir, em troca, que os professores aprovem projetos junto ao CNPq e FAPESP. Quantas fazem isso???
Universidades, por força de lei, devem fazê-lo pelo simples fato de serem universidades (se não faz pesquisa, não é universidade). Mas a maior parte das instituições privadas, se não estou enganado, são faculdades e centros universitários, onde a coisa é mais relaxada. Na verdade, a função principal de faculdades e centros universitários é formar mão-de-obra, não fazer pesquisa.
A propósito, reveja que quando falei de recursos não falei só de dinheiro. Considero também os alunos um "recurso" de que uma universidade precisa pra ter qualidade. O principal, na minha opinião. Se assim não fosse, os reitores das públicas não estariam tão preocupadas com as cotas e as boas privadas americanas não seriam tão seletivas (bastaria ter dinheiro pra estudar nelas).
Parte do problema é que falta alunos às particulares, não quantitativa, mas qualitativamente.
Quanto à aprovação de projetos pelas privadas junto a órgãos de fomento, é algo que pode, sim, acontecer. Não duvido nada, mesmo não dispondo de dados, que a pesquisa, pouca que seja, feita hoje nas particulares seja financiada por órgãos públicos de fomento. Mas, convenhamos, se já é difícil pras públicas menores (e bota difícil nisso) competir com as maiores por recursos públicos pra financiar suas atividades de pesquisa, que dirá pras particulares? Se a construção de uma biblioteca de uma universidade particular com
financiamento do BNDES (a juros baixos, a bem da verdade) já é motivo de revolta pro reitor da universidade pública daqui...
Mais uma vez, o problema não é ser privada, é ser privada no BRASIL. A mentalidade dos empresários aqui é outra. Se não fosse assim, a USP não seria a melhor, ou pelo menos, haveria mais universidades particulares boas, e não apenas umas poucas que ainda são piores que muitas públicas.
Há pouco a discordar de ti quanto ao que dizes do empresário brasileiro (talvez apenas que eu prefiro "cultura empresarial" a "mentalidade do empresário"). Só que dentre as universidades particulares, boa parte são associações sem fins lucrativos, não são empresas. Ou seja, a tal mentalidade do empresário não é, pelo menos não vejo como possa ser, o problema, já que não me parece que as universidades-associações estejam melhores do ponto de vista da qualidade do que as universidades-empresas, como a UNIP.
Não tenho dúvidas de que haja algumas particulares melhores que algumas públicas no quesito infra-estrutura. Mas isso apenas não faz uma universidade.
Não. A qualidade do corpo discente é muito mais importante. É no que as públicas invariavelmente ganham.