Línguas de Portugal à Sibéria têm origem comum
Cientistas descobrem que as línguas faladas por 2,6 mil milhões de pessoas da Europa e da Ásia (37% da população mundial) nasceram de uma só língua que existiu há quinze mil anos no sul do continente europeu.
Há sete famílias linguísticas euroasiáticas, faladas por 2,6 mil milhões de pessoas, que nasceram de uma única língua há 15 mil anos no sul da Europa.
Uma equipa de cientistas britânicos e neozelandeses descobriu que as línguas hoje faladas por 2,6 mil milhões de habitantes da Europa e da Ásia (37% da população mundial), numa vasta região que vai de Portugal à Sibéria, tem origem numa única língua falada no sul da Europa há 15 mil anos, no final da última era glaciar.
Até agora sabia-se que existia uma raiz comum para as chamadas línguas indo-europeias, faladas no norte e centro da Índia, Bangladesh, Nepal, quase todo o Afeganistão e Paquistão, Irão, leste da Turquia (Curdistão) e em toda a Europa, à exceção da Hungria, Finlândia, Geórgia e várias regiões do norte da Rússia.
Mas as conclusões dos cientistas vão agora muito mais longe: para além das línguas indo-europeias, existem mais seis famílias linguísticas euroasiáticas que têm a mesma origem (altaica, dravidiana, caucasiana meridional, urálica, chukchee-kamchatkan e inuíte-yupik), abrangendo aqueles três países europeus, uma vasta área da Sibéria, a maior parte da Turquia, os quatro países turcófonos da Ásia Central, o sul da Índia, a Mongólia, o Alasca e mesmo algumas regiões da China.
Palavras com quinze mil anos
Num artigo publicado na revista científica de referência internacional "Proceedings of the National Academy of Sciences", os investigadores das universidades de Reading (Reino Unido), Auckland e Waikato (Nova Zelândia) sublinham que "algumas das palavras hoje mais usadas mantiveram-se sob várias formas desde o final da última era glaciar, há 15 mil anos".
Esta conclusão é fundamental, porque a ideia de uma gigantesca família de línguas euroasiáticas é polémica, já que muitas palavras evoluem demasiado depressa para preservarem as suas raízes ancestrais.
Como refere o jornal britânico The Guardian, "a maior parte das palavras tem 50% de hipóteses de ser substituída por outras não relacionadas em cada período de 2000 a 4000 anos".
Transmissão oral de informação muito complexa
Mark Pagel, um biólogo da evolução da Universidade de Reading envolvido na descoberta, afirma que "o facto de se poderem identificar palavras que retêm traços da sua profunda ancestralidade, revela-nos que temos a capacidade de transmitir oralmente informação muito complexa e precisa ao longo de dezenas de milhares de anos".
Esta informação, contida nas palavras, é preservada em grandes espaços geográficos e durante um largo período de tempo, apesar de os cientistas terem concluído que a língua comum existente há 15 mil anos se desdobrou em línguas separadas nos cinco mil anos seguintes.
Pagel usou um modelo de computador para prever quais as palavras hoje frequentemente usadas que mudaram muito pouco e identificou 23, entre as quais "eu", "nós", "homem", "mãe", o verbo "espetar", "casca" e "minhoca".
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