Um colóquio da
Suzana Herculano-Houzel, neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a respeito da proposta de profissionalização da profissão de cientista:
http://www.youtube.com/v/SzgxxLCRo-EUm resumo:
Hoje em dia, a rota de alguém que se forma (graduação: bacharelado) em cursos mais acadêmicos (física, química, matemática, biologia, letras, história etc., em oposição a engenharia, administração, arquitetura) é essencialmente a mesma: assim que termina a graduação, a pessoa pleiteia uma bolsa de mestrado ou doutorado e arranja algum grupo de pesquisa com quem trabalhar (geralmente, já está trabalhando com eles desde a IC).
Bolsas de pós-graduação são bolsas: não-tributáveis, sem direito a férias, sem previdência, FGTS etc. O bolsista tem um prazo (2 anos para mestrado, quatro para o doutorado, seis para o doutorado-direto) e findo esse prazo, não recebe mais nada. O bolsista não pode acumular outras fontes de renda: não pode arranjar um emprego de meio-período, tem um número limitado de atividades remuneradas (como monitorias) que pode exercer e se descumprir as normas e for desligado do programa, tem que devolver
todas as bolsas que já recebeu.
O resultado é que
se você quer mesmo ser cientista, vai ficar na universidade até os 30 anos, produzindo 90% do conhecimento científico do país, sem ser reconhecido como um
trabalhador, sem direitos trabalhistas, recebendo uma bolsa (quando recebe, tem gente que faz pós
sem bolsa) que mais aprece uma esmola pelo jeito que você é tratado pelas agências de fomento. Terminando o doutorado, lá pelos 28-30 anos, é
chutado tem que praticametne mendigar uma bolsa de pós doutorado, que também não tem nenhum direito trabalhista e é por tempo determinado, com regras para renovação e "repetição" (pedir muitas renovações no mesmo grupo de pesquisa é visto como fator negativo na avaliação), até conseguir passar em um concurso público para
professor de universidade pública. Só no cargo de
professor e não cientista, você consegue trabalhar como pesquisador e ser reconhecido com todos os direitos e deveres de um trabalhador.
A proposta da Profa. Suzana é regulamentar a profissão de pesquisador. Acabar com esse paradigma de bolsas de estudo de pós-graduação. No cenário proposto, os grupos de pesquisa contratariam, por
prazo indeterminado (assim como é nas outras áreas do setor privado), um
pesquisador graduado: com carteira assinada, direitos (férias, 13⁰, carteira assinada, previdência etc.) e deveres (jornada de trabalho de 40h, possibildiade de ser demitido por justa causa se não cumprir o contrato etc.).
Esse pesquisador profissional
pode fazer um doutorado na universidade. Concorreria às vagas e talvez até bolsas de produtividade atreladas a essa matrícula, faria seu trabalho, defenderia sua tese e obteria seu título. Mas com um
emprego de pesquisador em paralelo. Ou pode optar por manter-se na posição atual, realizando sua pesquisa como graduado, recebendo seu salário de graduado e, se for disso que seu grupo de pesquisa precisa, mantendo-se nessa posição. Da mesmíssima forma que um administrador/economista
pode fazer um MBA ou não, com as consequências dessa escolha.
Mas o mais importante: o cientista teria um emprego "de verdade" assim que formado, com seus direitos e obrigações,
além da possibilidade de fazer pós e sem ter que sair depois de poucos anos porque
a bolsa acabou.
O que os colegas pensam a respeito?
Para elucidar algumas dúvidas, a parte de perguntas e respostas do colóquio acima está aqui:
feature=youtu.be