Autor Tópico: Tendência à delinquência pode ser um comportamento inato, ou é adquirido?  (Lida 1780 vezes)

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Offline João da Ega

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Pode ter origem genética a tendência pra se praticar delitos (furtos, etc)?
"Nunca devemos admitir como causa daquilo que não compreendemos algo que entendemos menos ainda." Marquês de Sade

Offline Digão

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Re:Tendência à delinquência pode ser um comportamento inato, ou é adquirido?
« Resposta #1 Online: 06 de Setembro de 2013, 09:14:09 »
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(...)
Os profissionais desse campo concordam que não existe "gene do crime". O que a maioria dos pesquisadores está procurando são características herdadas que sejam ligadas à agressividade e a comportamentos antissociais, que, por sua vez, podem levar à criminalidade violenta.
(...)

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/ny0407201113.htm

Offline Jovem Cético

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Re:Tendência à delinquência pode ser um comportamento inato, ou é adquirido?
« Resposta #2 Online: 06 de Setembro de 2013, 14:55:56 »
  Tem crianças que gostam de maltratar animais,já vi muito disso onde moro.Matam gatos e cães abandonados por pura diversão.E muitos pais ignoram,depois não sabem como o filho virou um assassino.Acredito que sentir prazer com tortura ou morte  de animais é um mau sinal.
Afirmativas extraordinárias, exigem provas extraordinárias. Carl Sagan

Offline Gigaview

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Re:Tendência à delinquência pode ser um comportamento inato, ou é adquirido?
« Resposta #3 Online: 06 de Setembro de 2013, 15:58:33 »
Quer dizer que você nunca deu uma estilingada num passarinho? Amarrou uma pedra no rabo de um gato para jogá-lo para cima e testar seu giroscópio biológico? Ou dar uns choques no bichano para ver a que altura ele é capaz de pular?
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Tendência à delinquência pode ser um comportamento inato, ou é adquirido?
« Resposta #4 Online: 06 de Setembro de 2013, 17:10:53 »
Não são coisas mutuamente excludentes, e é bastante improvável que haja qualquer coisa como uma origem genética pura para explicar tudo, ou que variação inata individual de alguma forma seja sempre desprezível. Geralmente não no sentido de "gene(s) do crime", mas algo mais vago, que no entanto afeta as chances em combinação com outros fatores. Como, baixo QI, e/ou impulsividade, que provavelmente podem ter algo de genético (e novamente não 100% genético, ou geneticamente "simples"), têm correlação com criminalidade. Mas obviamente não são uma causas diretas, nem fatores necessários.

Offline caerus

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Re:Tendência à delinquência pode ser um comportamento inato, ou é adquirido?
« Resposta #5 Online: 06 de Setembro de 2013, 17:20:54 »
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The possibility that genetic factors are among the causes of criminal behavior was tested by comparing court convictions of 14,427 adoptees with those of their biological and adoptive parents. A statistically significant correlation was found between the adoptees and their biological parents for convictions of property crimes. This was not true with respect to violent crimes. There was no statistically significant correlation between adoptee and adoptive parent court convictions. Siblings adopted separately into different homes tended to be concordant for convictions, especially if the shared biological father also had a record of criminal behavior.
http://www.sciencemag.org/content/224/4651/891.full.pdf

Virtualmente todas as características fenotípicas humanas tem um componente genético e outro ambiental (incluindo o ambiente intra-uterino). Não há por que ser diferente com tendência à delinquência.


Offline caerus

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Re:Tendência à delinquência pode ser um comportamento inato, ou é adquirido?
« Resposta #7 Online: 06 de Setembro de 2013, 21:03:42 »
Todos eram adotivos no estudo, então esse efeito não foi observado. Há apenas a comparação delitos cometidos pelos filhos vs delitos cometidos pelos pais biológicos.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Tendência à delinquência pode ser um comportamento inato, ou é adquirido?
« Resposta #8 Online: 06 de Setembro de 2013, 21:41:56 »
?

Eu não disse nada que fosse exatamente oferecer uma explicação alternativa, mas é só um outro fator (de que pouco se ouve falar) que pode complicar a coisa. Se as chances de cometer crimes são aumentadas só por ser adotado, todos esses estudados já tinham essas chances aumentada nesse estudo em particular. Nem sei se tem alguma implicação importante ou muito significativa, só acho que é parte interessante da realidade.


Algo um pouco mais recente e levando em consideração interações entre gene e ambiente:

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Role of Genotype in the Cycle of Violence in Maltreated Children
Avshalom Caspi1,2, Joseph McClay1, Terrie E. Moffitt1,2,*, Jonathan Mill1, Judy Martin3, Ian W. Craig1, Alan Taylor1, Richie Poulton3
+ Author Affiliations

1 Medical Research Council Social, Genetic, and Developmental Psychiatry Research Centre, Institute of Psychiatry, King's College, London SE5 8AF, UK.
2 Department of Psychology, University of Wisconsin, Madison, WI 53706, USA.
3 Dunedin School of Medicine, Box 913, University of Otago, New Zealand.
ABSTRACT
We studied a large sample of male children from birth to adulthood to determine why some children who are maltreated grow up to develop antisocial behavior, whereas others do not. A functional polymorphism in the gene encoding the neurotransmitter-metabolizing enzyme monoamine oxidase A (MAOA) was found to moderate the effect of maltreatment. Maltreated children with a genotype conferring high levels of MAOA expression were less likely to develop antisocial problems. These findings may partly explain why not all victims of maltreatment grow up to victimize others, and they provide epidemiological evidence that genotypes can moderate children's sensitivity to environmental insults.




E crítica a estudos de gêmeos e conclusões sobre comportamento complexo:

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Twin Studies of Political Behavior: Untenable Assumptions?
Jon Beckwitha1 and Corey A. Morrisa2
a1 Department of Microbiology and Molecular Genetics, Harvard Medical School. E-mail: jbeckwith@hms.harvard.edu
a2 Program of Biological and Biomedical Sciences, Harvard Medical School. E-mail: cmorris@hms.harvard.edu
Abstract
Using the “classical twin method,” political scientists John Alford, Carolyn Funk, and John Hibbing conclude that political ideologies are significantly influenced by genetics, an assertion that has garnered considerable media attention. Researchers have long used human twins in attempts to assess the degree of genetic influence on various behavioral traits. Today, this methodology has been largely replaced in favor of contemporary molecular genetic techniques, and thus heritability studies have seen a diminishing role in behavioral genetic research of the twenty-first century. One important reason the twin method has been superseded is that it depends upon several questionable assumptions, the most significant of which is known as the equal environments assumption. Alford, Funk, and Hibbing argue that this crucial assumption, and thus their conclusion, holds up under empirical scrutiny. They point to several studies in support of this assumption. Here, we review the evidence presented and conclude that these attempts to test the equal environments assumption are weak, suffering significant methodological and inherent design flaws. Furthermore, much of the empirical evidence provided by these studies actually argues that, contrary to the interpretation, trait-relevant equal environments assumptions have been violated. We conclude that the equal environments assumption remains untenable, and as such, twin studies are an insufficient method for drawing meaningful conclusions regarding complex human behavior.

Que não deve se aplicar tanto a estudos como o primeiro, que vão direto nos genes, sem usar os esquemas de gêmeos como aproximação.

Offline -Huxley-

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Re:Tendência à delinquência pode ser um comportamento inato, ou é adquirido?
« Resposta #9 Online: 08 de Setembro de 2013, 18:34:46 »
Mesmo que o traço "criminalidade" seja parcial e significativamente hereditário, existe limitação dos modelos de hereditariedade da genética quantitativa (aquela que pesquisa os traços que envolvem interação de vários genes) em serem informativos em estimarem a influência genética na população humana. Já abrir um tópico sobre isso.

O argumento da “influência do gene único” merece ser analisado. Evidência da genética mendeliana é importante, mas ela traz uma armadilha enganosa para o público leigo que acompanha esses estudos por meio de jornalistas científicos. Mesmo que a ausência de um gene "normal" aumente a chance de criar a patologia no comportamento de um grupo de crianças maltratadas, isso ainda diz muito pouco acerca da magnitude da influência genética nas diferenças e semelhanças geralmente observadas entre irmãos gêmeos e irmãos adotivos. Para entender isso, basta citar uma analogia. Um fio desconectado faz um carro enguiçar, mas isso não significa que um fio sozinho é capaz de colocar o carro em movimento.

No que diz respeito a isso, o geneticista Massimo Pigluicci falou (citação de citação, vejam o livro de David Shenk que eu referi no tópico criado por mim):

“Os biólogos se deram conta de que, se você modifica ou os genes ou o meio ambiente, o comportamento resultante pode mudar drasticamente. O truque, então, não está em dividir as causas entre o que é inato e o que é adquirido, e sim avaliar [a maneira] como os genes e o ambiente dialogam para gerar o aspecto e o comportamento de um indivíduo.”

Offline -Huxley-

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Re:Tendência à delinquência pode ser um comportamento inato, ou é adquirido?
« Resposta #10 Online: 08 de Setembro de 2013, 18:39:35 »
Quem achou complicado e abstrato demais o que o Massimo Pigluicci falou, vejamos um exemplo prático do que ele quis dizer. Já pus isso no tópico "O genial que existe em nós":

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Experimento de Cooper-Zubek em 1958 com grupos genéticos de ratos com desempenho testado em labirintos ao longo de gerações mostraram como seus descendentes se saíram ao serem criados em diferentes ambientes. Antes que se testasse o número de erros que cometeriam ao caminhar nos labirintos, ratos descendentes dos grupos genéticos bons e maus – com diferença média de 40% em termos de erros entre os dois grupos – foram submetidos a esses ambientes:

Enriquecido – Casinha com paredes pintadas com cores fortes e vivas. Havia rampas, balanços, escorregos, espelhos e sinos.
Normal – Casinha com parede sem cores vivas. Poucos exercícios e brinquedos para estimular os sentidos.
Limitado – Basicamente um “barraco de rato”.

Quais foram os resultados? A única circunstância em que os ratos tiveram desempenho significativamente discrepante foi no caso em que foram criados em ambientes normais. Ratos ruins de labirinto tiveram um número de erros apenas 10% superior aos bons de labirinto na comparação da criação em ambientes enriquecidos. Por fim, ratos bons e maus de labirintos tiveram desempenho idêntico quando criados em ambientes limitados (eles foram igualmente burros!).

 

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