Autor Tópico: A perda da familiaridade  (Lida 611 vezes)

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Offline Dr. Manhattan

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A perda da familiaridade
« Online: 13 de Setembro de 2013, 17:18:01 »
Este é direcionado mais aos ateus e agnósticos:

De uns tempos pra  cá tenho notado um fenômeno curioso, que diz respeito à minha atitude frente ao cristianismo. Trata-se do título do tópico: o que posso chamar de uma perda de familiaridade com os ícones e dogmas do cristianismo. Notem que não se trata de um esquecimento ou ignorância, mas de uma mudança de visão frente a esses ícones e dogmas.

Explico: cresci em um ambiente permeado de cristianismo. Embora meus pais não sejam cristãos fervorosos (na verdade, meu pai é agnóstico e minha mãe não liga para religião geralmente) tenho parentes católicos e estudei em colégios católicos. Então era natural que eu visse figuras como Maria ou Jesus como "especiais". Isso foi algo que perdurou até mesmo depois de me descobrir ateu, na adolescência. Nesse caso, embora eu já não acreditasse, ainda tinha um lugar especial nas minhas memórias para as imagens e palavras associadas a esses personagens - da mesma forma que alguém pode lembrar com carinho de algum personagem de livro infantil de quem era fã. Porém, o que vejo hoje é que esse caráter especial dessas associações foi se perdendo, daí o título do tópico.

Hoje, ver alguém falando entusiasmado sobre Jesus é para mim equivalente a ouvir alguém derramando-se em elogios a Krishna, ou Mitra. Parece algo alienígena, forasteiro e bizarro. Parece que os cristãos finalmente se igualaram aos hindús, muçulmanos, cientologistas, etc. em minha mente.

Acho isso positivo. Alguém aqui já passou por isso?
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Alan Watts

Offline Muad'Dib

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Re:A perda da familiaridade
« Resposta #1 Online: 13 de Setembro de 2013, 18:29:06 »


Hoje, ver alguém falando entusiasmado sobre Jesus é para mim equivalente a ouvir alguém derramando-se em elogios a Krishna, ou Mitra. Parece algo alienígena, forasteiro e bizarro. Parece que os cristãos finalmente se igualaram aos hindús, muçulmanos, cientologistas, etc. em minha mente.

Acho isso positivo. Alguém aqui já passou por isso?

Eu sinto meio que a mesma coisa.

Eu nasci em família totalmente hostil com assuntos relacionados a religiosidade, mesmo assim eu cresci com um sentimento "espiritual" bem forte, que julgava --talvez ainda julgue-- algo inato na minha mente. Dessa religiosidade "inata" que era bem deturpada eu passei, bem abruptamente, no melhor estilo conversão, para uma fase espírita quase crente, dessa fase espírita eu passei para um espiritualismo bem particular. Hoje eu me considero um agnóstico que desqualifica totalmente a ideia de Deus.

Eu tenho bem claro hoje que um cristão não é diferente de um hindú ou um muçulmano. Que o cristianismo tinha um lugar privilegiado  na minha mente somente por ter crescido em um país cristão.

Maria eu não tenho nada muito a favor, mas Jesus para mim é com Gandhi, Buda e Confúcio, por exemplo. Pessoas admiráveis que moldaram a história.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:A perda da familiaridade
« Resposta #2 Online: 13 de Setembro de 2013, 21:52:16 »
Eu não tive uma criação muuuito religiosa, quase sempre fui "meio agnóstico" pelo menos (com o diferencial de nem levar ateísmo em consideração, apenas não ter certeza de qual relgião, se alguma, é a certa), e acho que essa perda de familiaridade veio meio rapidamente.

Mas em boa parte do tempo as pessoas falam de questões religiosas de forma que poderiam estar apenas usando metáforas, usando deuses gregos ou o que for. Nesses casos não tenho nenhum estranhamento. Mas quando falam de algo mais sem outra possibilidade de interpretação além da literal, eu de repente sou lembrado que há mesmo pessoas que de fato acreditam nessas coisas,

Acho que quando tinha uns 14 anos, um colega de escola estava comentando como uma vez achava que tinha um assaltante em casa, tinha se escondido embaixo da cama, e visto pés andando, mas não tinham roubado nada, e então algum primo/amigo/tio, "que é vidente," explicou que na verdade era só o fantasma do irmão dele que ele viu. Dei uma gargalhada na hora. :/

Offline Digão

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Re:A perda da familiaridade
« Resposta #3 Online: 14 de Setembro de 2013, 13:18:38 »
Buckaroo Banzai, assim fica difícil se disfarçar de religioso.  :hihi:

Dr. Manhattan, também estou passando por isso. Você não sente um vazio? Eu comecei a me desligar da igreja católica faz pouco tempo (ainda frequentava o coral da igreja por costume, mesmo ateu!!! - pelos laços com amigos de lá e pelo prazer musical da coisa em si) e com esse afastamento sinto que estou perdendo boas amizades e famliaridade com a instituição e os rituais em si. Por um lado é bom, você enxerga a religião mais criticamente, por outro não é tão bom assim, são lembranças que fazem parte de você desde a sua infância e ao mesmo tempo não fazem mais. Dilemas de ateu saindo do armário... :)

Por outro lado, aqui no meio cético ainda estou evoluindo. Pode observar que eu frequentemente não debato como cético, me apego demais às opiniões pessoais, ainda estou aprendendo a agir diferente. Estou como a gralha do Monteiro Lobato que se enfeitou com penas de pavão e não se deu bem em nenhum dos dois lugares, nem entre as gralhas, nem entre os pavões. ::) Espero que consiga evoluir como cético cada vez mais. :ok:


 

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