Eu tenho algumas dúvidas com relação a evolução :
Existem exemplos de como, por exemplo, um animal poderia ter desenvolvido a capacidade de expelir um certo quimico tóxico (se não me engano é um besouro e acho Dawkins usa este exemplo em seu livro "O Relojoerio Cego"). A explicação é meio "geral", sem entrar na questão genética. Ou seja : em um momento se forma a cavidade de armazenamento, em outro, o componente que ja seria usado pelo organismo passa a ser armazenado nesta cavidade, etc, etc.
Eu não entendo bem o que você pretende saber por "genética", e suspeito que essa explicação "geral" dos passos anatômicos já seja meio "fora". Essas coisas geralmente acontecem por "exaptações", que é praticamente só um jeito de dizer "adaptação" mas enfatizando o estado ancestral anterior aproveitado para uma outra função em vez de uma novidade completa. Isso é, em vez de "primeiro surgir um compartimento", "depois surgir a substância", "depois ser armazenada lá", primeiro se teria um compartimento "ancestral", já usado para alguma coisa "ancetral", com ambas as coisas ou modificadas completamente (desaparecendo o estado ancestral) ou "subdivididas" em "outras versões" (onde se mantém a anatomia homóloga ancestral em alguma outra parte do organismo, como glândulas de saliva e veneno para serpentes, ou suor e leite em mamíferos).
Eu não me lembro bem do caso do besouro, só me lembro que a argumentação criacionista simplesmente descrevia um mecanismo/anatomia inexistente, e talvez até química inexistente, e então discorria sobre a impossibilidade do sistema inexistente ter evoluído sem que o animal explodisse sozinho.
Se pensarmos em seres unicelulares, a ocorrencia de mutação durante a reprodução celular (uma agregação maior de genes em um organismo e menor no outro, etc) automaticamente já teremos três linhagens distintas que irão se reproduzir (claro, caso esta mutanção não inviabilize a reprodução) e a fixação da caracteristica se dará pela competição dos 3 organismos (o original, que tem a maior população e os dois novos que irão se replicar).
Porém, em seres que dependam de reprodução sexuada (aliás, como surgiu esta coisa divina?), eu não consigo entender como a mutação pode ocorrer sem que os "pais" produzam gametas com a "mesma" mutação ou compatíveis. E mais, como, após o nascimento de um ser mutante, que deverá ter parceiros compatíveis, essa mutação se fixa na população. Entendo que uma mera troca de bases não seria a resposta.
Em reprodução sexuada o que acontece é sim, um novo alelo apenas surge inicialmente sozinho (na vasta maioria das vezes, desconheço algo sobre origem de mutação em homozigose, talvez em espécies partenogênicas ou se acontecer qualquer coisa mais excepcional em algum momento da procriação, o que de qualquer forma seriam só exceções raras), e vai se tornando mais numeroso com o passar das gerações, sem precisar de nenhuma mutação coincidentemente igual ou similar "se é isso que quis dizer por "compatível") em ambos os progenitores.
Ele pode não ser vantajoso "em si mesmo", sozinho, e só começar a mostrar vantagem quando em homozigose, nesse caso ele teria chegado a freqüências um pouco mais altas primeiramente apenas por deriva genética, possivelmente de efeitos de gargalo, ou divisões "periféricas" da(s) população(ões) princial(ais).
A "origem do sexo" em si já é uma questão que pode ter pelo menos uns três significados diferentes. Eu acho que não saberia nem fazer um resumo que valha a pena sobre cada coisa, e nem acho que se tenha conhecimentos bem sólidos sobre quase qualquer coisa, exceto talvez no que se referir a divergência de gametas, acho que isso deve ser bastante aceito e difícil de explicar por outra coisa além de "conflito de interesses" e estratégias que maximizam uma coisa ou outra, fecundação ou desenvolvimento da prole.
Se por "compatível" quer dizer uma mutação que possibilitasse a viabilidade da primeira, bem, a resposta é que isso essencialmente nunca aconteceria, os efeitos fenotípicos das mutações não podem ser tão dramáticos assim a ponto de não poderem existir "sozinhas", de inviabilizarem o mutante. Talvez mais ou menos raramente aconteça algo como haver, dentre os genes não-fixos da espécie, alelos que viabilizam uma eventual nova mutação, e outros que inviabilizam, e calhar dela se originar em indivíduos que tenham os alelos que a viabilizam. Pode até ter ocorrido antes ou vir a ocorrer depois em outros, mas simplesmente "não conta", por lógica. Acho que isso é meio parecido com Rh negativo.
E se levarmos em consideração o tempo do surgimento da vida e a quantidade de mutação aleatória/seleção natrual para produzir toda a bioquimica/biologia existente; esta conta fecha, mesmo que em ordem de grandeza?Alguém já calculou isso, ou será que é calculável?
Duvido que alguém o tenha feito (senão talvez por criacionistas com algo bem simplificado e provavelmente cuidadosamente desenhado para dar uma resposta negativa), e acho que é bem difícil, perto de impossível. Bem complicada seria a questão do último ancestral comum e seus ancestrais ou mesmo linhagens mais próximas, o quanto poderíamos extrapolar deles. E ainda tem toda a questão de taxas de mutações diferentes em organismos e até no mesmo genoma, macromutações, e "super macromutações", como a
hipotética duplicação de todo o genoma em alguns momentos (duas vezes entre os vertebrados), e toda a complicação de transmissão lateral de genes.
Pergunto isso, pois acho que existe uma teoria da evolução que considera um feedback do meio ambiente, direcionando a mutação (acho que existe até um artigo, citando uma bactéria que teve a mutação influenciada pelo meio).
Aparentemente algumas espécies sob certos tipos de estresse ambiental têm taxas de mutação mais elevadas (estresse ambiental que não se consideraria causar diretamente a mutação, como radição ou qualquer agente mutagênico), mas acho que se debate se isso é uma resposta adaptativa, mais ou menos análoga à hipermutação do sistema imune, ou se é uma coincidência que calha de poder ser adaptativa sem ser ela mesma uma adaptação, e talvez nem ser adaptativa.