Autor Tópico: Se todas fossem iguais a você...  (Lida 699 vezes)

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Offline Donatello

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Se todas fossem iguais a você...
« Online: 25 de Outubro de 2013, 21:08:37 »
Não é que eu compartilhe tanto da percepção da autora sobre a questão (ao menos no que tange ao Brasil a imensa taxa de evasão escolar masculina me parece estar muito mais associada com a manutenção do papel de gênero quanto a quem deve sustentar a casa, sobretudo nas classes C, D e E, do que por características mais estritamente pedagógicas como propõe a autora não que estas por outro lado também não possam influenciar ou serem mais relevantes lá do que cá).

Mas decidi traduzir esta entrevista recente de minha feminista preferida para dar um exemplo de como é possível, ainda que raro, ser igualitarista de fato e sem deixar escapar alguma forma revanchismo/privilegismo/vitimismo em cada fala.

Original aqui. Erros de tradução? me chamem de burro e corrijam.

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|E quanto aos garotos?
|Onde é de fato a guerra?

Christina Hoff Sommers é o autora da nova edição do "A guerra contra os meninos: Como políticas equivocadas estão prejudicando os nossos jovens" . Você pode ouvir Christina quinta-feira em Washington durante um debate sobre se há uma guerra contra mulheres em curso ou se é de fato contra os homens. O debate será moderado por Jonah Goldberg e terá a participaçãoda analista política da Fox News, Kirsten Powers. Sommers falou com Kathryn Jean Lopez da National Review Online.


16 de setembro de 2013

KATHRYN JEAN LOPEZ: O que é a guerra contra os meninos?


CHRISTINA HOFF SOMMERS: É mais parecido com uma guerra pelo cansaço (war of attrition no original, alguma tradução melhor?). Ninguém acorda de manhã pensando: "Que coisa horrível que eu posso fazer para os meninos hoje?" Mas os meninos e homens jovens têm sido maciçamente negligenciados. Mulheres nos EUA hoje ganham 62 por cento dos diplomas de Ensino Médio, 57 por cento dos graus de bacharel, 60 por cento dos mestrados e 52 por cento dos doutorados. Quando um analista de educação política olhou para as tendências atuais no ensino superior comentou, meio em tom de brincadeira: "O último homem vai se formar na faculdade em 2068."

Houve um esforço imenso e muito celebrado para fortalecer meninas em áreas onde definhavam atrás meninos. O Título IX da lei anti-discriminação foi usado para acabar com a diferença nos esportes. Em meados dos anos noventa, o Congresso aprovou a Lei de Igualdade de Gênero, categorizando as meninas como uma "população que vinha sendo delegada a segundo plano" em pé de igualdade com outras minorias. Centenas de milhões de dólares foram gastos para melhorar o desempenho das meninas nos esportes, matemática e ciência. Hoje, são os meninos que precisam de ajuda. Mas até agora o Congresso e o Ministério da Educação continuam olhando para o outro lado.


LOPEZ: Este tem sido um tema seu por um tempo. Algo melhorou ou piorou?

SOMMERS: A Simon & Schuster me pediu para atualizar e revisar a edição de 2000 de The War Against Boys , precisamente porque a situação dos meninos está piorando. Um recente documento de trabalho do Escritório Nacional de Pesquisa Econômica documenta uma tendência notável entre os alunos com bom desempenho: Na década de 1980, quase o mesmo número de melhores alunos do ensino médio de ambos os sexos diziam que planejavam cursar pós-graduação. Pela década de 2000, 27 por cento das meninas expressaram essa ambição, em comparação com 16 por cento dos rapazes. Mas o agravamento das perspectivas sociais e educacionais dos homens brancos, latinos e negros jovens da classe trabalhadora e pobre que é mais desalentador. Um estudo de 2011 pelo Instituto Brooking descreve como milhões de jovens com baixa escolaridade foram "desatrelados do motor do crescimento." Como os Estados Unidos se move em direção a uma economia baseada no conhecimento, desempenho escolar tornou-se a pedra angular do sucesso ao longo da vida. As mulheres jovens estão se adaptando, os jovens não.


LOPEZ: Por que é muito mais um desafio educar os meninos do que as meninas? O que estamos fazendo de errado?

SOMMERS: Vamos admitir, os meninos são diferentes das meninas. Como um grupo, os meninos são barulhentos, turbulentos e difíceis de gerir. Muitos são confusos e desorganizados, e não ficam parados. Eles tendem a gostar de ação, risco e competição. Quando pesquisadores questionaram a meninos sobre o porquê de eles não gastarem muito tempo falando sobre seus problemas, a maioria deles disse que era "estranho" e um desperdício de tempo.

As salas de aula de hoje tendem a ser centrada n(a preservação d)os sentimentos, avessas ao risco, sem concorrência, e sedentárias. Já na pré-escola e no jardim de infância os meninos podem ser punidos por se comportar como meninos. O jogo mais característico de jovens do sexo masculino é a brincadeira de guerrinha. Não há sociedade conhecida, onde os meninos não conseguem evidenciar este comportamento (meninas também, mas muito menos). Em muitas escolas, guerrinhas não são mais toleradas. Adultos bem-intencionados, mas intolerantes, estão insistindo que o cabo-de-guerra seja alterado para cabo-de-paz; jogos como pega-pega estão sendo substituídos por "círculo de amigos" em que ninguém fica fora. Meninos de cinco ou seis anos podem ser suspensos por brincarem de polícia e ladrão. Nossas escolas tornaram-se ambientes hostis para a maioria dos meninos.


LOPEZ: Qual é a solução para evasão escolar masculina, e por que nossas escolas não a abordam?

SOMMERS: Por um lado, podemos seguir o exemplo dos britânicos, canadenses e australianos. Eles abertamente têm abordado abertamente a questão do insucesso masculino. Estão fazendo experiências com programas para ajudá-los a tornar-se mais organizados, focados e comprometidos. Estes incluem tarefas de leitura mais masculinas (ficção científica, fantasia, esportes, espionagem, batalhas); mais tempo de recreio (onde os meninos podem participar em brincadeiras tipicamente masculinas como uma pausa da rotina de sala de aula); campanhas para incentivar o letramento no sexo masculino; mais turmas divididas por sexo, e mais professores do sexo masculino (e professoras interessados ​​nos desafios pedagógicos que os meninos representam). Alguns anos atrás, o governo australiano lançou uma campanha chamada "Sucesso para os garotos.". Este programa fornecido subsídios para 1.600 escolas incorporarem métodos concebidos para meninos em sua prática diária.

Uma campanha como esta enfrentaria oposição furiosa no Congresso dos EUA. Legisladores iria receber uma avalanche faxes, e-mails, petições, e telefonemas de protestos por grupos feministas, acusando-os de participar de uma manobra de retrocesso contra as mulheres e meninas. Nos EUA, uma rede de grupos de mulheres trabalha incessantemente para proteger e promover o que considera os interesses femininos. Mas não há nenhuma contrapartida de trabalho para os meninos - eles estão largados ao deus dará.


LOPEZ: Quais são as implicações políticas da situação atual dos meninos?

SOMMERS: À luz da "crise dos meninos", liberais e conservadores podem ter de repensar algumas suposições valiosas sobre a origem dos nossos problemas nacionais. Liberais rotineiramente lamentam "a feminização da pobreza" e clamam ao governo por políticas mais generosas para ajudar milhões de mães solteiras desampar adas. Os conservadores lamentam o declínio da família e apontam para a necessidade de restaurar os valores básicos. Mas, como um crescente corpo de evidência deixa claro, tanto a pobreza feminina e o declínio da família eão diretamente ligados à queda das rendas dos homens jove fortunas.
« Última modificação: 26 de Outubro de 2013, 10:39:33 por Donatello van Dijck »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Se todas fossem iguais a você...
« Resposta #1 Online: 25 de Outubro de 2013, 21:19:13 »
Se não me engano (ou, segundo estudo, se me recordo), antes da faculdade, o contrário acontece com meninas, especialmente em famílias de origem latina e negra, porque as meninas é que tem o dever de ajudar em casa nas tarefas domésticas. "Coisa de mulher".


Eu não duvido nada/concordo completamente com a existência e proliferação de baboseiras politicamente corretas, geralmente com a tendência a enfatizar situações de vitimação estereotípicas, podendo ir do aparentemente razoável ao exagerado/desproporcional, mas também suspeito bastante de diversas críticas que uns tentam fazer.

No caso, duvido muito que qualquer problema de desempenho escolar possa ser mesmo atribuído a proibições de brincadeiras como "cabo de guerra". Isso parece estar sendo simplesmente inventado aí. Será que é o caso "universal"? Será que em todo lugar onde deixam os meninos mais livres para brincadeiras estereotipicamente masculinas eles têm notas melhores, e quando estas são coibidas, as notas baixam? Duvido muito.

Deve ter muito mais coisas e essa teoria de vitimização invertida deve ter tanto exagero ou mais do que as teorias de vitimização feminina. Embora ambas possam ter seus elementos verídicos, obviamente.

Offline Donatello

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Re:Se todas fossem iguais a você...
« Resposta #2 Online: 25 de Outubro de 2013, 21:25:11 »
Não, a evasão escolar masculina, pelo menos no Brasil, tem um desenho piramidal e desde os primeiros anos letivos: em todas as séries hoje, desde o comecinho, são os meninos a minoria, e isto progride até o Ensino Superior. Os dados da PNAD indicam claramente do mesmo modo que indicam (e é academicamente consensual, embora midiaticamente irrelevante) que este desenho está relacionado direta e proporcionalmente à entrada dos meninos pobres no mercado de trabalho. Desconheço que o trabalho doméstico infantil seja um fator de evasão ou mesmo que seja apontado como tal pelos feministas, geralmente isso é mais citado como uma espécie de doutrinação para o papel de dona-de-casa (não que não seja mesmo).

Quanto esta ênfase nos aspectos pedagógicos, digamos, feminizantes... feita por ela, também acho estranho, não que não possa ser um fator do cenário mas jamais pensaria nisso como O fator.
« Última modificação: 25 de Outubro de 2013, 21:47:20 por Donatello van Dijck »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Se todas fossem iguais a você...
« Resposta #3 Online: 25 de Outubro de 2013, 21:47:04 »
O que eu falava se referia aos EUA, e não era quanto a evasão, mas notas mais baixas por menos tempo para estudar em casa, com mais tarefas domésticas.


Offline Donatello

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Re:Se todas fossem iguais a você...
« Resposta #4 Online: 25 de Outubro de 2013, 21:59:25 »
Ahh, sim, depois de responder entendi que você só podia estar falando sobre os EUA (latinos e negros, passei batido por isso :) ) mas não que estivesse falando mais quanto a desempenho que permanência.

Algum tempo atrás postei uma tabela (de resultados anuais do vestibular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro) em outro post que demonstrava que apesar do número de ingressos masculinos naquela universidade ser numericamente menor as notas destes no vestibular eram acachapantemente maiores (a UERJ tem um sistema de classificação que divide os vestibulandos entre conceitos A B C D E, os rapazes eram a imensa maioria dos A B e as meninas eram a maioria dos D E com empate no C). Me lembro que quase fui chamado de nazista e que admiti ter ficado confuso com os dados.

É uma hipótese, talvez meninas consigam ir mais além nos estudos (por conta dos meninos que trabalham e abandonam a escola) mas tenham menos tempo para se dedicar a estudar (em comparação aos outros meninos que não trabalham e ficam em casa sem fazer nada o dia todo ao passo que elas ficariam ajudando as mães). É uma hipótese... nunca li a respeito mas pode ser.

Offline Südenbauer

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Re:Se todas fossem iguais a você...
« Resposta #5 Online: 26 de Outubro de 2013, 14:36:11 »
Interessante.

 

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