Tentei imaginar uma seção melhor, mas talvez esta seja a mais dedicada.
A proposta do tópico é compartilhar experiências dos foritas nas duas áreas, quais sejam a ciência natural e humana (ou cultural, social, etc.), a fim de explorar a SATISFAÇÃO PESSOAL da área escolhida.
Bom, o que me motivou a essa reflexão é uma certa desilusão com o Direito. Meu campo, portanto, é na ciência cultural.
Sou formado, atuo na área há um tempo (não muito, mas o suficiente para ter uma visão objetiva e realista).
Pois bem, o que eu verifico? Sim, óbvio até, o Direito é imprescindível para a coexistência humana. Protege valores essenciais da comunidade (o homem é um animal político), garantindo, diante do outro (alteridade), expectativas e comportamentos; mas não só, à vista de uma desigualdade natural da existência, a vida, a saúde, etc dos menos afortunados.
E na prática? Processo. O processo é o instrumento de trabalho do jurista. É o locus onde se desenrolam os conflitos entre as pessoas, seja no âmbito civil, penal, administrativo, eleitoral, trabalhista e militar. O que isso significa? Páginas e mais páginas de discussões, com elucubrações, interpretações, justificativas e, infelizmente, chicanas. O trabalho, portanto, dependendo da posição que se está, e aqui eu tomo a do magistrado, é VALORAR, PONDERAR entre as pretensões, a fim de verificar e decidir qual é a constitucional e legalmente mais consentânea. A do advogado (e do Ministério Público) é defender a sua posição. A lógica da coisa é mais ou menos essa.
Mas cansa. E meu ponto é esse. É muito gratificante você saber que está fazendo a coisa certa. Todavia, todo santo dia, apreciar sempre a mesma, apesar da diversidade entre os fatos, sem dúvida, leva a uma monotonia. Todo trabalho deve ser assim, mas cada um com sua especificidade. Há o lado acadêmico do direito, por exemplo, menos prático, logo mais afastado da realidade, onde se sabe que as "coisas" não funcionam tal como abstratamente pensado, exigindo-se uma perspicácia própria.
Eu fico curioso com as outras profissões da outra área. Há os professores, mas, fundamentalmente, acredito eu, têm os pesquisadores. Acho que a tônica seja esta última, aliada à primeira, dado que o cientista, digamos, tem como propósito "ler" a natureza e extrair suas leis próprias, entender o funcionamento do universo, etc. É um estudo infindável, tal como no direito, claro, mas neste, para deixar clara minha visão, você não lida exatamente com o problema, você enfrenta o conflito no papel, é um estudo indireto, coloquemos assim. Já o cientista, por outro lado, estuda a própria coisa. Pode-se, sim, estudar a lei em si (campo acadêmico ou no legislativo mesmo), mas veja que, mesmo assim, você não lida com o fato a ser objeto de sua aplicação.
O que eu quero dizer com isso tudo: parece mais gratificante você estudar o universo (e eu sou apaixonado por astrofísica, por exemplo) do que lidar com os problemas dos outros — grosso modo, claro. Deve ser um fascínio conhecer as inúmeras teorias que expliquem o universo, das mais variadas formas, sempre com um contato direto com ela. Ao contrário do jurista, que deve afeiçoar-se, aproximar-ser, das leis humanas, o cientista concentra sua atenção na natureza, nas leis naturais, aquilo que há de mais concreto.
Um não é mais certo ou necessário que o outro. Sabemos que ambos são imprescindíveis.
Bom, essa é minha visão — reconheço que foi praticamente um desabafo. E a de vocês? Como você vê sua profissão?