Autor Tópico: Políticas de des-radicalização religiosa?  (Lida 1327 vezes)

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Offline Buckaroo Banzai

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Políticas de des-radicalização religiosa?
« Online: 29 de Outubro de 2013, 13:23:14 »
Além de restrições em imigração, países com risco de destino de imigração de culturas religiosas radicais poderiam fazer alguma outra coisa além de "manter a lei" quanto aos menos moderados que já estejam no país, ou para evitar radicalização entre eles?

Algo como subsidiar grupos ou vertentes mais moderadas, tentar ajudá-las a conquistar adeptos entre aqueles com maior risco de radicalização? Incluindo-os num grupo social maior, menos propenso a ver com admiração o "heroísmo" dos radicais e mártires, dando uma direção melhor a essa "vocação" ativista.



Offline Gigaview

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Re:Políticas de des-radicalização religiosa?
« Resposta #1 Online: 29 de Outubro de 2013, 19:33:54 »
Não acho que isso seja possível. No entanto, podem ser tomadas algumas medidas anti-radicais. A proibição do véu na França pode ser interpretada com sentido de des-radicalização, pelo menos de não exibir esse tipo de radicalidade.
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Políticas de des-radicalização religiosa?
« Resposta #2 Online: 29 de Outubro de 2013, 19:45:39 »
Pois eu acho que esse tipo de coisa tende a ser contraproducente. É visto/enquadrado como um ataque a eles.

Talvez possa ser pior do que eu imaginava. Scott Atran:

Citar
[...]  Another thing is, yes, protect some of the vulnerable targets, but I think that actually is less important than trying to stop this phenomenon from becoming adopted, like a sort of virus, by these populations. How do you prevent the ideology of suicide terrorism from attaching itself to the populations that support it? How do you get the people themselves to stop harboring the suicide terrorists? You've got to talk with them. You've got to address their grievances. Not the grievances of Al Qaeda, but the grievances of these people. Then there's got to be support for moderate groups. Alan Krueger in his last study looked at poverty and civil liberties as two factors in suicide terrorism. He found that poverty is not an appreciable selection factor but that the lack of civil liberties is a predictor of where you'll find suicide terrorism. When you don't give these people any political space to express themselves, they become radicalized. [...]

http://discovermagazine.com/2003/oct/featdialogue

Offline West

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Re:Políticas de des-radicalização religiosa?
« Resposta #3 Online: 30 de Outubro de 2013, 22:16:56 »
Vai depender da legislação de cada país, mas penso que a maioria dos países ocidentais hoje vedam esse tipo de coisa. No caso do Brasil, qualquer ação nesse sentido é expressamente proibida pela constituição que impede qualquer ingerência do estado tanto no sentido de fomentar como de desincentivar a prática de qualquer religião. Não tem como se tentar impor limites a determinada prática religiosa sob o pretexto de se controlar o radicalismo/fanatismo religioso.
"Houve um tempo em que os anjos perambulavam na terra.
Agora não se acham nem no céu."
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Provérbio Iídiche.

"Acerca dos deuses não tenho como saber nem se eles existem nem se eles não
existem, nem qual sua aparência. Muitas coisas impedem meu conhecimento.
Entres elas, o fato de que eles nunca aparecem."
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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Políticas de des-radicalização religiosa?
« Resposta #4 Online: 31 de Outubro de 2013, 17:08:39 »
Acho que não é tão simples, preto-e-branco assim.

Não se trata de tentar "impor limites numa prática religiosa" ("abolir o islã", ou proibir véus), mas promover integração social e valores condizentes, e assim desestimular comportamento anti-social.

E nos casos mais extremos, a constituição/legislação intervém sim. Não podem haver execuções, torturas, etc, de motivação religiosa. E mesmo coisas mais amenas. Há algum tempo um ex-testemunha de Jeová vítima de "shunning", de isolamento/consideração como pária/pessoa "inexistente", conseguiu até processar alguém, acho que a iagreja ou grupo.


Offline West

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Re:Políticas de des-radicalização religiosa?
« Resposta #5 Online: 31 de Outubro de 2013, 22:02:11 »
Desestimular comportamentos anti-sociais, criminalidade, etc. é o que todo estado procura fazer, quer por meio do sistema jurídico, quer por meio do sistema educacional, etc. Se a prática religiosa não recai no ilícito/crime não tem como o estado interferir. Se recai no ilícito/crime o estado intervem não em razão da prática religiosa em si, mas em razão do ilícito/crime praticado.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Políticas de des-radicalização religiosa?
« Resposta #6 Online: 31 de Outubro de 2013, 22:15:03 »
Eu não disse que se devesse "interferir no que não é ilícito", mas algo que possa ser fraseado como "promover a inclusão/integração social". O estado não é só polícia, existem uma série de "ações culturais" promovidas pelo estado, desde eventos, até criações de museus, parques, bibliotecas, etc.

http://www2.cultura.gov.br/site/categoria/politicas-culturais/

http://athens.usembassy.gov/integration_dcm.html

http://en.wikipedia.org/wiki/Cultural_policies_of_the_European_Union

http://en.wikipedia.org/wiki/Cultural_policy

 

Offline Stentor

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Re:Políticas de des-radicalização religiosa?
« Resposta #7 Online: 18 de Novembro de 2013, 10:29:41 »
Algumas instituições religiosas no Brasil têm caminhado pra um radicalismo religioso baseado na cara de pau de aproveitadores que usam esse radicalismo mais pra atrair gente frágil que quer ser guiada do que realmente acreditam no que dizem.

É preciso acabar com a imunidade tributária dos templos no Brasil, defendida na Constituição no 150, VI, b., através de emenda constitucional. Precisam pagar IPTU, pagar Imposto de Renda, ITBI e ISS, como todas as empresas que auferem lucros, pois há igrejas que são grandes empreendimentos claramente lucrativos.

O argumento legal é o de que o art. 19 da Constituição fala que o Estado não pode subvencionar religiões. E isentá-las de pagar impostos, como todos nós, quando elas na verdade amealham fortunas, é subvencioná-las.

Se igrejas universais da vida tiverem a torneirinha de grana reduzida, o financiamento de bancadas religiosas da vida no Legislativo, o Lobby no Executivo e no Judiciário e a força na mídia serão reduzidos também, e a sociedade ganhará com a diminuição do sustento financeiro da cara de pau desses caras.
« Última modificação: 18 de Novembro de 2013, 10:32:36 por Stentor »

Offline Diegojaf

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Re:Políticas de des-radicalização religiosa?
« Resposta #8 Online: 18 de Novembro de 2013, 13:58:18 »
http://www.icct.nl/download/file/ICCT-Schmid-Radicalisation-De-Radicalisation-Counter-Radicalisation-March-2013_2.pdf

"Based on an in-depth literature review, ICCT Visiting Research Fellow Dr. Alex P. Schmid explores the terms ‘radicalisation’, ‘de-radicalisation’ and ‘counter-radicalisation’ and the discourses surrounding them. Much of the literature on radicalisation focuses on Islamist extremism and jihadist terrorism. This is also reflected in this Research Paper which explores the relationship between radicalisation, extremism and terrorism. Historically, ‘radicalism’ – contrary to ‘extremism’ – does not necessarily have negative connotations, nor is it a synonym for terrorism. Schmid argues that both extremism and radicalism can only be properly assessed in relation to what is mainstream political thought in a given period. The paper further explores what we know well and what we know less well about radicalisation. It proposes to explore radicalisation not only on the micro-level of ‘vulnerable individuals’ but also on the meso-level of the ‘radical milieu’ and the macro-level of ‘radicalising public opinion and political parties’. The author reconceptualises radicalisation as a process that can occur on both sides of conflict dyads and challenges several widespread assumptions. The final section examines various counter-radicalisation and deradicalisation programmes. It concludes with a series of policy recommendations. "

Citar
De-radicalisation, Disengagement and Protection
1. De-Radicalisation Factors
1.1 Rejection of rigid ideology
1.2 Rejection of violence
1.3 Evidence of replacement of non-violent goals
1.4 Motivation to de-radicalise present

2. Disengagement Factors
2.1 Belief that violence is a failing strategy
2.2 Disillusionment with spiritual leadership
2.3 Shift in ideology
2.4 Disillusionment with organisation experiences
2.5 Grown away from movement

3. Protective Factors
3.1 Family/girlfriend/spouse influence relating to rejection of violence
3.2 Community public opinion moved away from support for violence
3.3 Change of vision of enemy and desired outcome
3.4 Reversal of social alienation
3.5 Non-violent views of significant others
« Última modificação: 18 de Novembro de 2013, 14:05:01 por Diegojaf »
"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." - Rui Barbosa

http://umzumbipordia.blogspot.com - Porque a natureza te odeia e a epidemia zumbi é só a cereja no topo do delicioso sundae de horror que é a vida.

Offline Stentor

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Re:Políticas de des-radicalização religiosa?
« Resposta #9 Online: 18 de Novembro de 2013, 14:10:15 »
Diegojaf, ótimo documento.

Tem um trecho lá no final bem interessante:

"Governments need not be perfect before they can effectively engage in successful counter-radicalisation efforts. However, they have, in  the eyes of domestic and foreign publics, to be markedly better than extremist parties and terrorist organisations. Political leaders need to stand on the moral high ground when it comes to fighting abuses of power, redress injustices and address popular grievances. Wherever that can be achieved at least in part, extremists and terrorists have, in the long run, no chance of success."

Fico imaginando como aplicaríamos um "líderes políticos precisam permanecer em terreno moral elevado [...] para que extremistas e radicais não possuam chances" no Brasil. Pois é...

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Políticas de des-radicalização religiosa?
« Resposta #10 Online: 20 de Novembro de 2013, 02:21:16 »
"Radical" é muitas vezes usado como sinônimo de "terrorista", mas nesse contexto religioso pode significar (dependendo da adoção do termo por cada um, o que é algo livre e logo propenso a confusão) apenas algo como "fundamentalista"/"conservador", mas que não necessariamente apóia o terrorismo.

Nos textos/estudos do Atran ele inclusive diz que a religiosidade/prática religiosa entre os muçulmanos (que quase que universalmente poderiam ser tidos como "radicais" no sentido de "fundamentalista"/"conservador", em comparação aos católicos não-praticantes da vida) tem menor correlação, ou correlação negativa, com apoio ou associação/prática terrorista.

Offline Diegojaf

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Re:Políticas de des-radicalização religiosa?
« Resposta #11 Online: 20 de Novembro de 2013, 09:03:48 »
"Radical" é muitas vezes usado como sinônimo de "terrorista", mas nesse contexto religioso pode significar (dependendo da adoção do termo por cada um, o que é algo livre e logo propenso a confusão) apenas algo como "fundamentalista"/"conservador", mas que não necessariamente apóia o terrorismo.

Nos textos/estudos do Atran ele inclusive diz que a religiosidade/prática religiosa entre os muçulmanos (que quase que universalmente poderiam ser tidos como "radicais" no sentido de "fundamentalista"/"conservador", em comparação aos católicos não-praticantes da vida) tem menor correlação, ou correlação negativa, com apoio ou associação/prática terrorista.

Sim, um cara que ateia fogo ao próprio corpo é um radical, da mesma maneira que aqueles "rednecks" americanos que criam comunidades e curtem reprodução entre eles. Nesse link que passei, umas das conclusões é que o processo de radicalização se dá com a falta de legitimidade do Estado para proteger as garantias devidas. Hoje mesmo no Brasil vemos mais radicalismo justamente pela falta de "fé" no sistema.

Mas pelo menos pelo que eu entendi, é improvável de se conseguir a "desradicalização" de um indivíduo. O que eles buscam atenuar é o engajamento deles, que seria o potencial de risco de um ato violento por parte dessa pessoa. Isso é conseguido demonstrando que existem maneiras políticas de se alcançar os objetivos pretendidos, mas isso não acaba com a radicalização do indivíduo.

Das organizações terroristas de 1968 pra cá, 43% terminaram com o grupo desistindo da luta armada e entrando pro sistema político. Outros 40% foram vencidos através de políticas de segurança pública (prisão, mudanças na legislação ou assassinato de chefes de grupos. Só 7% foram derrotadas com o uso de forças militares (por isso eu acho que são inúteis aquelas incursões em favelas com Forças Armadas, são um show, mas a longo prazo sem a adoção de políticas públicas, dão zero resultado) e só 10% venceram.

http://www.rand.org/content/dam/rand/pubs/monographs/2008/RAND_MG741-1.pdf
Página 47.
"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." - Rui Barbosa

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Offline Diegojaf

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Re:Políticas de des-radicalização religiosa?
« Resposta #12 Online: 16 de Fevereiro de 2014, 10:10:27 »
Entrevista com um dos terroristas responsáveis pelo ataque em Bali

<a href="http://www.youtube.com/v/Kk_TOI5b0tk" target="_blank" class="new_win">http://www.youtube.com/v/Kk_TOI5b0tk</a>
"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." - Rui Barbosa

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