Novo tipo de humor onde a piada é feita contra o oprimido? Isso foi uma piada? Por que eu ri

Bom, como eu já palpitei aqui em outros tópicos um monte de vezes eu sou a favor da liberdade de expressão em seu nível descaralhado: pra
moi a liberdade de expressão só faz sentido se ela permitir que eu não apenasmente faça piadas sobre pretos, brancos, gordos, viados, vascaínos (ops, foi mal, eu já tinha mencionado os viados), ateus, macumbeiros, evangélicos, pessoas com câncer... mas inclusivemente que se opine a sério contra estes grupos. A liberdade de expressão ao meu ver deve garantir que o Datena diga que o "ateísmo estimula a criminalidade" e que neonazistas digam acreditar que "negros têm um QI menor do que o de seres humanos."
Liberdade de expressão com limites quanto ao que pode ou não ser livremente expresso faz tanto sentido para mim quanto um pai que avisa que fez um cartão de crédito adicional em nome do filho mas que o cartão ficará guardado permanentemente com ele (o pai) que também será o único que terá a senha.
Concordo quando o Barata aponta alguma incoerência quando alguns defensores do Gentilli apontam as críticas que ele vêm sofrendo como um ataque à liberdade de expressão: ataque à liberdade de expressão neste caso só aconteceria se o Estado tomasse alguma medida contra o Gentilli: se ele for preso, ou condenado a pagar multa, ou indenização, ou tiver seu programa suspenso por mandado judicial... aí haverá ao meu ver um atentado contra a liberdade de expressão. Enquanto a coisa se limitar a posts do Bule Voador no Facebook chamando o cara de imbecil, a e-mails dirigidos à Band pedindo que a empresa demita o humorista, a mensagens dizendo que o cara deveria ser condenado à morte num daqueles aparelhos de tortura quebradores de ossos da Idade Média... ou coisas do tipo, nada está sendo feito contra liberdade alguma do humorista, apenas estão (olha que curioso o que vou dizer) usando suas próprias liberdades de expressão.
A questão fundamental para mim é que TODO MUNDO, todo mundo mesmo, emite opiniões ofensivas, piada ofensiva então é um pleonasmo vicioso. É óbvio que eu também fico ofendido, assim como diz lá o vlogger do canal Amazing Atheist que eu já postei um monte de vezes aqui (e vou postar de novo, se as discussões voltam os meus argumentos podem se repetir rsrsrsrsr) "ficar ofendido é perfeitamente natural".
Eu me ofendo com o programa do Datena, e não só quando ele diz que ateus são criminosos. Eu me ofendo com o discurso vitimista e fraudulento baseado em falsas estatísticas e simplificações baratas de feministas, GLTBSativistas e cota-dependentes assim como me ofendo com os discursos dos Bolsonaros e Felicianos da vida... quer dizer, neste aspecto, quando o assunto é igualdade de gêneros/raça/opção sexual eu costumo me ofender em dobro em relação à maioria das pessoas.
Agora, a questão é: eu tenho consciência de que muito do que eu falo, muito do que eu opino, muito do que eu faço piada sobre também é ofensivo para A ou B ou C então eu não tento banir as opiniões alheias porque entendo que isso seria justificar o alheio em um eventual esforço de banir as opiniões minhas.
Eu acho que não temos saída: ou vivemos num mundo em que as pessoas devem viver mudas, sem opinar sobre absolutamente nada menos brando do que "olha só, adorei a cor que você pintou sua casa, ficou muito aconchegante"; ou num mundo onde as pessoas devem se esforçar por compreender que opiniões diferentes das suas povoam as cabeças dos outros; ou num mundo de incoerências em que determinados grupos tem mais direito de opinar e outros menos direito de se sentirem ofendidos.
Não é que destas três opções acima exista um mundo ideal de casinhas de biscoitos e ruas de barra de chocolate com rios de milk-shake. Mas o menos distópico pra mim é a opção do meio.
Como dirá o gordinho nerd esquisito do vídeo abaixo em sua última frase: "queremos uma nação de surdos-mudos? ou desenvolver dedos médios mais musculosos?"
http://www.youtube.com/v/tQrk7ejSgr4