Jesus foi condenado por sonegar impostos. Estudioso do direito canônico afirma que crucificação teve motivação políticaFilho de Deus ou anarquista? Ou as duas coisas? Afinal, as afirmações não se excluem. Pelo menos foi a essa conclusão que chegou Vinícius Leôncio, 41, advogado tributarista e estudioso do direito canônico. Durante seis anos, agiu exatamente como um juiz, colhendo provas, se debruçando sobre a Bíblia e inúmeras fontes para entender e provar (Jesus novamente no banco dos réus) que Jesus foi crucificado por se recusar a pagar os impostos a César e o dízimo. Ele só não arrolou as testemunhas por motivos óbvios. Quando começou suas pesquisas, o advogado tinha um propósito claro: analisar e compreender a clássica frase: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” . Ele nega que tivesse a intenção de provar que Jesus havia sido um sonegador de impostos. “Não fui seduzido por tendências pessoais e nem influenciado por meras suspeitas, quer por razões, quer por convicções de natureza religiosa ou política”.
Vinícius considera as Sagradas Escrituras nada mais que o Regulamento do Estado Judeu, “um texto absolutamente político, pois contém todas as leis tributaristas, cíveis, criminais, trabalhistas e processuais dos judeus em detrimento às leis reguladoras do amor, que são a essência de Deus. Mesmo com o advento do Novo Testamento, a Igreja Católica atraiu para si a tarefa, privativa da sociedade, de regular o Estado”.
Para o advogado, Jesus dita a nova lei do amor, rompe com a abstenção do trabalho aos sábados, expulsa com violência os comerciantes do templo, questiona diretamente a autoridade da lei ao afirmar: “ A lei e os profetas duraram até João. Desde então é anunciado o reino de Deus e todo homem emprega força para centrar nele”.
Diga-se, de passagem, que Jesus afirmou: “
Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer a paz, mas a espada” (Mt.10:34). Em outra passagem, Jesus diz: “
Vim lançar fogo na terra, e que mais quero, se já está aceso?” (Lc.12:49).
As conclusões das pesquisas do especialista em direito canônico estão no livro “A Quarta Filosofia – Jesus não Pagou o Tributo” e nesta entrevista.
De onde veio o seu interesse pelo direito canônico?O direito canônico regula as relações da Igreja Católica com seus fiéis e com seus membros. É como o direito comum: tem seu código, seu tribunal. Meu interesse se prende ao fato de que o Deus descrito na Bíblia é extremamente complicado. É necessário um intermediário: padres, pastores ou ministros para que o homem chegue a Deus. Esses intermediários, muitas vezes, extorquem as verdadeiras doutrinas contidas nos escritos. O leigo e o aflito ficam mais atentos à grandiosidade das narrativas bíblicas, do que à essência das mesmas. É lindo ouvir dizer que o mar abriu e todo o exército de Moisés passou ileso. Mas, sabe-se que o mar já abriu inúmeras vezes. A meu ver, não se tratou de um milagre. Além disso, Deus é muito financista, só pratica o bem se for remunerado e adorado.
O que vem a ser a quarta filosofia? Até o ano 6 d.C havia três filosofias por entre os judeus: saduceus, fariseus e essênios. Foi quando surgiu a quarta filosofia, representada pelo grupo dos zelotes. Nacionalista, defendia o não pagamento dos tributos a Roma e, inclusive, praticava atos terroristas contra os contribuintes que pagavam o tributo. A quarta filosofia foi instituída por Judas (não o Iscariotes) e tanto os zelotes como Jesus defendiam o fim dos pagamentos dos tributos. Também a condenação de Jesus foi exatamente nos mesmos moldes da condenação dos zelotes: crime de sedição, tumulto, agitação política, sonegação de impostos. O primeiro evento público de Jesus foi a realização de uma espécie de congresso que reivindicava a redução da carga tributária.
Por que Jesus foi julgado segundo as leis romanas e não segundo as leis judaicas? Logicamente porque cometeu um crime previsto nas leis romanas e, portanto, um crime político. A Judéia estava sob controle romano. Quando o crime era de natureza religiosa, a competência para o julgamento era das autoridades judaicas. Se o crime fosse de natureza política, somente competia o julgamento às autoridades romanas. Se Jesus fosse julgado segundo as leis judaicas, despertaria uma inconsolável revolta na população. Era preciso depositar sobre Roma o peso de sua condenação porque assim não haveria uma reação. Mas, como Roma condenaria Jesus se somente agia em casos de crimes políticos? Através da imputação de um crime político: a sonegação de impostos.
“Jesus foi preso como agitador, ou alguém que poderia tornar-se o motivo de uma agitação política”, concluiu Maurice Goguel em seu livro “O Processo de Jesus”. “Jesus foi açoitado como um rebelde e depois o crucificaram como traidor a César”, sentenciou Josef Pickl no mesmo livro. “Os evangelhos deixaram bem claro que Jesus foi executado sob a acusação de crime político. As autoridades temiam seu poder político. Ele foi aclamado ´Rei dos Judeus´. Nunca negou o título, que carregou com nobreza até o fim. Não apenas tinha zelo fervoroso de um zelota, mas foi crucificado como um zelota”, afirma William Reuben Farmer.
Explique a frase: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.As autoridades precisavam arrumar uma maneira de incriminar Jesus. Perguntaram a ele se era lícito ou não pagar o tributo a César. Jesus pediu que lhe mostrassem a moeda do tributo, sendo-lhe apresentado o denário, a moeda romana. Ele questionou de quem era a esfinge gravada na moeda. “É de César” , responderam. Ao que Jesus disse: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Se Jesus mandasse não pagar o tributo, seria considerado um propagandista de César, o que contrariaria seus seguidores. A resposta de Jesus, de enorme maestria, manda tirar de César o que pertence a Deus, ou seja, ao povo de Israel. Jesus não poderia ter dito povo, por isso disse Deus.
Como um homem que dizia ser o Filho de Deus, uma pessoa que pregava a paz e o amor ao próximo pode ter sido crucificado? Não existe aí algo errado? Embora Jesus tivesse no amor seu fundamento, afirmou que sua missão não era a paz, mas sim a guerra, a discórdia. Quando Jesus tinha aproximadamente oito anos se apresentou ao templo e foi considerado uma criança polêmica em potencial. A pena de morte não era uma medida judaica e sim romana, aplicada em casos de crimes de natureza política. No caso de Jesus, a sonegação de impostos.
A conclusão do seu trabalho é de que Jesus se recusou a pagar os impostos cobrados por Roma e ainda os dízimos? Sustente a sua acusação.
Quando Jesus pronunciou a frase “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, pretendia, na verdade, que cessasse a cobrança de impostos realizada por Roma. Quando os fiscais abordaram Pedro, perguntando se Jesus pagava regularmente seus impostos, Jesus interrompe o diálogo e pede uma dispensa do pagamento do imposto. Mas para não escandalizar os fiscais, Jesus manda Pedro ir ao mar pegar um peixe, retira-lhe da boca duas moedas de ouro e com elas paga o imposto. Todavia, peixes com moedas de ouro na boca, era apenas de uma lenda naquele tempo. Jesus, em todas ocasiões, demonstrou uma adversidade impressionante para com os fiscais. Jesus resgatava a honradez de toda espécie de pecadores, mas, quando era um fiscal, tratava-o de uma forma muito diferente.
Jesus se recusou a pagar o tributo (dízimo) previsto na lei judaica. Jesus viu seu povo aniquilado pela miséria causada por excessos tributários, tanto por parte do Império Romano, como pela implacável e lucrativa empresa religiosa judaica. Jesus sabia que as regras constantes no Antigo Testamento eram malignas para o seu povo por prometerem aos defensores das leis aquilo de que o povo mais gosta (salvação e riqueza) e ameaçam, por outro lado, os que as violam com aquilo que ele mais teme (castigo e pobreza). Jesus Cristo veio para romper com todo o sistema.
Podemos concluir que ele foi crucificado por sonegar impostos?Sim, no momento do julgamento os acusadores identificaram os crimes de Jesus para Pilatos, que se negou a julgá-lo, porque os fatos em questão não eram considerados crimes. Todavia, um dos acusadores afirmou que havia encontrado Jesus pregando o não pagamento dos tributos a César. Diante disso, não restou a Pilatos outra alternativa a não ser condená-lo à morte, por crucificação. O Antigo Testamento previa apenas três tipos de pena de morte: apedrejamento, queima e decaptação. A pena de morte por crucificação não era judaica, mas romana, mesmo porque a palavra crucificação era romana.
O senhor encontrou outras irregularidades quanto ao julgamento de Jesus?Sim, a presença maciça de testemunhas falsas, embora estivessem presentes também testemunhas verdadeiras. Não houve testemunha de defesa. Nem precisava porque Jesus, com o silêncio, confessou. O crime pelo qual Jesus foi acusado, a sonegação de impostos, era um crime de enorme gravidade. Imagine quando César soubesse que, na Judéia, havia um homem defendendo a sonegação de impostos a Roma. O destino de Pilatos, que era o Governador da Judéia , nomeado por César, seria o mesmo que de Jesus. Aliás, poderia nem ser, já que era costume dos imperadores romanos não julgar de imediato os criminosos para que eles sofressem muito aguardando a sentença.
Qual a relação dos apóstolos de Jesus com os cargos públicos. Jesus teria escolhido a dedo seu “ministério”? O grupo era muito eclético. Pode-se dizer que havia quatro empresários: Simão, André , Tiago e João. Dois Guerrilheiros: Simão, o Zelote, e Judas Iscariotes. Judas era o direitor-financeiro do grupo e se havia este cargo é porque havia finanças para administrar. Mateus era um dos principais fiscais de tributos da Judéia. É um equívoco pensar que eram pobres. As traduções da Bíblia, principalmente para o português, pecaram muito. A Bíblia se refere à profissão de José, pai de Jesus, como um humilde carpinteiro, o que não é verdade. Em grego, a palavra “tecton” , usada para se referir à sua profissão, significa construtor e, não, carpinteiro. É a raiz da atual palavra “arquiteto”.
Cite um relevante evento bíblico de natureza tributária.O sonho das sete vacas magras devorando as sete gordas e das sete espigas de milho, é o maior golpe tributário da história da humanidade. José revelou o sonho do faraó, dizendo-lhe que viriam sete anos de fartura seguidos de sete anos de miséria. No primeiro período, deveria se instituir um imposto extraordinário de 20%, para durar somente nos primeiros sete anos de fartura, mas o imposto durou 1.700 anos.
Fonte:
Jornal Infinito