O problema é que a noção de que "o universo computa" é uma metáfora, bem distante da computação com computadores propriamente ditos ou com cérebros, e essa distância faz com que a idéia de Tononi não se aplique. Se aplicaria talvez mais a computadores do que ao universo, ou partes aleatoriamente delineadas dele. A "computação" do universo é só uma outra forma de dizer que ele pode ser descrito "com informação"; a "computação" é apenas o evento físico em si (qualquer), e não algo por trás dele. É meio como dizer que "o universo é matemático", apenas com alguma bagagem teórica mais específica para a abordagem.
Ola Buck,
Acho que vale a pena esclarecer o que exatamente da consciência, estamos discutindo neste momento : estamos falando da experimentação qualia (não as questão do self). Inclusive, encontrei um artigo sobre a teoria do Tononi, que fala exatamente isso, que a teoria do Tononi não deveria ser uma teoria da consciência, de uma forma mais ampla, mas antes, uma teoria sobre qualia!
Não tive outra impressão. Mas acho que você está confundindo as coisas, quando diz, a seguir na mesma mensagem, "é o que o cara do MIT fala : o universo pode ter uma inteligência, um nível de consciência (qualia) que podemos sequer imaginar!"
Não vejo como seria possível falar em "consciência do universo" uma vez que ele não tem a integração necessária -- seria "consciência" de partículas ou quaisquer partes com alguma integração "suficiente", e ainda assim, muito longe de inteligência, que é outra coisa completamente. Tem um outro filósofo que já propôs algo assim, mas dissociado dessa tentativa de esquematizar um padrão (de integração da informação), que para uma teoria reducionista de qualia, talvez fosse interessante postular algo como que quarks tivessem somente a experiência constante de "vermelho" (só como exemplo (sempre vermelho!), mas poderia ainda ser algo totalmente "alien" para nós).
O ponto do cara do MIT é que a Computação é evento físico (tem um livro chamado “Decodificando o Universo” que o autor afima que informação é física). Linguagem, Contexto, sintaxe já são coisas da nossa cabeça, assim como a lógica.
São coisas "da nossa cabeça" que mas são fundamentais para o uso regular de "inteligência" e "computação"; sua existência em nossa cabeça ou computadores não é "fictícia", mas se dá a partir de uma organização que não existe em larga-escala no universo.
É um problema parecido com o de dizer que "as formigas são impressionantes arquitetas", e achar que são arquitetas exatamente como as pessoas são. Ou como dizer que, o "universo é vivo", cada mínima subpartícula é viva, porque a vida é em última instância é composta dessas sub-partículas, cujo comportamento poderímos descrever de forma animista. Está simplesmente se fazendo confusão com o significado das palavras, algo parecido com achar que mesas sofrem de paralisia porque tem pernas mas não andam.
Ou seja, um computador ou cérebro computando, fisicamente descrito, não passa de eventos eletromagnéticos em uma determinada estrutura espacial!!O universo computar significa que existe uma rede complexa de interações/eventos físicos em sua estrutura (micro e macro). E esta computação tem uma complexidade muito superior a zilhoes de cérebros.
Tem a complexidade superior, mas não o mesmo padrão de organização, que é fundamental ao que cérebros são. Um saco de areia não é um microprocessador, nem um "macro" processador, por mais complexo que seja com todas as interações entre grãos de areia, umidade, suas poeira, bactérias, sub-partículas, etc.
A idéia de Tononi não é de que o fundamental seja simplesmente "complexidade" pura, mas principalmente a organização funcional que têm essas interações, e que o universo ao todo, nem partes arbitrariamente delinadas (além de cérebros) não tem. Nem mesmo computadores, que se aproximam muito mais de cérebros do que o universo ao todo, teriam isso, segundo o texto da SCIAM:
"To be conscious, then, you need to be a single, integrated entity with a large repertoire of highly differentiated states. Although the 60-gigabyte hard disk on my MacBook exceeds in capacity my lifetime of memories, that information is not integrated. For example, the family photographs on my Macintosh are not linked to one another. The computer does not know that the girl in those pictures is my daughter as she matures from a toddler to a lanky teenager and then a graceful adult. To my Mac, all information is equally meaningless, just a vast, random tapestry of zeros and ones.
To be conscious, then, you need to be a single, integrated entity with a large repertoire of highly differentiated states. Although the 60-gigabyte hard disk on my MacBook exceeds in capacity my lifetime of memories, that information is not integrated. For example, the family photographs on my Macintosh are not linked to one another. The computer does not know that the girl in those pictures is my daughter as she matures from a toddler to a lanky teenager and then a graceful adult. To my Mac, all information is equally meaningless, just a vast, random tapestry of zeros and ones."
Na teoria do Tononi, esta questão da estrutura/funcionalidade/complexidade vai apenas diferenciar o quanto de consciência (experimentação subjetiva) um determinado sistema vai ter. O exemplo dado é claro : esta medição pode ser feita em um próton, considerando sua estutura de quarks, e mesmo neste próton, o valor não é zero!!!!
De onde eu coloco que, se em um único próton, não tem medida de consciência zero (possui algum tipo de quale), somente considerando-se a estrutura/interações dos quarks, imagine a aplicação desta medição a todo o universo, considerando as micro-macro escalas!!!
É o que o cara do MIT fala : o universo pode ter uma inteligência, um nível de consciência (qualia) que podemos sequer imaginar!
Abs
Felipe
Bem, o exemplo do Macintosh também me parece claro. Talvez seja contraditório ao do próton, acho que nenhum dos dois é dado pelo Tononi mesmo. De qualquer forma, ainda não seria "inteligência", nem "consciência" relevantemente parecida com a nossa, e também não me parece nem ser o caso de se poder falar de "consciência do universo" em vez de "consciência da galáxia", consciência da praia", "consciência do mar".
Tononi ainda diz que a teoria "prevê" estados onde a pessoa se torna
inconsciente. Esses estado provavelmente se assemelham mais ao universo em geral, que deve ser ainda "pior" que isso. Acho que também contradiz a noção de panpsiquismo/protons conscientes, onde talvez nem devesse haver qualquer estado inconsciente.