Autor Tópico: Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético  (Lida 1797 vezes)

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Offline 4 Ton Mantis

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Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético
« Online: 27 de Janeiro de 2014, 17:36:43 »
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2014/01/1402700-livro-conta-como-crenca-em-divindades-afeta-comportamento-etico.shtml



Uma dica da pesquisa de ponta em psicologia para quem organiza acordos diplomáticos ou reuniões de condomínio: se você quer minimizar a chance de que alguém tente passar a perna nos demais presentes, pinte um grande olho na parede do salão.
Parece ridículo, mas é um conselho apoiado por fortes evidências experimentais. Quando voluntários que participam de jogos nos quais há a possibilidade de trapacear são expostos a fotografias de olhos, desenhos de olhos ou mesmo representações totalmente esquemáticas de olhos (dois círculos, por exemplo), a chance de que alguém burle as regras cai consideravelmente.
"Gente vigiada é gente bem comportada", resume Ara Norenzayan, pesquisador da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e autor do livro "Big Gods" ("Deuses Grandes"). Na obra, ainda sem versão no Brasil, Norenzayan argumenta que essa é a principal razão pela qual a maioria dos seres humanos de hoje acredita em divindades poderosas e preocupadas com o comportamento ético: independentemente de serem reais ou não, tais figuras ajudam a controlar a tentação de passar a perna nos outros em sociedades complexas, nas quais interações entre estranhos são comuns.
Daí outra máxima cunhada por Norenzayan para explicar sua tese: "Para grupos grandes, deuses grandes". Com "grandes" o psicólogo social quer dizer deuses que sabem tudo (ou quase tudo) e usam esse acesso a informações privilegiadas para punir malfeitores, e sociedades com dezenas de milhares de indivíduos ou mais.

CAÇADORES-COLETORES
Isso porque, curiosamente, embora a crença em seres sobrenaturais esteja presente em todas as sociedades humanas, são muito raros os grupos de caçadores-coletores (formados por dezenas ou, no máximo, algumas centenas de indivíduos) que creem em "deuses grandes".
Outro fato curioso é que, ao analisar dados antropológicos padronizados de centenas de povos mundo afora, os pesquisadores também verificaram que, quanto maior o tamanho (em número de pessoas) de uma sociedade, maior também é a chance de seus membros adorarem "deuses grandes".
Esse foi um dos fatores que motivou o pesquisador de origem libanesa a propor a ideia de que esse tipo de divindade só "evolui" em sociedades que alcançam determinada massa crítica de tamanho.
Em grupos pequenos, coisas como a proximidade de parentesco, o contato diário entre todos os membros e a falta de hierarquias rígidas seriam suficientes para manter quase todo mundo mais ou menos na linha. Quando grande parte das interações sociais passam a ser anônimas (como numa cidade de milhares de habitantes), entretanto, só o "monitoramento divino" teria sido suficiente para impedir o colapso dos grandes grupos.
Além da influência um tanto bizarra dos olhos sobre o comportamento de voluntários em laboratório, também há indícios de que, quando as pessoas são sutilmente influenciadas ao verem palavras com significado religioso numa tela de computador, seu comportamento em jogos que pagam pequenas quantias em dinheiro como recompensa melhora consideravelmente.
Além de trapacear menos, também tendem a punir trapaceiros com mais rigor e a dividir mais os recursos que recebem com outros jogadores.
Detalhe importante: tais palavras ("Deus", "espírito", "oração" etc.) aparecem na tela por frações de segundo, de modo que não são conscientemente percebidas pelos participantes.


LADO NEGRO DA FORÇA
Tudo isso parece muito bom, mas as pesquisas de Norenzayan e outros cientistas da área deixam muito claro que há um lado negro na maneira como os grupos que adoram "deuses grandes" se comportam.
A tendência a ser mais cooperativo costuma ser mais forte quando ela gera dividendos de reputação para a pessoa religiosa, indicam experimentos. E o comportamento mais ético em relação a quem pertence ao mesmo grupo religioso tende a ser compensado por uma competição mais feroz com quem está fora desse grupo.
Também está longe de ser verdade a ideia de que não é possível ser ético sem crer em Deus, claro. Algumas das sociedades mais pacíficas, prósperas e igualitárias do mundo, como as da Escandinávia, hoje têm predominância de ateus.
Norenzayan argumenta que isso se deve à força e ao bom funcionamento das instituições seculares nesses países.
De fato, em nações desenvolvidas, o mesmo efeito de bom comportamento trazido pelas mensagens subliminares com palavras religiosas pode ser conseguido, em laboratório, usando termos seculares, como "tribunal", "polícia" e "juiz". Essas sociedades com instituições seculares confiáveis teriam "subido a escada da religião e, depois, chutaram-na para longe", diz o pesquisador.

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Offline Vento Sul

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Re:Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético
« Resposta #1 Online: 27 de Janeiro de 2014, 18:01:51 »
Gostaria de ver pesquisas parecidas, mas com outro propósito, o quanto sociedades religiosas dão valor ao planeta em que vivem, e como elas geralmente enchem de habitantes o planeta, esse inchaço, somado ao descaso pela ecologia, qual seria o impacto disso na vida das pessoas e do próprio planeta enquanto habitat.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético
« Resposta #2 Online: 27 de Janeiro de 2014, 19:24:18 »
Não sei se é tão "determinante" assim. Acho que talvez seja uma visão distorcida a partir do cenário norte-americano atual, onde comumente vamos ver coisas sobre como "Jesus seria contra o ambientalismo". Mas também tem perspectivas contrárias, e talvez até com maior embasamento. Tem qualquer coisa na bíblia sobre as pessoas deverem ser "guardiãs da terra" ou algo assim. Tem um ateu/quase (Lovelock, acho) que está até tentando usar isso para ver se surte algum efeito positivo.

Offline Barata Tenno

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Re:Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético
« Resposta #3 Online: 27 de Janeiro de 2014, 20:34:13 »
<a href="http://www.youtube.com/v/WrahQpIWD08" target="_blank" class="new_win">http://www.youtube.com/v/WrahQpIWD08</a>
He who fights with monsters should look to it that he himself does not become a monster. And when you gaze long into an abyss the abyss also gazes into you. Friedrich Nietzsche

Offline AlienígenA

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Re:Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético
« Resposta #4 Online: 27 de Janeiro de 2014, 20:59:55 »
Minha experiência diz que a prática desmente essa teoria. Eu vivo no Brasil, maior país católico do mundo, gente!  |(  E se anedota não conta. Bom, também não é o que os Reality shows parecem dizer.  :hein:

Offline Vento Sul

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Re:Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético
« Resposta #5 Online: 27 de Janeiro de 2014, 21:39:10 »
Eu não frequento igrejas, mas não precisa, pois os alto falantes das mesmas superam um show de rock, é uma gritaria, eu nunca ouvi uma palavra no sentido prático da vida, é tudo um disseminar de ilusões pós-morte, e todas religiões pregam um fim, e torcem para ele, e pior que isso agem para que isto aconteça, nunca vi nada no sentido contrário, e se houver deve ser mínimo e despresível em números.
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Offline Barata Tenno

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Re:Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético
« Resposta #6 Online: 27 de Janeiro de 2014, 23:17:01 »
Eu não frequento igrejas, mas não precisa, pois os alto falantes das mesmas superam um show de rock, é uma gritaria, eu nunca ouvi uma palavra no sentido prático da vida, é tudo um disseminar de ilusões pós-morte, e todas religiões pregam um fim, e torcem para ele, e pior que isso agem para que isto aconteça, nunca vi nada no sentido contrário, e se houver deve ser mínimo e despresível em números.

Voce esta falando só do cristianismo né?
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Offline Geotecton

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Re:Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético
« Resposta #7 Online: 27 de Janeiro de 2014, 23:21:00 »
Eu não frequento igrejas, mas não precisa, pois os alto falantes das mesmas superam um show de rock, é uma gritaria, eu nunca ouvi uma palavra no sentido prático da vida, é tudo um disseminar de ilusões pós-morte, e todas religiões pregam um fim, e torcem para ele, e pior que isso agem para que isto aconteça, nunca vi nada no sentido contrário, e se houver deve ser mínimo e despresível em números.

Voce esta falando só do cristianismo né?

E a totalidade da descrição supra não é aplicável para todas as vertentes cristãs.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético
« Resposta #8 Online: 28 de Janeiro de 2014, 00:47:47 »
A minha impressão é similar, acho que o que mais ouço é que é preciso acreditar, é preciso doar para a igreja, que os crentes verdadeiros se dão bem na vida nas linhas de "o segredo", e vez ou outra devem dar um jeito de ligar alguma coisa disso com fariseus, filistinos, efésios e aquela gente toda.

Offline Novag

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Re:Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético
« Resposta #9 Online: 29 de Janeiro de 2014, 07:30:35 »
Gostaria de ver pesquisas parecidas, mas com outro propósito, o quanto sociedades religiosas dão valor ao planeta em que vivem, e como elas geralmente enchem de habitantes o planeta, esse inchaço, somado ao descaso pela ecologia, qual seria o impacto disso na vida das pessoas e do próprio planeta enquanto habitat.

Bom questionamento.
No meu achismo  particular os religiosos tendem a descuidar do nosso planeta porque a morada definitiva e eterna será no céu. Nas religiões que acreditam que o paraiso será na terra (como as Testemunhas de Jeová) creem que a mesma será totalmente recuperada quando Deus instalar seu governo, dispensando assim, cuidados atuais.





Offline Skeptikós

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Re:Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético
« Resposta #11 Online: 18 de Fevereiro de 2014, 19:46:37 »
Interessante a teoria de que em grandes grupos sociais primitivos se fazia necessário a presença de um "deus grande" para observar a todos, o que os motivavam a se manterem na linha mesmo quando ninguém os tivessem observando. O filósofo e sofista Crítias, contemporâneo de Sócrates e Platão já propunha uma ideia semelhante a essa para explicar a suposta existência dos deuses do olimpo da mitologia grega. De acordo com Guthrie em seu livro "Os Sofistas"; para Crítias os deuses foram invenções de um engenhoso legislador para prevenir que os homens não transgredissem as leis quando não observados por outros cidadãos que pudessem dedura-los¹. Já que eles (os deuses) eram dotados de grande poder, bem como o de poder observar a todos os cidadãos mesmo estando longes no monte olimpo, e  sendo capazes de punir severamente aqueles que não seguisse as leis ditas divinas, era de se esperar que as pessoas temessem desrespeitar tais leis, mesmo quando não sendo observadas por outros cidadãos que pudessem dedura-las.

________________________________
¹ Guthrie, Os Sofistas, p. 27, edit. Paulus, 2ª ed., 2007.
"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
"E, não menos que saber, duvidar me agrada."

Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

Offline pablito

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Re:Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético
« Resposta #12 Online: 26 de Fevereiro de 2014, 16:34:18 »
O estudo tenta provar que há uma linha, da falta de crença em "deuses grandes" e responsáveis pela moral nas sociedades mais primitivas (caçadores-coletores); passando pela "crença-que-auxilia-na-manutenção-da-ordem" nas primeiras civilizações; chegando ao topo evolutivo com o fim da crença nos "deuses grandes", substituídos pela crença nas instituições.

O furo está que em diversas sociedades institucionalmente sólidas e que creem firmemente na Constituição ou o que o valha, a crença em "deuses grandes" se mantém, vide o caso dos EUA, onde parece que essa crença até se fortalece. E mesmo países como a França, que parecia ser uma sociedade predominantemente laica, mantém a religião num ponto central de sua visão de mundo.

Outro problema é que a crença em deuses aparece como algo benéfico em algum momento e, também, como algo natural do serumano. Essa naturalização da crença é algo que me incomoda, até porque há sistemas religiosos como o jainismo que prescindem de um "deus grande", apesar de substituí-lo por algo igualmente mágico como o karma.

Mais um problema é considerar que qualquer comportamento moral só ocorre a partir da coação (ou crença na coação) externa. Tudo bem que somos animais e nossos instintos mais básicos (comer, reproduzir, buscar satisfação/prazer) têm de ser reprimidos para nos adequarmos à convivência em grupos sociais, mas se nos reduzirmos a isso teremos de admitir que só sistemas totalitários e/ou crenças religiosas profundas darão conta de impedir nossa extinção.

Talvez eu tenha uma visão idealista, mas creio que somos capazes de chegar aos mesmos resultados de controle de instintos primitivos por meio da educação e do acordo (algo na esteira da Razão Comunicativa, do Habermas), que têm efeitos mais consistentes que o eterno recurso a um "olho que tudo vê" (seja de deus ou do estado).


Offline Skeptikós

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Re:Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético
« Resposta #13 Online: 26 de Fevereiro de 2014, 18:51:14 »
O que, sem necessitar da coerção nos impede ou nos motiva a fazer algo que tenha o rótulo de certo ou errado são nossos valores morais. Estes são construídos mediante uma educação moral adequada.

Isso pode ser conseguido com uma educação moral religiosa adequada, ou com uma educação moral laica adequada.

Mas também por outros meios, Moral para Kant por exemplo não era fazer algo especifico pensando em evitar possíveis punições ou conseguir possíveis benefícios, como geralmente é ensinado por alguns sistemas religiosos ou políticos, mas porque simplesmente fazer algo de uma forma especifica é simplesmente o certo a se fazer, como falar a verdade ao invés da mentira, como ajudar ao próximo sem esperar nada em troca, como não tirar a vida do próximo nem a sua própria e etc.

Porém para Kant estas leis morais são universais, absolutas e a priori, necessitando apenas de uma educação que nos relembre delas, que nos leve de volta as raízes destas leis morais que em nós residem.

Evidentemente tal teoria foi bastante contestada e não é unanimemente aceita como verdadeira.

Mas é um exemplo de uma educação moral que regula nossos comportamentos não agindo por coerção nem por premiação e que não é religiosa e nem estatal.
« Última modificação: 26 de Fevereiro de 2014, 18:54:22 por Skeptikós »
"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
"E, não menos que saber, duvidar me agrada."

Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

 

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