Autor Tópico: Um pouco mais sobre a Fé...  (Lida 1380 vezes)

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Offline Novag

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Um pouco mais sobre a Fé...
« Online: 30 de Janeiro de 2014, 10:32:49 »
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A ciência não conseguiu comprovar a existência ou inexistência de Deus. Mas uma coisa o conhecimento racional deixa cada dia mais clara: religião faz bem para a saúde. O motivo? Para o médico americano Andrew Newberg, autor do livro Why God Won’t Go Away (“Por que Deus não vai embora”, sem tradução em português), a resposta está na arquitetura neurológica do nosso cérebro. Para ele, o mais desenvolvido órgão humano é especialmente calibrado para a experiência espiritual.

Analisando imagens captadas por tomógrafos, Newberg pesquisa como a oração e a meditação se manifestam no cérebro. Ele diz que a neurociência pode elucidar experiências místicas e acredita que o conceito de Deus é fundamental para a sobrevivência da espécie humana.
Além de se especializar na neurofisiologia da experiência religiosa, Andrew defende que cursos de teologia e de princípios das religiões sejam obrigatórios para os profissionais da área de saúde. Segundo ele, um médico terá mais chances de conquistar a confiança de um paciente, e conseqüentemente ser bem-sucedido no tratamento, se estiver familiarizado com sua crença.

Existe alguma parte específica do cérebro que seja responsável pela experiência religiosa?

Não exatamente. Nossa pesquisa sugere que experiências religiosas são complexas. Envolvem emoção e cognição e se distribuem por várias estruturas. Estão ligadas ao lobo frontal, a parte do cérebro que determina nossas vontades; à região do lobo parietal, que controla nosso senso próprio; ao sistema límbico, que desempenha papel fundamental nas emoções; e, finalmente, ao hipotálamo, que também é responsável pelas reações emotivas.

E como o corpo sente os efeitos dessa experiência?

Os resultados sugerem mudanças hormonais e nos sistemas imunológico e nervoso autônomo, diminuindo batimentos cardíacos, pressão sanguínea e estresse. Um grande número de estudos aponta que a religiosidade resulta em benefícios para a saúde.

Alguma religião ou prática espiritual se destaca pelos benefícios à saúde mental e corporal?

Não existe uma que se destaque em relação a outras. Há evidências de que pessoas que rezam estão associadas a quadros de redução da tensão muscular e de menor incidência de doenças coronarianas. Indivíduos que meditam apresentam redução da ansiedade, da depressão e da irritabilidade, e aprimoramento da capacidade de aprendizagem, da memória e da estabilidade emocional. Também existem evidências de que a meditação pode aliviar dores crônicas. Em um estudo, 77 pessoas que sofriam de fibromialgia passaram por um programa antiestresse de 10 semanas que usava técnicas de meditação. Todos apresentaram melhoras nos sintomas.

Pessoas doentes com forte fé religiosa têm mais chances de ser curadas?

A única coisa que podemos afirmar a partir dos estudos é que existe relação entre religiosidade e boa saúde. Mas são poucas as evidências de curas específicas associadas a crenças religiosas. O que muitos estudos mostram é a religião como forte aliada na recuperação de cirurgias. Uma pesquisa com um grupo de pacientes operados do coração mostrou que a incidência de mortes durante o período de recuperação era maior entre os que não praticavam nenhuma fé. Outro estudo, feito com mulheres negras com câncer de mama, mostrou que as que não pertenciam a nenhuma religião tinham tendência a viver menos.

A comprovação de que as experiências religiosas são resultado de atividades cerebrais pode sugerir que Deus existe apenas na nossa cabeça?
A ciência enfrentará muita dificuldade em demonstrar definitivamente a existência ou inexistência de Deus. Se eu escanear o cérebro de alguém que olha para um cachorro, a imagem irá mostrar o que acontece quando se vê um cão, mas não prova a existência do animal. Da mesma forma, se uma freira passa pela experiência de estar na presença de Deus, a tomografia não irá mostrar se Deus está com a freira, mas apenas o que acontece no cérebro dela.

Como saber, então, se foi Deus quem criou o cérebro ou se é o nosso cérebro que cria Deus?

Não há uma maneira clara de determinarmos isso. Pode-se dizer que o cérebro humano tem duas funções básicas a serem consideradas sob as perspectivas biológica e evolucionária: auto-preservação e autotranscendência. O cérebro desempenha essas funções ao longo de nossa vida. Acontece que a religião também desempenha essas mesmas funções. Ou seja, a fé é uma excelente ferramenta que ajuda o cérebro a praticar suas funções primárias.

Isso quer dizer que a experiência com Deus nos ajudou ao longo do processo evolutivo?

A função de autopreservação é a da sobrevivência do indivíduo e, conseqüentemente, da espécie. Para nos manter vivos, o cérebro nos afasta dos perigos, nos aproxima dos alimentos e indica a necessidade de acasalamento. A religião também tem funções importantes nesse sentido: promove comportamentos de vida sustentáveis e ajuda a desenvolver e manter sociedades e famílias voltadas para nossa proteção. Autotranscendência é nossa necessidade inerente de passar de um estágio para outro. Fazemos isso o tempo todo. A cada momento nos tornamos pessoas um pouco diferentes do que costumávamos ser. E a religião é a expressão máxima de auto-transcendência. Algumas admitem que o façamos ainda em vida, outras requerem a morte. Seja como for, a religião nos ajuda a transcender rumo ao encontro derradeiro com Deus ou qualquer outra realidade suprema.

http://super.abril.com.br/religiao/deus-coisa-sua-cabeca-446218.shtml

Esse parece ser um forte argumento para defender a tese da existência de Deus. Afinal de contas, porque nosso cérebro foi “projetado para ter fé”? Qual seria a razão disso?

Basta fazermos algumas comparações para chegar a uma conclusão razoável sobre este tema.

Analisemos, por exemplo, o “bicho-papão”. As crianças tem medo dele. Acreditam em sua existência e que ele pode estar debaixo da cama ou dentro do armário do seu quarto. A criança tem uma “fé negra” na existência desse espírito mal , o que pode até mesmo comprometer sua saúde física (o medo também faz adoecer).

Então, da mesma forma que existe a “fé negra” em espíritos maus, existe a “fé branca” (?!) em espíritos bons; Deus, onde as pessoas são beneficiadas com uma saúde melhor por acreditarem em divindades. Um tipo de efeito placebo.

Daí creio que a fé seja um tipo de distúrbio cerebral que se manifesta por meio do instinto de auto preservação, podendo ser usada pelo seu dono com fins prejudiciais ( medo do mal)  ou benéficos (confiança no bem). 

Offline Gabarito

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #1 Online: 30 de Janeiro de 2014, 10:46:20 »
Gostei desta parte:

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Se eu escanear o cérebro de alguém que olha para um cachorro, a imagem irá mostrar o que acontece quando se vê um cão, mas não prova a existência do animal. Da mesma forma, se uma freira passa pela experiência de estar na presença de Deus, a tomografia não irá mostrar se Deus está com a freira, mas apenas o que acontece no cérebro dela.

O cérebro é o grande protagonista da experiência da vida!

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #2 Online: 30 de Janeiro de 2014, 13:16:16 »
Então, da mesma forma que existe a “fé negra” em espíritos maus, existe a “fé branca” (?!) em espíritos bons; Deus, onde as pessoas são beneficiadas com uma saúde melhor por acreditarem em divindades. Um tipo de efeito placebo.

Daí creio que a fé seja um tipo de distúrbio cerebral que se manifesta por meio do instinto de auto preservação, podendo ser usada pelo seu dono com fins prejudiciais ( medo do mal)  ou benéficos (confiança no bem). 


Não deve dar para classificar como "distúrbio" a menos que já estiver incorrendo em algo mais dramático, algo no nível de fobia, o que deve ser bem raro.

Mesmo isso que chamou de "fé negra" pode não ser prejudicial, mas benéfico. Tanto quanto o medo de algo real, estresse causado por algo real, que pode ser excessivo e danoso, ou pode servir de "alarme", proteção.

No caso de superstições/religiões estes seriam "alarmes falsos", mas ainda poderiam ser benéficos para o convívio social, em alguns casos -- quando as pessoas imaginarem/propagarem a noção de que os seres mágicos podem puní-los por violações de regras sociais.

No caso dos aspectos positivos, seriam novamente instintos/emoções/sensações evoluídos originalmente para "otimizar" aspectos sociais, mas "disparados" por entidades imaginárias, não sociais (ou a combinação de ambos, em rituais religiosos em grupo). Temos alguma predisposição, inata e/ou produto do desenvolvimento normal, de imaginar cadeias causais como desencadeadas por agentes inteligentes, dotados de vontade.


Tópico relacionado:

Artigo da Newscientist sobre a origem da crença

Offline AlienígenA

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #3 Online: 30 de Janeiro de 2014, 18:31:21 »
Ou talvez as superstições sejam o resquício de um eficiente sistema de resposta cerebral a uma realidade de constante estado de luta ou fuga em estado natural: o registro de padrões, permitindo respostas rápidas em situações de risco.

Talvez os caçadores-coletores nem tenham conhecido a superstição de fato. E com a mudança de condições, esse sistema, já não mais restrito a função de auto preservação, permitindo o desenvolvimento do intelecto, através da formulação de conceitos, inclusive os abstratos, foi também responsável pela superstição, talvez como um efeito colateral.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #4 Online: 30 de Janeiro de 2014, 21:10:22 »
O que seria "superstição de fato"?

Se eles, ao tentarem entender o mundo e seus padrões, supõem funcionamentos "errados" das coisas, coisas nas linhas de animismo, animatismo, panteísmo, panenteísmo (e é o caso, tanto quanto sei, e também se acho que se supõe que seja o estado "natural" das coisas, em vez da humanidade ter começado acreditando em um "naturalismo filosófico"), acho que isso já seria "superstição", "crença religiosa".


Talvez haja alguma área para discussão semântica sobre a relevância deles talvez fazerem distinções entre "natural" e "sobrenatural". Bem, em todo caso, tanto faz o rótulo que se dê a essas crenças/hipóteses, chame-se de "ciência primitiva" ou "religião primitiva", "superstição", etc, são deduções equivocadas sobre a realidade. E sim, produto colateral de faculdades adaptativas ou propensões naturais diversas.

Offline AlienígenA

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #5 Online: 30 de Janeiro de 2014, 22:48:50 »
"Superstição de fato" seria a tentativa de interpretar os padrões em vez de simplesmente reagir a eles (um método mais eficiente, suponho, em constante estado de alerta). Sim, um tipo de naturalismo, mas prático e não filosófico, justamente por "falta de espaço para filosofia".

É provável que mesmo alguém que acredite em gnomos, ao perceber uma moita se mexendo, pense antes em cobras do que em gnomos. E, bom, me ocorreu que num mundo cercado de moitas se mexendo por todos os lados talvez sobre pouco espaço para gnomos.   

Offline Gigaview

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #6 Online: 30 de Janeiro de 2014, 23:11:22 »
Senti saudades de Skinner.

../forum/topic=16805.0.html#msg337727
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #7 Online: 30 de Janeiro de 2014, 23:40:02 »
"Superstição de fato" seria a tentativa de interpretar os padrões em vez de simplesmente reagir a eles (um método mais eficiente, suponho, em constante estado de alerta). Sim, um tipo de naturalismo, mas prático e não filosófico, justamente por "falta de espaço para filosofia".

É provável que mesmo alguém que acredite em gnomos, ao perceber uma moita se mexendo, pense antes em cobras do que em gnomos. E, bom, me ocorreu que num mundo cercado de moitas se mexendo por todos os lados talvez sobre pouco espaço para gnomos.   

A "superstição" de que estou falando não é muito "filosófica".

Mas mais coisas como "o escuro é o mal, precisamos desse pedaço do Sol para nos proteger do mal; os monstros vem do escuro e nos matam. A água é boa e também é má. Os monstros também vem da água, mesmo quando o escuro não está lá. A água é mentirosa, ela vai fingir que é outro você, para te distrair, mas por trás do outro você pode estar um monstro. Eles não querem que nós peguemos toda água para nós porque eles morrem fora da água. Eles ficam mais fracos fora da água, assim como os monstros da noite ficam mais fracos fora da noite".


Offline Vento Sul

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #8 Online: 31 de Janeiro de 2014, 00:32:37 »
Cito Buckaroo Banzai
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No caso de superstições/religiões estes seriam "alarmes falsos", mas ainda poderiam ser benéficos para o convívio social, em alguns casos -- quando as pessoas imaginarem/propagarem a noção de que os seres mágicos podem puní-los por violações de regras sociais.

Pode, à primeira vista, parecer benéfico, alguém se comportar por temer seres imaginários poderosos, mas na realidade é uma maneira imbecil de controle das pessoas, seria melhor que fossem educadas, civilizadas por vontade própria, por ter consciência do que seria melhor para elas e a sociedade em que vivem. 
Da religião não consigo ver nada de bom.

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Resumindo: Ou acreditamos em mágica ou não!
 
 
 
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Offline AlienígenA

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #9 Online: 31 de Janeiro de 2014, 00:51:40 »
"Superstição de fato" seria a tentativa de interpretar os padrões em vez de simplesmente reagir a eles (um método mais eficiente, suponho, em constante estado de alerta). Sim, um tipo de naturalismo, mas prático e não filosófico, justamente por "falta de espaço para filosofia".

É provável que mesmo alguém que acredite em gnomos, ao perceber uma moita se mexendo, pense antes em cobras do que em gnomos. E, bom, me ocorreu que num mundo cercado de moitas se mexendo por todos os lados talvez sobre pouco espaço para gnomos.   

A "superstição" de que estou falando não é muito "filosófica".

Mas mais coisas como "o escuro é o mal, precisamos desse pedaço do Sol para nos proteger do mal; os monstros vem do escuro e nos matam. A água é boa e também é má. Os monstros também vem da água, mesmo quando o escuro não está lá. A água é mentirosa, ela vai fingir que é outro você, para te distrair, mas por trás do outro você pode estar um monstro. Eles não querem que nós peguemos toda água para nós porque eles morrem fora da água. Eles ficam mais fracos fora da água, assim como os monstros da noite ficam mais fracos fora da noite".

Sim, entendo, por isso pus falta de espaço para filosofia entre aspas. Sua descrição, dentro do que estou tentando dizer, já estaria no nível da interpretação dos padrões. No nível das reações, os padrões seriam mais instintivos - uma espécie de constante estado de alerta, cheio de ameaças imaginárias a partir de padrões criados por ameaças reais. Nesse caso, os monstros não viriam do escuro, mas estariam por toda a parte. No escuro ou na água isso seria apenas potencializado. 


Offline AlienígenA

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #10 Online: 31 de Janeiro de 2014, 01:12:59 »
Ou sei lá, eu é que talvez tenha uma ideia meio equivocada. Enxergo o homem mais como um cérebro do que como uma mente tentando sobreviver. Não que a mente já não estivesse lá, só que mais ocupada em reagir aos padrões do que em interpretá-los, bem rudimentar. Isso lá pelo período Eolítico.   

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #11 Online: 31 de Janeiro de 2014, 02:36:31 »
Passa uma impressão que eu acho um pouco exagerada. Meio como se vivessem num estado de ansiedade ininterrupto, sempre esperando por uma situação que vai ativar a resposta de "lutar ou fugir" a qualquer momento.

Acho que nem teríamos sobrevivido, muito menos colonizado todo o mundo, se tivesse sido assim.

Mesmo os outros primatas têm estratégias culturais para facilitar a sobrevivência do grupo, o que os permite "relaxar" um pouco. Se fosse para arriscar se com os humanos a coisa se desviou para mais ou para menos "tranqüila", imaginaria que foi para um pouco mais. Talvez esse tempo extra de relativa tranqüilidade e a inteligência crescente tenha dado tempo de matutar estratégias de caça e sobrevivência que contribuíram para que os humanos (até pré-sapiens) eventualmente colonizassem o mundo todo (ou boa parte, na fase pré-sapiens). E dentre dessas idéias estão conceitos quase "fantasiosos" sobre a realidade baseados em vieses cognitivos.

"Fantasiosos" entre aspas porque sem todo um arcabouço de desenvolvimento cultural da lógica e ciência rudimentar as coisas mais absurdas seriam bastante razoáveis, sem precisar ser muito imaginativo para supor algo "fantasioso".

Um pouco como uma pessoa sem qualquer contato com a civilização pode naturalmente pensar que uma TV tem pessoas pequenas dentro. Aliás, acho que num livro do Oliver Sachs tinha um relato sobre alguém que vivia na selva fechada, e quando viu pessoas mais distantes no horizonte pela primeira vez, pensou que eram pessoas em miniatura, e podia levantar a mão e tocá-las -- como as pessoas de vez em quando fazem de brincadeira, em fotos, fingindo interagir com objetos distantes.

Offline AlienígenA

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #12 Online: 31 de Janeiro de 2014, 18:53:58 »
Passa uma impressão que eu acho um pouco exagerada. Meio como se vivessem num estado de ansiedade ininterrupto, sempre esperando por uma situação que vai ativar a resposta de "lutar ou fugir" a qualquer momento.

Acho que nem teríamos sobrevivido, muito menos colonizado todo o mundo, se tivesse sido assim.

Mesmo os outros primatas têm estratégias culturais para facilitar a sobrevivência do grupo, o que os permite "relaxar" um pouco. Se fosse para arriscar se com os humanos a coisa se desviou para mais ou para menos "tranqüila", imaginaria que foi para um pouco mais. Talvez esse tempo extra de relativa tranqüilidade e a inteligência crescente tenha dado tempo de matutar estratégias de caça e sobrevivência que contribuíram para que os humanos (até pré-sapiens) eventualmente colonizassem o mundo todo (ou boa parte, na fase pré-sapiens). E dentre dessas idéias estão conceitos quase "fantasiosos" sobre a realidade baseados em vieses cognitivos.

"Fantasiosos" entre aspas porque sem todo um arcabouço de desenvolvimento cultural da lógica e ciência rudimentar as coisas mais absurdas seriam bastante razoáveis, sem precisar ser muito imaginativo para supor algo "fantasioso".

Um pouco como uma pessoa sem qualquer contato com a civilização pode naturalmente pensar que uma TV tem pessoas pequenas dentro. Aliás, acho que num livro do Oliver Sachs tinha um relato sobre alguém que vivia na selva fechada, e quando viu pessoas mais distantes no horizonte pela primeira vez, pensou que eram pessoas em miniatura, e podia levantar a mão e tocá-las -- como as pessoas de vez em quando fazem de brincadeira, em fotos, fingindo interagir com objetos distantes.

É até mais exagerada do que isso. Parece mesmo improvável que um animal frágil, lento, sem presas ou garras, com longa gestação, pouco numerosa, filhotes dependentes e vulneráveis, possa ter sucesso (fora da civilização) dispensando energia para qualquer tarefa além de sobreviver, em tempo integral e sem uma super ferramenta compensatória.

Como não parece haver indícios de que tenhamos perdido alguma habilidade importante e nem "inteligência", ao contrário, suponho que talvez essa ferramenta seja uma configuração cerebral mais funcional do que contemplativa, muito eficiente. Considerando o longo tempo que passamos caçando e coletando até "contemplarmos" a possibilidade de cultivo e domesticação, sem termos sido extintos.

Considero a possibilidade dos primeiros sapiens terem sido até menos "contemplativos" do que outros primatas, compensando uma maior eficiência no "sistema de alerta", devido a maior vulnerabilidade físico/motora, comparativamente.

Voltando ao assunto, a superstição seria um efeito colateral da então contemplatividade consequente dessa suposta configuração cerebral primitiva, ou seja, uma tendência quase inevitável de intuir intencionalidade, até mesmo por auto referência, a partir de um sistema funcional eficiente de padronização.

Enfim, sei lá, só uma viagem que parece fazer sentido.  :|     

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #13 Online: 31 de Janeiro de 2014, 19:34:47 »
Acho que estimam que os grupos de hominídeos eram relativamente grantes, havendo uma correlação entre amanho do grupo e do cérebro. Ainda humanos "arcaicos" já teriam grupos de algo mais de 100 individuos, segundo esse critério de estimativas. Não sei de outras estimativas.

Esse cenário que você descreve acho que seria mais condizente com a evolução de uma espécie mais "reflexiva"/instintiva, e mais fisicamente robusta/ameaçadora. Poderia calhar de não haver essa variação e eles terem que se virar com armas, mas acho que geralmente não é considerado o mais provável, acho que ainda preveria um cérebro diferente, com um córtex prefrontal não tão desenvolvido.

Offline Skeptikós

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #14 Online: 03 de Fevereiro de 2014, 13:07:49 »
Esse parece ser um forte argumento para defender a tese da existência de Deus. Afinal de contas, porque nosso cérebro foi “projetado para ter fé”? Qual seria a razão disso?
Isso pode ser usado sim para defender a tese da existência de Deus, mas os resultados deste estudo não terminam a discussão sobre a existência ou não de Deus, ele não prova a existência de Deus, prova apenas que a prática da fé religiosa influencia as reações cerebrais e fisiológicas de seus praticantes.

E as conclusões do próprio Dr. Andrew Newberg dão suporte ao que eu acabei de concluir:

A comprovação de que as experiências religiosas são resultado de atividades cerebrais pode sugerir que Deus existe apenas na nossa cabeça?

A ciência enfrentará muita dificuldade em demonstrar definitivamente a existência ou inexistência de Deus. Se eu escanear o cérebro de alguém que olha para um cachorro, a imagem irá mostrar o que acontece quando se vê um cão, mas não prova a existência do animal. Da mesma forma, se uma freira passa pela experiência de estar na presença de Deus, a tomografia não irá mostrar se Deus está com a freira, mas apenas o que acontece no cérebro dela.

Como saber, então, se foi Deus quem criou o cérebro ou se é o nosso cérebro que cria Deus?

Não há uma maneira clara de determinarmos isso. Pode-se dizer que o cérebro humano tem duas funções básicas a serem consideradas sob as perspectivas biológica e evolucionária: auto-preservação e autotranscendência. O cérebro desempenha essas funções ao longo de nossa vida. Acontece que a religião também desempenha essas mesmas funções. Ou seja, a fé é uma excelente ferramenta que ajuda o cérebro a praticar suas funções primárias.
« Última modificação: 03 de Fevereiro de 2014, 13:10:23 por Skeptikós »
"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
"E, não menos que saber, duvidar me agrada."

Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

Offline AlienígenA

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #15 Online: 04 de Fevereiro de 2014, 17:11:50 »
Acho que estimam que os grupos de hominídeos eram relativamente grantes, havendo uma correlação entre amanho do grupo e do cérebro. Ainda humanos "arcaicos" já teriam grupos de algo mais de 100 individuos, segundo esse critério de estimativas. Não sei de outras estimativas.

Isso modifica as coisas. Grupos grandes funcionam como sistema de proteção. Eu supunha grupos bem menores, em trono de trinta, conforme li (nem conferi uma segunda fonte) e considerando a proporção de adultos, jovens e crianças, foi que visualizei o cenário.

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Esse cenário que você descreve acho que seria mais condizente com a evolução de uma espécie mais "reflexiva"/instintiva, e mais fisicamente robusta/ameaçadora. Poderia calhar de não haver essa variação e eles terem que se virar com armas, mas acho que geralmente não é considerado o mais provável, acho que ainda preveria um cérebro diferente, com um córtex prefrontal não tão desenvolvido.

Por quê, sobre a parte em negrito? Achei que minha descrição estava mais para a de uma presa fácil, por isso a hipótese de uma super ferramenta de alerta para explicar o sucesso, do que um predador. Ou seja, mais reflexiva/instintiva por que pouco robusta/ameaçadora. Já desconsiderei a ideia, é só para entender.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Um pouco mais sobre a Fé...
« Resposta #16 Online: 04 de Fevereiro de 2014, 18:35:01 »
Eu não entendi bem o que exatamente sobre o que no negrito é a dúvida.

É algo muito mais comum/universal os sistemas de reações mais reflexivas, pouco/nada deliberadas, de colocar o animal num estado de "lutar ou fugir".

Quanto mais isso é exigido do animal pelo ambiente, maiores são as chances dele não poder "parar para ficar pensando" no que fazer. Se tenta "imaginar" o que fazer, em vez de responder imediatamente, automaticamente, com a resposta que mais obteve sucesso pela seleção natural, são maiores as chances de virar lanche de alguém e não deixar descendência, mesmo que a idéia fosse boa, se tivesse vindo mais cedo...

Nessa situação devem ter maiores chances de evoluirem "soluções" como reflexos mais aguçados, ou defesas físicas mais imponentes, e não progressão da inteligência.

Então provavelmente não deve ter sido exatamente o cenário, ou todo o cenário, responsável pela evolução humana, uma vez que a nossa maior diferença é o quanto somos deliberativos, o quanto planejamos e inventamos as coisas, em vez de só reagir automaticamente.

E acho que predadores também tendem a ser mais inteligentes. Nós podemos não parecer exatamente grandes predadores comparados com leões e ursos, mas parece que conforme os humanos iam colonizando os novos territórios, várias espécies locais foram se extinguindo. Alguns sugerem que isso fosse só coincidência, que a extinção tenha sido principalmente "autônoma", não por predação humana.



Na parte não-negritada quis sugerir a possibilidade também de uma história mista; de primeiro um cenário diferente desse de perigo extremo e onipresente ter favorecido a evolução de um comportamento menos instintivo, mas conforme o ambiente se tornava mais perigoso, em vez de evoluirmos na direção contrária, voltando a ser mais reflexivos e dependendo mais de força ou agilidade, talvez já tivéssemos cruzado um ponto onde era mais vantajoso usar essa deliberação como arma e defesa.

Ou, em outras palavras, talvez os Homo habilis/rudolfensis (só para dar um nome de espécie arbitrário, não deve ser entendido como algo literal/"teoria" de verdade) que fossem um pouco mais inteligentes, levassem maior vantagem do que aqueles um pouco mais fortes ou ágeis, enquanto que o contrário talvez tenha se dado "antes" do cérebro já ter evoluído a esse ponto, como para os australopitecos e/ou ardipitecos, ou quaisquer linhagens que tenham eventualmente originado aos chimpanzés e aos gorilas.

 

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