Outra, bem interessante ssa:
Em março de 2012, o ex-agente trocou de posto dentro da Dell. Foi promovido a tecnólogo chefe do escritório de compartilhamento de informações, localizado num imenso bunker no Havaí. Sua missão era solucionar problemas técnicos. Em anos passados, o bunker servira como armazém para torpedos; àquela altura, já havia sido transformado num “túnel” úmido e frio, com 23 mil metros quadrados de área. Nesse novo cargo, Snowden foi ficando cada vez mais consternado com as atividades da NSA e a crescente falta de fiscalização sobre os programas da agência. Ele descobriu, por exemplo, que a organização tinha a prática regular de repassar comunicações privadas (conteúdos e metadados) em estado bruto para a inteligência israelense. Em circunstâncias normais, esse tipo de informação deveria ser “minimizada”, num processo que remove nomes e dados atribuíveis a indivíduos específicos. No entanto, a NSA não fazia absolutamente nada para proteger esse conteúdo – nem mesmo dos cidadãos americanos. Os pacotes incluíam e-mails e telefonemas de milhões de americanos de origem árabe ou palestina, e a divulgação desses dados tinha o potencial de transformar os parentes que viviam nas áreas ocupadas em alvos de Israel. “Impressionante”, diz Snowden. “É uma das maiores violações de direitos que já vi.”
Outra descoberta desconcertante estava em um documento do então diretor da NSA, Keith Alexander. O papel mostrava que a agência espionava alguns radicais políticos com o hábito de assistir a pornografia, e sugeria que poderia usar essa “vulnerabilidade pessoal” para destruir a imagem de críticos do governo contra os quais não pesavam acusações de conspiração terrorista. O memorando listava seis pessoas que poderiam ser enquadradas nessa operação.
Snowden ficou estupefato com tudo o que viu. “Foi mais ou menos assim que o FBI tentou usar a infidelidade de Martin Luther King para convencê-lo a se suicidar”, diz. “Naquela época, declaramos que esse tipo de coisa era inaceitável. Por que estamos fazendo isso agora? Por que estamos nos envolvendo novamente com isso?”