Alguém já conheceu algum brasileiro que defendesse ID "de verdade", o do Behe, com ancestralidade comum e tudo? Porque até hoje só vi CTJs e CTVs falando de ID.
Eu creio que tudo se resume a uma questão política. Esses movimentos só fazem sentido para mim se forem entendidos como movimentos político-ideológicos.
O discurso e as estratégias não são determinadas por convicções teológicas, mas ao contrário a teologia se adequa aos interesses ideológicos de uma camada da sociedade vinculada aos valores cristãos. Me refiro especificamente á direita cristã conservadora norte-americana, que se faz representar fortemente dentro do Partido Republicano.
Quem conhece um pouco o ambiente e a pregação dessas denominações evangélicas sabe que a citação literal do Velho Testamento é muito importante, é fundamental mesmo, para o discurso doutrinário dessas religiões. Isso talvez seja um pouco difícil de entender por quem não está
familiarizado com o estilo de pregação praticado principalmente nas igrejas pentecostais, mas a verdade é que o discurso, a capacidade de doutrinação, de influenciar, perde muito a força quando se admite um ponto de vista mais relativizado e interpretativo da bíblia, como aquele que hoje
é oficialmente defendido pela igreja católica.
Acredito que este seja o cerne da questão: trata-se de uma luta de determinados grupos com o objetivo de manter o seu poder de persuasão e a sua
influência sobre uma grande parcela da sociedade norte-americana. Eles percebem com razão, a partir de exemplos de países como o Reino Unido e a Noruega, que no mundo moderno boa educação aliada à um bom nível de informação sobre questões científicas básicas reduzem a níveis mínimos a influência religiosa na sociedade.
Em vista disso as estratégias são traçadas. Se parecia um bom expediente jurídico, para contornar impedimentos constitucionais, que o relato em Génesis fosse explicado por meio de causas naturais para que pudesse ser introduzido nas escolas públicas, então o Criacionismo Científico é criado, e "teorias" como as da hidroplaca são forjadas, quando faria muito mais sentido, do ponto de vista da própria religião, da teologia, que um Deus onipotente simplesmente tivesse usado o seu poder sobrenatural para enviar uma chuva também sobrenatural, como aliás sugere a bíblia.
Então o DI foi concebido na esteira do fracasso dessa estratégia. O mais desejável para estes grupos seria fazer prevalecer uma aceitação literal da bíblia, e que essa visão tivesse o mesmo status e a mesma respeitabilidade do conhecimento suportado pela Ciência que entra em contradição direta
com esta mesma literalidade. Mas, se não podem ter tudo, então realisticamente estão dispostos a obterem o que for possível, e o DI, no momento,
parece possível. Tanto que já está sendo até ensinado como teoria científica em escolas públicas no Kansas.
Esse é o espírito da chamada "estratégia da cunha", pôr a visão teo-ideológica deles em ambientes tradicionalmente seculares e aos poucos aumentar essa influência até onde for possível. É por isso que não existem muitos conflitos entre CTJs e CTVs e até mesmo entre estes e os
proponentes do design inteligente. Porque todas estas idéias têm uma origem comum, e trabalham em prol de um objetivo comum, diferindo apenas
na estratégia que uns ou outros acreditam ser mais eficaz para se chegar a estes objetivos. Repare que essa ausência de conflito é tanto mais significativa porque as diversas correntes evangélicas costumam debater bastante entre elas suas diferenças teológicas, mas embora as variantes
do criacionismo também sejam diferenças teológicas essa discussão praticamente inexiste.
O DI, então, entra em contradição total e direta com o "criacionismo científico" e no entanto não se vê ninguém de um grupo gastar uma linha sequer para refutar o outro. O próprio Behe, diplomática e cinicamente, já declarou que embora não seja a posição dele tem "profundo respeito pelos que fazem uma interpretação literal da bíblia".
Eu já vi um cara, que parecia ser muito preparado para isso, um tal de Frank de Souza Mangabeira, se dedicar durante meses a gastar muito do
seu tempo defendendo o criacionismo no site evo.bio do filósofo Marcus Valério, mas quando ficou claro que a posição dele se tornava insustentável ele simplesmente mudou o rumo do debate e passou a ser um defensor do DI, que contradiz o criacionismo tanto quanto a teoria da evolução.
Eu acho que se seguirmos as cordinhas das marionetes vamos acabar descobrindo que os que manipulam todos os diferentes bonecos são os mesmos.