_tiago, curti o documentário "Marjoe" que você sugeriu, e venho aqui para apresentar um outro caso, desta vez não de um falso guru indiano ou de um falso pregador evangélico, mas de um suposto paranormal chamado Thomaz Green Morton que enganou muita gente no Brasil e no mundo alguns anos atrás. Usando truques fajutos de mágica para se passar por paranormal ele arrecadou uma fortuna em cima de enganações de pessoas crédulas e ingenuas, entre elas vários artistas famosos do Brasil. Porém após aceitar e depois recusar sem uma justificativa convincente um desafio do famoso cético e mágico James Randi, ele foi desmascarado pelo mentalista e ilusionista Kronus no programa fantástico, onde ele ironicamente tinha conseguido sua fama em uma série de quadros do programa sobre seus supostos poderes sobrenaturais.
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Por Alexandre de Carvalho Borges, 12 DE JULHO DE 2012
Desafio Paranormal: Thomaz Green Morton X James Randi
Alexandre de Carvalho Borges – 2004
O programa televisivo Fantástico, da Rede Globo, veiculou o quadro chamado de “Desafio Paranormal”, em que pretendia realizar um embate entre um alegado paranormal, Thomaz Green Morton, e um mágico profissional, o James Randi. O desafio pretendia colocar à prova a alegada paranormalidade do Thomaz.
As cláusulas do desafio ofereciam margem ao suposto paranormal se submeter ao teste quantas vezes quisesse, caso desejasse. Para encarar o desafio, Morton disse que ia fazer nascer um pinto de um ovo por meio de seu poder paranormal. À margem desse desafio, o que a ciência exige atualmente em uma investigação de um alegado paranormal? Veremos algumas reflexões abaixo.
A necessidade de um mágico profissional na equipe
Desde o pioneirismo do pesquisador Joseph Banks Rhine na Universidade Duke, em 1930, é utilizado métodos científicos para tentar provar fenômenos ditos paranormais. Uma verdadeira investigação científica teria que analisar algumas variáveis, tais como possíveis alterações físicas no corpo e medições cerebrais quando o alegado “poder” do Morton estiver em ação.

Joseph Banks Rhine, pioneiro das
pesquisas parapsicológicas
Se não houver um controle científico neste campo de investigação, o que nos resta é tão somente mais uma estória contada pelos seus seguidores, entre tantas outras. Estórias e fábulas de pessoas que viram alguma façanha do Morton não servem como prova científica. Desde quando essas pessoas não fizeram um experimento científico controlado para verificar a veracidade dos acontecimentos, ficamos restritos unicamente a depoimentos de testemunhas.
É aí que entra a questão da presença de um mágico profissional nestes experimentos, pois os estudos com outro alegado paranormal, o Uri Geller, sofreram muitas críticas. Randi alegou que os cientistas que estudaram e validaram a paranormalidade de Geller foram enganados pelos seus truques. Uri Geller, que afirma que seus poderes são de origem extraterrestre, nunca conseguiu provar sua paranormalidade perante o Randi.
Para provar que era fácil enganar alguns cientistas, James Randi treinou dois mágicos, alunos seus, para se apresentaram como paranormais perante alguns cientistas de universidades. Alguns testes foram feitos nestes dois alunos e os cientistas acabaram caindo nos truques de mágica realizados pelos mesmos.
Em uma pesquisa científica realizada em pessoas que alegam ter controle de seus dons paranormais, é imprescindível a consultoria e presença de um expert em mágica e ilusionismo. A questão do mágico por perto é justificada pelo seu conhecimento em rotinas e truques de mágica e, assim, não será enganado por elas. Ao contrário, alguém leigo em artes mágicas se surpreenderá, por exemplo, com um entortar de garfo, já achando ser paranormalidade. Este é apenas um exemplo da imprescindível necessidade de um mágico profissional em uma equipe de investigação científica.

O mágico James Randi. 1 milhão de dólares para
quem provar poder paranormal
Podem-se citar doutores e mais doutores de diversas especialidades que pesquisaram um alegado paranormal. A pergunta a ser feita é se tinha algum mágico profissional na comissão de investigação. Se não tinha, então devemos duvidar do resultado obtido. O fato é que, por mais inteligentes e cultos os doutores – formados em respeitáveis universidades -, podem ser enganados por truques de mágica se não forem conhecedores dessa arte da ilusão. Isso não é desrespeitar os profissionais, pelo contrário, é ser humilde em reconhecer que podem ser enganados quando não tem conhecimento em artes mágicas.
Gravar vídeos das façanhas do Morton também não garante prova alguma de sua alegada paranormalidade. Basta ver os
vídeos do mágico David Blaine e suas mágicas em close-up. Se não tivermos conhecimento em artes mágicas, não conseguiremos desvendar o truque ao vermos apenas o vídeo. Entretanto, se fossemos consultar a literatura, descobriríamos a rotina do truque e de como a mágica foi encenada na nossa frente e não conseguimos desvendá-la. Vídeos de pretensos paranormais nunca foram prova científica de paranormalidade.
A exigência da ciência e suas críticas
No intuito de que possamos eliminar a hipótese de fraude – a primeira dentre outras -, devemos pesquisar um alegado paranormal debaixo de rigoroso protocolo científico e nunca devemos acreditar nos nossos olhos destreinados em mágica. Qualquer indivíduo que faça estudos científicos sobre esses temas – e até mesmo assuntos da própria ciência – deve estar preparado a receber críticas, a debater pontos e discutir falhas metodológicas.
A ciência trabalha desta forma e, se não estamos preparando para isso, então só estamos criando um culto de crentes. Esse procedimento crítico é feito pela ciência o tempo todo. Caso contrário, ninguém mais poderia discutir as experiências realizadas por William Crookes, Alexandre Aksakof, Johann Karl Friedrich Zollner, Carlos Imbassahy, etc, somente porque foram eles que vivenciaram e presenciaram o suposto efeito paranormal e, dessa forma, teremos que aceitar sem qualquer crítica metodológica.
Podemos duvidar das pesquisas feitas por outros pesquisadores. Duvidar é o elemento mais básico da pesquisa e do pensamento racional. Até porque, o Thomaz Morton não teve sua paranormalidade provada cientificamente e testemunhos pessoais não são prova científica. Alguém pode ter filmado toda a fenomenologia, mas se ela não foi feita debaixo de controle científico, então não tem validade como prova para a ciência.
Certa vez, um defensor do Morton me contou que estava em sua casa, em companhia do alegado paranormal, e encontrou sua tesoura de aço entortada numa gaveta. Ela apareceu empenada, mas ninguém a viu ser empenada. O defensor acreditou que foi obra do Morton, somente porque ele disse que foi o autor da façanha. Por mais boa vontade que tivermos, se não houver rigor no controle científico da demonstração, nada acrescentará para certificar algo como um fato real.
Por que Morton não entorta uma tesoura na frente do Randi? Na verdade, ele sabe escolher suas plateias. O Morton poderia afirmar que entortou uma porta de um cofre de um banco, mas se ninguém viu, de quê adianta? O debate aqui está tentando focar o que é exigido pela ciência e não o que é aceito por crenças pessoais. Felizmente, a exigência científica é rigorosa, apesar de extremamente necessária na busca de livrar-se de fraudes.
É desse controle sob olhares atentos de experts em mágica e ilusionismo que o Thomaz Morton foge. Histórias do passado não servem como prova para o desafio proposto. Se não houver controle científico e experts em mágica na comissão de investigação da alegada paranormalidade, nunca teremos certeza se os participantes de sessões passadas foram enganados. Certa vez, o físico Richard Feynman encontrou com Uri Geller e comentou em seguida: “Sou esperto suficiente para saber que sou burro“. O que ele queria dizer era que, como não tinha conhecimento em artes da ilusão – por mais brilhante físico que era -, ele podia ser enganado por esses truques. Isso é que é exemplo de humildade e sabedoria científica.
É verdade que a ciência atual não tem explicação para muitos fenômenos e ela terá que ampliar seus conceitos. Em vez da humilde frase “não sei“, muitos cientistas preferem a posição de que “é tudo mentira, engano ou fraude“. Apesar do ceticismo e cautela, a ciência ainda é a melhor ferramenta que dispomos para este tipo de investigação.
A dificuldade em provar uma ação paranormal
Os defensores do paranormal alegam que se um mágico pode reproduzir, em truques, um feito paranormal, não necessariamente o suposto paranormal seja uma farsa. Por exemplo, se alguém consegue entortar garfos com poder paranormal e se isso também for possível de ser realizado por meio de um truque de mágica, não implicaria afirmar que não existam poderes paranormais. Seria como uma briga de gato e rato: se o paranormal aparece e afirma executar um novo feito com poderes “extra-humanos”, o mágico corre para reproduzir este feito de igual modo. Parece não ter fim.

O físico Richard Feynman sabia que pessoas que não conhecem artes mágicas podem
ser enganadas
A dificuldade seria o suposto paranormal conseguir provar sua autenticidade com um feito não reproduzível por mágica. Este feito existe? Pessoalmente, duvido! A questão fica difícil em distinguir o que é ordinário e o que é supostamente extraordinário. Para os defensores do paranormal, reproduzir um feito por artes mágicas não implicaria afirmar que o mesmo feito não possa ser executado por paranormalidade.
Thomaz Morton já foi pego em várias fraudes
Já não é de hoje que pessoas que conviveram com o Morton afirmam que ele frauda, que cobra valores altos em suas consultas e adora estar entre os artistas famosos. Existe um livro sobre o Morton, escrito pelo pesquisador Mario Amaral Machado, e que é bem ilustrado com fotos das suas supostas ações paranormais. Quando vejo estas fotografias, observo a quantidade de truques já “batidos” e que hoje somente serve pra ensinar crianças a aprenderem mágica. Um exemplo desses truques de mágica é a da colagem de cédulas de dinheiro.
Alguns pesquisadores que investigaram o Morton citam que o mesmo já usou e usa de truques fraudulentos em suas performances. Seus defensores dizem que quando ele não consegue realizar as habilidades e dom que afirma ter, apela para esse recurso, apesar de ser pego pelos olhos atentos dos pesquisadores. Mesmo sendo pego em fraudes, alguns defensores do Morton ainda acreditam em sua paranormalidade. Eles dizem que nem tudo é fraude e que ainda há algo de genuíno nele. O próprio programa Fantástico mostrou uma fraude do Morton, onde, maliciosamente, ele entorta um garfo por debaixo da mesa antes de mostrar aos que o assistiam.
E o Thomaz Morton fugiu do desafio
O que muitos esperavam, aconteceu: Morton fugiu do desafio e não conseguiu provar sua paranormalidade perante o mágico James Randi. Defensores do Morton disseram que ele fugiu do desafio por ser um homem que não honra compromissos. Será que alguma vez na vida dele, comprometeu-se com um acordo tão importante como este? O desafio foi publicamente divulgado em inúmeros capítulos, em rede nacional, em um dos programas mais vistos da TV brasileira. E mais: um compromisso que lhe renderia 1 milhão de dólares, quase três milhões de reais, caso ganhasse.
Morton sempre foi muito atraído por dinheiro, cobra vultuosas somas por suas consultas. Uma “energização” para seus clientes pode custar em torno de 60 mil reais. O que lhe faria declinar em agarrar tanto dinheiro de uma vez só? Ficou claro que ele correu dos três milhões de reais porque quem oferecia o dinheiro era um astuto e experiente mágico, acostumado a desbancar falsos paranormais. Ele fugiu do desafio do Randi porque sabe que o mágico é duro de enfrentar.

Thomas Green Morton diz ser paranormal
e desafiou o James Randi
O Morton alegava que tinha domínio para execução de seus “dons”. Mesmo que no momento do desafio ele dissesse que a “energia acabou agora“, ele poderia ser submetido a estrito controle em outro momento, quando sua alegada “energia” estive retornado. Era isso que ele fazia com as pessoas que o visitavam. Enfim, a espontaneidade dos “dons” do Thomaz Morton não devia ser argumento para motivo da fuga de um rigoroso controle científico.
Na verdade, foi ele quem desafiou o Randi, dizendo que ia chocar um pinto de ovo de galinha com seus dons. Realmente, essa alegada ação de Bio-PK seria bem mais interessante do que apenas entortar garfos. O impressionante é que o Morton esgotou sua “paranormalidade” justamente à época do desafio do Randi. As forças deles terminaram quando um mágico bem esperto em truques o desafiou. É uma coincidência mágica!
Não foi a primeira vez que Morton fugiu de um desafio que pretendia testar sua alegada paranormalidade. Ele já havia fugido, anos atrás, do padre Oscar Quevedo, que também já o desafiou várias vezes. Por que será que ele já tinha fugido várias vezes do Quevedo? Claro, ele sabia que o Quevedo também conhece as artes mágicas, a hipnose, é astuto e já desbancou vários charlatões. A fuga do Thomaz é um procedimento típico de charlatões. Naturalmente, ele deve ter se informado melhor sobre quem é James Randi e visto que o mágico é um profissional duro de enfrentar.
Fonte:
http://www.alemdaciencia.com/desafio-paranormal-thomas-green-morton-x-james-randi/