Sendo o deísmo ainda por cima, muito diferente do fideísmo por exemplo, que segue as escrituras sagradas, a tradição, as figuras de autoridade e os dogmas institucionalizados com fé cega, sem questionar, enquanto o deísmo rejeita todas essas coisas, e por uma inclinação a aceitar a existência de Deus advoga que ele só pode ser conhecido por meio da razão.
Uma recomendação: Dada a crença em uma multiplicidade de deuses por parte das pessoas e sendo o deus judaico-cristão apenas mais um e ainda tendo um nome (Yaweh), não use a palavra "Deus" com grafia maiúscula a menos que você queira agradar o statu quo de plantão.
Usei "Deus" com letra maiúscula pois é assim que os cristãos se referem a ele hoje, como se este fosse o seu nome. E como nomes próprios sempre se iniciam com letras maiúsculas, eis ai uma justificativa para tal uso. No entanto, para evitar confusões, atenderei a sua recomendação e passarei daqui por diante a usar outros termos para se referir ao deus judaico-cristão.
Na história de Noé não parece em nenhum momento existir de alguém manifestar uma postura de investigação racional sobre Deus, característica determinante do deísmo, logo, seu uso do termo neste contexto continua a ser um equivoco.
Eu me divirto muito quando alguém insiste em que é possível investigar racionalmente um deus (neste caso, o judaico-cristão). Não é possível porque não se pode esquecer o conjunto de informações que existem sobre este deus no compêndio de mitologia narrativa, da qual os seus seguidores chamam de 'bíblia', e que mostram claramente a inconsistência racional deste deus.
Algumas definições de deísmo segundo alguns dicionários:
deísmo s.m. (1728) fil doutrina que considera a razão como a única via capaz de nos assegurar da existência de Deus, rejeitando, para tal fim, o ensinamento ou a prática de qualquer religião organizada [O deísmo difundiu-se principalmente entre os filósofos enciclopedistas e foi o precursor do ateísmo moderno.]
¤ etim fr. déisme 'id.'
¤ ant ateísmo.
(
Cf. Houaiss, V. 3.0.)
deísmo[De de(i)- + -ismo.] Substantivo masculino. 1.
Filos. Sistema ou atitude dos que, rejeitando toda espécie de revelação divina e, portanto, a autoridade de qualquer Igreja, aceitam, todavia, a existência de um Deus, destituído de atributos morais e intelectuais, e que poderá ou não haver influído na criação do Universo.
[Cf. teísmo1.](
Cf. Aurélio, V. 5.0.40)
DEÍSMO (in.
Deism; fr.
Déisme, ai.
Deismus; it.
Deísmó). Doutrina de uma religião natural ou
racional não fundada na revelação histórica, mas na manifestação natural da divindade à razão do homem.
O D. é um aspecto do
Iluminísmo (v.), de que faz parte integrante. Mas as discussões em torno do D. foram iniciadas pelos chamados platônicos de Cambridge, especialmente por Herbert de Cherbury em sua obra
De Veritate (1624). Entre os outros deístas ingleses devem ser lembrados os nomes de John Toland, Mathew Tindal, Anthony Collins, Anthony Shaftesbury. A obra principal do D. inglês foi
Cristianismo sem mistérios (1696) de John Toland (1670-1722).
O D. difundiu-se fora da Inglaterra como elemento do Iluminismo: são deístas quase todos os iluministas franceses, alemães e italianos. Nem todos, porém, usam a palavra D. para designar suas crenças religiosas: Voltaire, p. ex., usa a palavra "teísmo" (
Dictionnairephilosophique, \1(A, art. Athée, Théiste). Mas foi Kant que estabeleceu claramente a distinção.
As teses fundamentais do D. podem ser recapituladas assim:
Iª a religião não contém e não pode conter nada de irracional (tomando por critério de racionalidade a razão lockiana e não a cartesiana);
2ª a verdade da religião revela-se, portanto, à própria razão, e a revelação histórica é supérflua;
3ª as crenças da religião natural são poucas e simples: existência de Deus, criação e governo divino do mundo, retribuição do mal e do bem em vida futura.
Note-se, porém, que em relação ao conceito de Deus nem todos os deístas estavam de acordo. Enquanto os deístas ingleses atribuem a Deus não só o governo do mundo físico (a garantia da ordem do mundo), mas também o do mundo moral, os deístas franceses, a começar por Voltaire, negam que Deus se ocupe dos homens e lhe atribuem a mais radical indiferença quanto ao seu destino (
Traité de métaphysique, 9).
Todavia, a "religião natural" de Rousseau é uma forma de D. mais próxima da inglesa porque atribui a Deus também a tarefa de garantir a ordem moral do mundo. Em todo caso, o que há de peculiar ao D., em relação ao teísmo (v.), é a negação da revelação e a redução do conceito de Deus às características que lhe podem ser atribuídas pela razão. Essa é a distinção estabelecida entre D. e teísmo por Kant (
Crít. R. Pura, Dialética, cap. III, seç. VII) (v. DEUS).
(
Cf. Abbagnano, Dicionário de Filosofia, 2007, p. 238)
Segundo a Wikipédia:
DeísmoO deísmo é uma posição filosófica naturalista que aceita a existência e natureza de Deus (Criador ou não) através da razão, do livre pensamento e da experiência pessoal, em vez dos elementos comuns das religiões teístas como a revelação direta, ou tradição. Deus é um Criador ou Organizador do Universo (comparável ao Demiurgo do filósofo grego Platão), é a primeira causa da filosofia deísta. Em palavras mais simples: um deísta é aquele que está inclinado a afirmar a existência de Deus, mas não pratica nenhuma religião, não negando a realidade de um mundo completamente regido pelas leis naturais e físicas. A interpretação de Deus pode variar para cada deísta.
[...]
As primeiras obras de críticas a Bíblia, tais como Thomas Hobbes no Leviatã e Spinoza no Tratado Político Teológico, bem como obras de autores menos conhecidos, como Richard Simon e Isaac La Peyrère, pavimentaram o caminho para o desenvolvimento do deísmo crítico.
(
Cf. Wikipédia, Deísmo, Visitado em 06/05/2014)
Todas estas descrições acima sobre o deísmo me diz que as mesmas críticas geralmente direcionadas aos fideístas e demais tipos de teísmos que se guiam pela tradição e dogmas pré-estabelecidos, bem como a bíblia, as religiões institucionalizadas e etc. não podem serem direcionadas também aos deístas, visto que eles próprios foram talvez os pioneiros as realizarem, e pelo motivo de eles próprios rejeitarem e se oporem aos fatores citados acima que eram comum as religiões institucionalizadas, incluindo por exemplo as tradicionais interpretações bíblicas como revelações de Deus.
Abraços!