Tópico: Os turbinados elefantes do Criacionismo da Terra Jovem

[O Demiurgo]

Os mais familiarizados com as publicações online dos criacionistas bíblicos muito provavelmente já se esbarraram com um artigo desse ilustre senhor australiano, Jonathan Sarfati.

Como literalistas bíblicos são impedidos de publicarem em revistas especializadas de ciências da natureza seus modelos pseudocientíficos, contornam essa situação criando seus próprios journals "técnicos" e seus próprios critérios para a publicação de material nestes ( que envolvem, obviamente, que os "pesquisadores" autores dos artigos aceitem um Estatuto de Fé que alega que o mainstream científico atual é uma grande fraude ).

É uma indústria multimilionária que movimenta a venda de revistas, livros, vídeos e organiza diversas palestras públicas. É aqui que entra o Sr. Sarfati; ele é responsável por alguns dos bestsellers da literatura criacionista como "Refuting Evolution", o livro que muitos alegam que deveria ser integrado ao currículo das aulas de ciências de escolas elementares americanas ao lado de seu equivalente "secular" e "Refuting Compromise", livro onde ataca veemente a posição do criacionista da terra antiga Hugh Ross, que aceita a cosmologia do Big Bang, a validade de todas as técnicas de datação radiométricas e reconhece que não existe nenhuma evidência para um Dilúvio Global.

O Sr. Sarfati, como muitos de seus companheiros ideológicos, é encontrado com frequência escrevendo "artigos científicos" de áreas que fogem completamente de sua graduação ( Química ). Ele julga que possui mais competência que todos os geólogos, astrofísicos, cosmologistas e biólogos que discordam de suas teses anti-darwinistas e catastrofistas.

Mais uma vez, ele armou uma armadilha para si-próprio; no artigo Mammoth - Riddle Of The Ice Age ele afirma em um parágrafo:

Applying this to elephants, the African elephant (Loxodonta africana) and Asian elephant (Elephas maximus) can mate and produce offspring, albeit short-lived. Thus they belong to the same created kind, possibly even the same species, even though the man-made system calls them separate ‘species’ and even different ‘genera’ (plural of genus). Mammoths are considered to be closer to Asian elephants than African elephants are. So if the mammoth lived today, it could very likely cross-breed with an Asian elephant. Therefore the entire order Proboscidea probably comprises only one created kind.

Em outras palavras, para ficar bem claro: ele alega que provavelmente todos os espécimes abaixo possuem ancestralidade comum:



Moeritherium




Gomphotherium




Platybelodon




Phiomia




Trilophodon




Deinotherium

E é claro, nossos conhecidos mamutes, mastodontes e elefantes atuais... sem contar outros gêneros da ordem dos proboscídeos mais próximos aos elefantes atuais como os stegodontes.

Não se fazem mais criacionistas como antigamente... existia um tempo onde os mesmos não iriam cair no ridículo em usar darwinismo para criticar darwinismo...

No mundo de verdade, os proboscídeos tiveram um lento, pontuado e ramificado percurso evolutivo de mais de 50 milhões de anos; no mundo da fantasia dos criacionistas, eles possuem apenas cerca de ~1650 anos antediluvianos para o desenvolvimento dessa diversidade exuberante.

Cheque mate, Dr. Sarfati.

[Buckaroo Banzai]

por que ante diluvianos?

Deus não ordenou que Noé enfiasse todos tipos de animais no seu barco? Esses então devem ter evoluído após o dilúvio, a partir de um só "tipo" de animal.

[O Demiurgo]

Os únicos prosbocídeos que os criacionistas alegam que são pós-diluvianos são mamutes e elefantes. Dizer que alguns desses prosbocídeos são pós-diluvianos só atrapalha o frágil modelo dos criacionistas, porque não existe nenhum registro histórico de humanos convivendo com os outros citados.

[Buckaroo Banzai]

Mas dizer que são antediluvianos também não ajuda em nada quanto a esse problema. Se eles são apenas antediluvianos, também teriam que haver registros deles com pessoas antediluvianas (que não eram pouco numerosas, segundo alguns criacionistas), bem como com dinossauros e outros todos.

Ah, mas discutir isso é como discutir o porque nunca ninguém encontrou um pote atrás do árco-íris deixado pelos leprechauns... não tem como esperar lógica e não se desapontar...

[O Demiurgo]

Danniel, o grande ponto do tópico é a taxa de evolução que os criacionistas admitem que existe, que é absolutamente fantástica. As centenas de anos a mais antediluvianas não fazem a menor diferença. É pior do que o caso dos gigantes Anakin, descendentes de seres humanos.

[Buckaroo Banzai]

Essa evolução turbinada neofixista desses criacionismos, eu até acho que levaria logicamente de volta à ancestralidade comum universal. Enquanto que com o fixismo clássico, ou mesmo aceitando as velocidades de evolução cientificamente defendidas e supondo uma terra jovem, não daria, no mínimo por falta de tempo, para ter ocorrido ancestralidade comum terrestre. Aí as evidências seriam simplesmente coincidência, puro acaso.

Mas essa evolução super veloz criacionista faz o tempo deixar de ser um problema mesmo numa terra supostamente jovem, e todas as evidências da ancestralidade comum universal ainda estão lá. Daí, para os que defendem esses criacionismos com evolução turbinada, simplesmente defender uma idade jovem para a Terra não adianta absolutamente nada para criacionistas querem refutar a ancestralidade comum universal, muito menos provar algum criacionismo específico.

[O Demiurgo]

Ainda existe entraves fixistas; acho que eles nunca irão admitir por exemplo parentescos entre sirênios e hipopótamos ou mesmo entre ursídeos e outros carnívoros. O ponto que você levantou sobre a utilidade de uma terra de idade milenar é realmente bem importante.

Agora eu fico pensando em qual dos prosbocídeos acima se configuraria como "kind" original; como eles alegam arbitrariamente que o "kind" original possuía "potencial genético rico" e que evolução "não produz acréscimo de informação" então julgo que eles consideram que esse ancestral comum seria algo próximo ao mamute. Só que mesmo assim "ao contrário", julgo também que o desenvolvimento da mandíbula de vários espécimes acima configuraria como "aumento de informação genética", por serem estruturas mais complexas do que a de mastodontes, mamutes e elefantes atuais.

[Buckaroo Banzai]

eles não admitem mas não tem base alguma.

A mesma linha de evidências que diz que os organismos de um "tipo" descendem de um ancestral comum, levaria ao parentesco com o grupo mais próximo apontado pela cladística.

Eu recentemente descobri que há algo que eles chamam de "baraminologia", que é a busca pelos tipos originais. A coisa mais científica que eles fazem é dizer que se produz algum híbrido, é do mesmo "baramin" ("tipo"). Mas isso ainda daria um número grande demais de "tipos" para o barquinho do Noé e seus 8 ocupantes.

É simplesmente aceito sem questionar que há os "tipos" fixos, sem saber dizer quais seriam, sem chegar a uma conclusão. A conclusão geral (fundamentalismo) é sempre o ponto de partida para os criacionismos, e chegar até lá com evidências é totalmente supérfluo, basta inventar uma desculpa superficial e está pronto.