Os resultados foram sensacionais. Meredith descobriu, primeiro, que as mulheres, sejam elas hétero ou homossexuais, se estimulam com uma gama muito variada de cenas. Homem e mulher transando, mulheres transando, homens transando, quase tudo foi capaz de produzir excitação física nas mulheres. Até cenas de coito entre bonobos (os parentes menores e mais dóceis dos chimpanzés) causaram alterações genitais nas voluntárias, embora tenham deixado os homens indiferentes. Qualquer que seja a sua orientação sexual, eles parecem ser mais focados em suas preferências. Homossexuais se excitam predominantemente com cenas de sexo entre homens ou com cenas de masturbação masculina. Heterossexuais se interessam por sexo entre mulheres, sexo entre homens e mulheres e atividades que envolvam o corpo feminino, mesmo as não-sexuais. O estudo sugere que as mulheres são mais flexíveis em sua capacidade de se interessar. Seu universo sexual é mais rico.
Supondo a veracidade deste estudo, isso poderia explicar por que a homossexualidade feminina parece ser socialmente mais aceita (e até mesmo apreciada) do que a homossexualidade masculina. As partes negritadas em itálico demonstram que os homens e as mulheres (homossexuais ou héteros) possuem uma aceitação (e mesmo uma excitação) geral em relação ao sexo homossexual entre mulheres, o mesmo não acontecendo quando a situação é invertida (quando a relação sexual é entre homens).
A outra surpresa da pesquisa de Meredith, talvez sua descoberta mais importante, foi a constatação de que existe uma distância entre o que as mulheres manifestam fisicamente e o que elas declaram sentir. As cenas de sexo entre mulheres, por exemplo, foram as que causaram maior excitação física entre as mulheres heterossexuais – mas aparecem em segundo na lista de respostas sobre as imagens mais excitantes. Ocorre o mesmo com sexo entre dois homens. Os sensores vaginais mostram ser esse o terceiro tipo de cena que mais excita as mulheres, mas ele aparece na quinta posição nas declarações. O fenômeno de divergência entre corpo e mente não poupa os macacos. Meredith diz que o relato subjetivo das mulheres sobre os bonobos não é coerente com a excitação física que elas demonstram. “O que eu descobri foi que as mulheres ficaram fisicamente excitadas (com os macacos), mas não declararam se sentir dessa forma”, ela disse em entrevista a ÉPOCA.
Disso eu já suspeitava, as mulheres parecem de fato não saberem o que querem (o que verbalizam apreciar não é coerente com aquilo que elas procuram-aceitam-fazem em relação a apreciação sexual do sexo oposto na prática). É comum notarmos mulheres criticando o comportamento cafajeste e promiscuo de homens bem relacionados sexualmente, na medida que quando elas se deparam com este tipo de homem, contraditoriamente acabam se relacionando com eles. Elas costumam tecer elogios a homens cavalheiros, fieis e honestos, mas frequentemente os dispensam quando recebem propostas românticas destes, os trocando pelos cafajestes (que elas tanto criticam).
A revista dominical do jornal The New York Times publicou dias atrás uma longa reportagem em que a sexóloga Meredith, de 36 anos, discutia a sua pesquisa, publicada em 2007. O texto apresentava várias teorias e pesquisas empíricas que tentam explicar o universo sexual feminino. Curiosamente, quando combinados, os dados obtidos em laboratório parecem confirmar aquilo que Fernanda Young afirma sem amparo estatístico: por razões ainda misteriosas (históricas e culturais, provavelmente; físicas, quem sabe) as mulheres escondem (até de si mesmas) as suas preferências sexuais e operam com um nível elevado (e contraditório) de fantasias, nem todas politicamente corretas. “A sexualidade é um quarto escuro”, diz a escritora.
[...]estamos de volta à perplexidade registrada por Freud no texto de 1900, com um sério agravante: não é apenas que um homem não entende as mulheres, mas elas mesmas que não sabem o que sentem. Ou não seria nada disso? “As mulheres mentem, de forma consciente e inconsciente”, diz a escritora e roteirista Fernanda Young, de 38 anos. “Elas mentem para sobreviver porque, historicamente, não têm liberdade para dizer o que pensam. Acho que a maioria das mulheres se constrange diante de alguns objetos de excitação e diz que não se excita. É uma questão de sobrevivência cultural”.
Isso parece ir de encontro ao que eu acabei de dizer acima. Elas são contraditórias, dizem gostar de uma coisa, e na verdade, intimamente costumam gostar de outra completamente diferente (e geralmente aquilo que elas criticam abertamente). Também já suspeitava que pudesse se tratar de uma forma de se defenderem culturalmente, de parecerem boas meninas, de acordo com aquilo que nossa sociedade considera apreciável: Ser comportada ao invés de promiscua, se relacionar com cavalheiros, ao invés de com cafajestes.
A lubrificação vaginal talvez seja um artifício evolutivo para impedir que a mulher se machuque. Esse tipo de generalização extraída do laboratório reflete a realidade das mulheres? Eis uma pergunta que o psicólogo Ítor Finotelli Júnior, terapeuta sexual na cidade de Campinas, em São Paulo, acha difícil responder. Ele examinou o estudo de Meredith a pedido de ÉPOCA e faz uma ressalva: a amostragem limitada. “O número de voluntários não é razoável. Você precisa de umas 200 ou 300 pessoas para extrair conclusões confiáveis”, diz ele. Meredith trabalhou com 47 mulheres. Outra complicação é a ausência de informação sobre as voluntárias. Qual a idade, qual a classe social, qual a etnia ou a cultura das mulheres estudadas por Meredith? Ele dá um exemplo prático da limitação dessas investigações. Seu grupo de trabalho acaba de concluir um estudo de 200 pacientes (homens e mulheres) sobre fantasias autoeróticas. Descobriu que as mulheres se excitam recordando cenas de sexo com os parceiros, enquanto os homens recorrem a fantasias com “mulheres atraentes”. “Mas isso é válido apenas para pessoas de classe média alta, com curso universitário, que moram em São Paulo e procuram auxílio psicológico”, diz ele.
Esta observação feita pelo psicólogo e terapeuta sexual Ítor Finotelli Júnior é algo a se relevar, eu estou com ele, com esta pequena amostragem e com está evidente falta de informação sobre os participantes do estudo, as conclusões e interpretações feitas pela pesquisadora em questão perdem um pouco do valor.
Abraços!