Eu pretendo seguir algumas premissas neste campo quando começar a lecionar de verdade (espero que daqui a cerca de 1 ano).
1º: a abordagem sobre pseudociência não pode roubar conteúdo, o conteúdo em biologia do ensino médio já é apertado e ele precisa ser cumprido ao máximo possível.
2º: a atitude em aula não deve ser panfletária: não basta chegar com meia dúzia de panfletos do 23
10 e dizer pros alunos não tomarem homeopatia porque homeopatia é pseudociência e o professor de biologia, que é por definição o educador especialista na área, está falando. É preciso, na verdade, que o aluno entenda os métodos de investigação científica, suas etapas, a importância de não pular estas etapas, a possibilidade de erro da pesquisa científica mesmo quando ela é feita de modo adequado, a possibilidade de reformulações do pensamento científico ante novos métodos ou informações acumulados.
3º: mais do que sair sabendo que homeopatia não funciona ou que o glúten não faz mal o aluno precisa entender que a publicação de uma informação num jornal, mesmo que assegurada por alguém com formação na área, mesmo que estampada na coluna de ciências do jornal mais popular da cidade, mesmo que reforçada por um texto formatado como um típico
paper podem estar equivocadas e que existem pistas para se identificar os equívocos mais grosseiros.
Seguindo estas premissas uma linha de trabalho que eu pretendo adotar quando eu estiver lecionando é colocar meus alunos dentro destes conflitos menos do que tentar resgatá-los dele, e usar atividades extra-classe para trabalhar estas questões deixando as atividades intra-classe para trabalhar o conteúdo envolvido com as dúvidas que tivessem sido originadas explicar quando, fosse o caso, os porquês da posição de consenso científico for esta e não aquela.
Temas que acho que dariam bons fios de meada na minha área seriam questões de divergência na evolução de táxons a medida que novos métodos de investigação surgem; posições divergentes quanto ao consumo de N substâncias alimentares (glúten, lactose, aspartame, suplementos proteicos...); efeitos colaterais de medicamentos e o porquê de eles existirem; métodos de previsão estatística em ecologia...
Numa das disciplinas que fiz pra Faculdade de Educação a professora pediu um trabalho que tinha que conter uma mídia (filme, revista, peça publicitária...) que desse suporte ao resto do trabalho [que incluía um plano de aula, uma análise de mídia... enfim].
Para a parte de produzir uma mídia de suporte eu acabei elaborando um
folder de quatro páginas que acho que resume o que quis dizer acima, na primeira página haveria uma informação taxativa retirada do noticiário científico, na segunda página o aluno se chocaria com uma informação também taxativa e também retirada do noticiário científico mas que fosse, de alguma maneira, oposta à primeira informação: no meu projeto lá da disciplina ele seria apresentado aos alunos algumas semanas antes do início do módulo de bioquímica, como uma propaganda do módulo antecipando algumas questões práticas e cotidianas envolvidas com este módulo do ensino em biologia:




Como andamento da abordagem eu poderia fazer desmembramentos, por exemplo, as manchetes das duas páginas iniciais foram retiradas de dois portais famosos, o do G1 e o da BBC, eu poderia ao longo do curso para este efeito fazer a tradução dos artigos que basearam as duas matérias (me lembro que um era de Harvard e o outro era da Carolina do Norte, não sei que periódicos aceitaram os estudos) e propor (valendo nota, é claro) que os alunos lessem o
paper identificassem que informações do
paper teriam faltado na matéria jornalística, por exemplo; ou poderia abordar em sala (aí já dentro do módulo presencial e conteudista da discussão) quais vias fisiológicas eram alteradas pelo consumo em excesso de café segundo os
paperes e o porquê deste desvio melhorar o funcionamento de alguns sistemas ao mesmo tempo que podia levar outros ao colapso...