ESTUDO REALIZADO EM 11 PAÍSES REVELA: A GUERRA ÀS DROGAS FRACASSOU
Após 8 meses de investigação, britânicos concluem: proibir não funciona.por Spotniks 5 de novembro de 2014

O último estudo do governo britânico sobre drogas, publicado no último dia 30, é o primeiro relatório oficial, desde 1971, a afirmar que a guerra às drogas falhou no país. Após 8 meses de intensas análises de dados de 11 países, os pesquisadores chegaram à conclusão de que a proibição não possui nenhuma correlação com a diminuição do número de usuários de drogas.
O relatório, intitulado “
Drugs: Internation Comparators” foi assinado tanto pela Secretária de Estado, a conservadora Theresa May, quanto pelo Ministro de Prevenção ao Crime, o liberal democrata Norman Baker.
Um dos pontos enfatizados pelos pesquisadores é a comparação entre Portugal e a República Tcheca, dois países onde o uso pessoal de drogas não caracteriza crime.
“Em nossa análise dos fatos, não observamos nenhuma relação clara entre a firmeza com a qual a proibição da posse de drogas é levada, e os níveis de uso de drogas nesse país. A República Tcheca e Portugal possuem uma abordagem similar quanto à posse [de drogas], onde a posse de pequenas quantidades de qualquer droga não é motivo suficiente para um processo criminal, mas enquanto os níveis de uso de drogas em Portugal são relativamente pequenos, o nível de uso de cannabis na República Tcheca é um dos maiores da Europa”, afirmam.

Por outro lado, os dados apontam que leis mais rígidas, mesmo quando apresentam algum sucesso relativo, ainda são mais caras e menos eficientes que políticas menos rígidas:
“Os indicadores do nível de uso de drogas na Suécia, que tem uma das políticas mais rígidas [contra o uso de drogas] que nós vimos, apontam para níveis relativamente baixos de uso de drogas, mas [estes níveis] não são evidentemente mais baixos que em outros países com abordagens diferentes”.
Outro dado interessante sobre o caso de Portugal, que descriminalizou o uso pessoal de drogas há 11 anos, foi uma redução no uso nos últimos anos. Enquanto o uso de maconha atingia pouco mais de 3% em 2001 (antes da descriminalização) e a cocaína mal atingia os 0,5%, em 2007 (4 anos após a liberação do uso pessoal) os índices subiram para mais de 3,5% e a cocaína bateu além dos 0,5%. Surpreendentemente, em 2012, os índices caíram para níveis menores que os registrados em 2001, com o uso de maconha atingindo pouco mais de 2,5% da população e o uso de cocaína despencou para menos de 0,25% dos portugueses.

Apesar das fortes evidências, os autores do estudo são cautelosos em tomar uma posição.
“Em nossa busca por evidências, ouvimos argumentos tanto pela descriminalização quanto por políticas de ‘tolerância zero’. Todos os legisladores e funcionários públicos com quem conversamos tinham alguma justificativa para suas abordagens, e todos foram capazes de demonstrarem algum sucesso. Isso reflete o fato de que o abuso de drogas é um problema complexo com vários fatores contribuindo, dos quais o impacto da lei e sua rigidez são apenas um”, afirmam.
“É muito cedo para sabermos como será o andamento desses experimentos, mas vamos monitorar o impacto dessas políticas nos próximos anos”, diz o estudo sobre o caso do Colorado e do Uruguai, que recentemente legalizaram o
uso e a produção de maconha para uso recreacional.
Por outro lado, os autores já tem uma posição definida sobre a guerra às drogas: ela falhou no seu principal objetivo, o de reduzir o consumo.
“A disparidade da tendência ao uso de drogas e das estatísticas criminais entre países com abordagens similares, e a falta de uma correlação clara entre a ‘rigidez’ da aplicação de uma lei e os níveis de usos de drogas mostram a complexidade do problema. Melhores resultados na saúde dos usuários de drogas não aparenta ser um resultado direto de uma abordagem mais rígida”, afirma o último parágrafo do relatório.
Fonte:
http://spotniks.com/estudo-realizado-em-11-paises-revela-guerra-drogas-fracassou/