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Rhyan

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Há muito governo na nossa gasolina
« Online: 14 de Fevereiro de 2015, 04:34:32 »
Há muito governo na nossa gasolina
por Daniel Marchi, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015


Com o preço médio da gasolina acima de R$ 3,50 na maior parte do país, e chegando a R$ 4,51 em algumas localidades (dependendo do tipo da gasolina escolhida) — e tudo isso justamente em um momento em que o preço da gasolina está em queda no resto do mundo —, a conclusão é que há muito governo em cada litro da gasolina brasileira.
No entanto, tudo isso é ainda muito pior do que parece.

Embora as principais intervenções diretas do governo sejam claras e visíveis a todos — o retorno da CIDE e a decisão da Petrobras de aumentar o preço para refazer seu caixa, esfacelado pela corrupção —, há também outras intervenções que o cidadão comum não consegue visualizar, mas que são ainda mais deletérias do que essas duas intervenções explícitas do governo.

A seguir, uma lista das 9 principais contribuições do governo brasileiro para o preço e para a qualidade da nossa gasolina:

1) O mercado de combustíveis no Brasil está longe de ser um genuíno mercado.  Há uma vasta e complexa rede de subsídios, obrigações e proibições.

O setor energético é certamente um dos mais regulados da economia brasileira.  Começa pelo fato de a Petrobras deter um monopólio prático da extração de petróleo.  Após mais de 40 anos de monopólio jurídico (quebrado apenas em 1997), a Petrobras já se apossou das melhores jazidas do país.  Nem tem como alguém concorrer.  É como você chegar atrasado ao cinema: os melhores assentos já foram tomados, e você terá de se contentar com os piores.

Depois da Petrobras, vem a ANP (Agência Nacional de Petróleo), cuja função autoproclamada é a de fiscalizar todo o setor petrolífero brasileiro, inclusive os setores de comercialização de petróleo e seus derivados, e o de abastecimento.

A ANP é uma burocracia enorme que possui, além de sua diretoria, uma secretaria executiva, 15 superintendências, 5 coordenadorias, 3 núcleos (Segurança Operacional, Fiscalização da Produção de Petróleo e Gás Natural, e Núcleo de Informática) e 3 centros (Relações com o Consumidor, Centro de Documentação e Informação, e Centro de Pesquisas e Análises Tecnológicas).

Além da Petrobras e da ANP, que regula tudo que diz respeito ao setor, há toda uma cornucópia de regulamentações ambientais, trabalhistas e de segurança que fazem com que abrir um posto de combustíveis seja uma atividade quase que restrita aos ricos — ou a pessoas que possuem contatos junto ao governo.  Livre concorrência nesta área nunca existiu.

2) Há toda a carga tributária.  Como anualmente demonstrado pelo IMB no Dia da Liberdade de Impostos, caso todos os impostos sobre a gasolina (PIS, Cofins, CIDE e ICMS) fossem abolidos, o preço do litro, hoje, cairia 53%, que é exatamente a carga tributária desses impostos que incidem sobre a gasolina.

Uma carga tributária tão voraz como esta incidindo sobre os preços estimula a criação de todos os tipos de métodos burlescos que possibilitem a obtenção de um máximo de receitas através do menor volume possível de vendas do produto real — daí os recorrentes casos de gasolina batizada, por exemplo.

3) Uma fatia do caríssimo preço da gasolina é utilizada pelo governo para subsidiar o preço do diesel.  O argumento é que o diesel é um "combustível social" por ser utilizado no transporte público e no transporte de cargas.

Os empresários donos de concessões de ônibus e de transportadoras agradecem.

4) Por conta desse subsídio ao óleo diesel, é proibida a circulação de carros de passeio movidos a diesel no Brasil.  Quem já foi à Europa sabe que veículos de passeio a diesel não apenas são muito comuns por lá, como já estão se tornando a maioria.

No Brasil, os únicos automóveis que podem utilizar o diesel são aqueles vistosos utilitários, de propriedade apenas dos mais ricos.  Justamente por serem considerados "veículos utilitários", e não veículos de passeio, eles têm esse privilégio.

Os fazendeiros e os ricaços, que podem andar com combustível subsidiado pelo povo, agradecem o suado esforço da boiada.

5) A gasolina no Brasil vinha com 25% de álcool.  Agora, por determinação do governo, esse percentual foi elevado para 27%.  O que isso significa?

5.1) Em primeiro lugar, maior consumo.  Quanto maior o volume de álcool na gasolina, maior é o consumo, pois o álcool possui menos poder calorífico em relação à gasolina. Isso faz com que seja necessária uma maior quantidade de combustível para que o motor realize o mesmo trabalho.  Ou seja, seu carro consumirá mais e você terá de reabastecer com mais frequência.  Prepare seu bolso.

5.2) O álcool é péssimo para o motor, pois é corrosivo. Isso afeta tanto a bomba de combustível do carro quanto a vida útil dos componentes do sistema de injeção.  Mais álcool, mais estrago.

5.3) Os motores a gasolina não foram calibrados para tamanho teor de álcool, e nenhuma pesquisa de campo concluiu que os microprocessadores da injeção eletrônica têm a capacidade de processar uma mistura contendo mais de 25% de álcool para chegar a uma mistura ar-combustível ideal.  Consequentemente, haverá a tendência de a mistura ar-combustível ficar mais pobre, gerando redução de potência e hesitações sob aceleração.  Haverá mais emoção a cada ultrapassagem.

5.4) Se você quiser continuar comprando gasolina com "apenas" 25% de álcool, você terá de desembolsar mais para comprar a gasolina Premium, que não foi agraciada com essa resolução do governo.  Seu litro custa bem acima de R$ 4 na maioria das cidades brasileiras.

5.5) Utilizar essa nova gasolina com 27% de álcool em motores anteriores a 2003 será um risco, pois as peças desses motores não foram fabricadas para suportar esse ataque químico.  Lindamente, a ANFAVEA apenas pede que os proprietários desses carros paguem mais de R$4 pelo litro da gasolina Premium.

5.6)  Moramos em um país que, se um dono de posto resolver vender gasolina pura, ele será preso por falsificação de combustíveis.

6) Como consequência disso tudo, no Brasil, todo proprietário de veículo de passeio, de um simples Corsa até o Fusion, é obrigado a colocar álcool no seu carro. Trata-se de um dos maiores mercados cativos para um produto do mundo.

Lembrem-se disso sempre que virem reportagens sobre usineiros reclamando que as coisas não vão bem e que precisam de mais dinheiro do BNDES.

7) Uma lei aprovada em janeiro do ano 2000 (Lei nº 9.956/2000) proíbe o funcionamento de bombas automáticas em postos de gasolina.  Uma bela forma de iniciar o terceiro milênio, não? Tanto na Europa quanto nos EUA não existem frentistas.  No Brasil, o governo tornou essa profissão obrigatória (assim como trocador de ônibus), o que só encarece os custos de se ter um posto de combustível.

Mas pensemos pelo lado positivo: ainda bem que esses gênios não legislavam nos anos 1950.  Eles teriam proibido as colheitadeiras em nome da preservação do emprego.

8) A tudo isso acrescente toda a legislação trabalhista, urbanística e ambiental, que impede o surgimento de novos postos de gasolina para aumentar a concorrência, e encarece as operações daqueles já existentes.

9) Nos EUA, cujo setor petrolífero é dominado por empresas privadas "malvadas e gananciosas", o preço da gasolina caiu e voltou ao mesmo valor nominal de dez anos atrás.  Hoje, um litro de gasolina nos EUA está custando, em média, R$ 1,90.  Já no Brasil, cujo setor petrolífero é controlado por uma estatal que ama os pobres, o preço da gasolina está hoje no maior valor da história do real, chegando a R$ 4 em algumas localidades.

Sinceramente, qualquer que seja o preço do combustível, trata-se de uma gigantesca fraude.  E vamos continuar aceitando.

_________________________________

Leandro Roque contribuiu para este artigo.

Daniel Marchi  é economista graduado pela FEA USP Ribeirão Preto e membro do Instituto Carl Menger, em Brasília.

Fonte: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2032

Offline Eduardo Vanderlei

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Re:Há muito governo na nossa gasolina
« Resposta #1 Online: 14 de Fevereiro de 2015, 12:43:43 »
Bom, acho que o item 9 resume bem a situação brasileira: o Brasil é governado por empresários. Não existe uma verdadeira supremacia do interesse público sobre o interesse particular. O interesse público aqui é, como diria uma amiga, a terceira pessoa depois de ninguém. É bem mais fácil e cômodo empurrar no traseiro da população uma empresa estatal, convencendo-a de que é motivo de orgulho nacional, que vale e gera zilhões em riqueza, mas que no final das contas só atende aos interesses dos empresários que a controlam através do Estado e ainda sugam parte da riqueza gerada para os próprios bolsos. E nós não temos nem a quem recorrer, porque estão todos envolvidos até o pescoço na roubalheira...
Enfim... Melhor seria se FHC tivesse conseguido privatizar essa porcaria, ou pelo menos tivesse conseguido abrir o mercado para a livre concorrência.
“Somente o tolo diz ao seu coração: 'Deus não existe'. O sábio o diz ao mundo.”
Autor Desconhecido

Offline Gabarito

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Re:Há muito governo na nossa gasolina
« Resposta #2 Online: 14 de Fevereiro de 2015, 12:59:11 »
Melhor seria se FHC tivesse conseguido privatizar essa porcaria, ou pelo menos tivesse conseguido abrir o mercado para a livre concorrência.


Citar
'The Economist': Petrobras deve seguir nova política de interesse nacional – não do PT
Revista critica política de reestatização da Petrobras e afirma que ex-presidente Lula viu no pré-sal a chance de retroceder no processo de abertura da empresa



Construção da plataforma de produção P-56, da Petrobrás, em Angra dos Reis
(Sergio Moraes/Reuters/VEJA)


Jornalistas da revista britânica The Economist estiveram em Brasília há pouco mais de uma semana para sentir a temperatura da crise econômica e política no país com o objetivo de produzir uma série de reportagens. A primeira foi publicada na edição desta quinta-feira, que trata da crise na Petrobras. Com o título "De quem é o petróleo", a reportagem ironiza o slogan "O petróleo é nosso", criado no final da década de 1940 numa campanha intensa do governo para dar à Petrobras o monopólio da exploração dos campos, e questiona o leitor se o "nosso" da frase significa o povo ou os indivíduos que se beneficiaram com a corrupção na estatal.

A publicação critica a política de reestatização da Petrobras ocorrida ao longo do governo Lula e afirma que o ex-presidente viu na descoberta do pré-sal a chance de retroceder em toda a estratégia de abertura ao setor privado que vinha sendo implementada pelo governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso. A Economist afirma, em especial, que o fato de os governos petistas terem usado a Petrobras como veículo de política industrial fez com que não só ineficiências e desperdícios fossem criados, como também se abrisse um enorme ralo para escoar dinheiro da corrupção. "A política industrial expansiva do PT foi perniciosamente cara para o Brasil. Isolando a Petrobras da concorrência justo quando a empresa embarcou num dos maiores programas de investimentos do mundo provou ser um convite aberto ao roubo", afirma a reportagem. 

Outro erro crasso, diz a Economist, foi a política de conteúdo nacional, que fixou níveis altíssimos (acima de 65%) de uso de materiais e peças produzidos no país para abastecer a indústria naval. "Foi uma receita para atrasos e custos extras", afirma a reportagem, apontando que a falta de concorrência privou os estaleiros de economias de escala.

Segundo a Economist, o Brasil precisa de uma política que adeque a Petrobras aos interesses nacionais, e não àqueles de seus gestores e do partido de situação, o PT. "Isso significa reduzir o tamanho da empresa e colocá-la na competição por mercado", afirma. A Economist ainda recomenda que a empresa use o dinheiro do petróleo para melhorar sua competitividade, infraestrutura e pesquisa, para que os fornecedores se sintam atraídos para desembarcar no Brasil — e não obrigados a fazê-lo por uma imposição do Estado.

Offline Alucinado psicopata

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Re:Há muito governo na nossa gasolina
« Resposta #3 Online: 14 de Fevereiro de 2015, 13:15:17 »
"O governo está utilizando a petrobrás com fins partidários. O que devemos fazer?"

"Reestatiza, assim o governo pode regular o governo."

Defender reestatização é ou ser inocente ou ser charlatão.

Rhyan

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Re:Há muito governo na nossa gasolina
« Resposta #4 Online: 14 de Fevereiro de 2015, 19:39:13 »
5.6)  Moramos em um país que, se um dono de posto resolver vender gasolina pura, ele será preso por falsificação de combustíveis.

Esse ponto é um paradoxo bem irritante.

 

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