De vez em quando surgem uns tópicos esquisitos neste fórum
Vou traduzir a sua pergunta em "agressividade interespecífica e ímpeto sexual agressivo são condições necessárias e suficientes para caracterizar um 'macho alfa' na espécie humana ou em qualquer outra?"
Não, mas são duas características frequentes em 'machos-alfa' de diversas espécies, e isto inclui a nossa.
Macho-alfa é o macho que numa população consegue dominar o maior número de recursos, incluindo [e sobretudo] fêmeas, o que é esperado que se traduza em maior sucesso reprodutivo/valor adaptativo (i.e: maior número de filhotes que também cheguem a idade adulta e tenham filhotes). Primeira coisa em mente, então: alfa, beta e gama são conceito relativos ao sucesso e não ao comportamento para atingir o sucesso. Alfa é o bicho que pega as fêmeas mais saudáveis do bando e que atrai um grande número de fêmeas em geral; beta é o que pega um número mediano de fêmeas nem tão saudáveis nem tão acabadinhas; gama é o punheteiro que, quando muito, casa com a aleijada.
Nem todas as espécies ou mesmo nem todas as populações dentro de uma mesma espécie possuem dominância despótica, isto é, em nem todas as espécies é comum que um macho controle mais recursos, incluindo fêmeas, do que outros (os cálculos que a evolução faz pra definir isso já esbocei e outros tópicos mas repito, envolvem os custos e vantagens da variabilidade genética/reprodução sexuada/dioicismo, em geral será vantajoso que surja dominância despótica em ambientes com recursos escassos e distribuídos em "oásis" distantes uns dos outros, este mecanismo anda de mãos dadas com outros, como o surgimento de dimorfismo sexual).
Quando acontece de um macho controlar mais recursos/fêmeas que outros na mesma população (que é quando faz sentido falar em machos alfa, beta e gama) é muito comum que uma estratégia evolutiva seja sair na porrada com outros machos para controlar seus territórios, os NatGeos da vida estão abarrotados de cenas lindas destas competições, frequentemente na base da chifrada... e, sim (acho que é esta parte da sua pergunta), as brigas de torcida, as brigas de porta de boteco porque o cara passou olhando pra bunda da outra fazem parte do mesmo contexto bio-sociológico.
Todavia, a agressividade interespescífica não é o único meio pelo qual um macho pode se sobrepor aos outros controlando um maior número de recursos (e fêmeas, que também são recursos). Embora ela esteja geralmente presente no arsenal de estratégias é possível jogar tão bem com outras estratégias (por exemplo: um talento especial para achar sementes ou para jogar bola) a ponto de ser um aLfa sem ser agressivo. O problema disto é que corre sempre o risco de alguém mais agressivo e forte não levar tão de boa esse negócio de você ficar achando mais sementes do que todo mundo ou dando mais dribles milionários que qualquer um e por meio da força querer meter a mão nos seus recursos (sobretudo suas fêmeas). Desse jeito se você não adotar alguma esratégia que envolva agressividade (por exemplo, se aliar a machos beta mais agreSsivos, digo, seguranças particulares, transferindo a eles parte dos seus recursos e prestígio entre as fêmeas) você possivelmente vai acabar se ferrando.
Ao mesmo tempo, e coerentemente com o parágrafo acima, a mera agressividade não confere um caráter alfa ao macho automaticamente: um macho com comportamento muito agressivo mas que não tenha (digamos que seja um roedor) bons dentes para consumir o tipo de semente que tem disponível no lugar que vive viverá fraco, não terá um bom handicap (digamos, pelos sedosos ou uma Ferrari na garagem da casa de praia de 14 cômodos em Búzios) para apresentar as fêmeas e nem conseguirá enfiar a mão na cara dos outros machos por mais que tente já que viverá fraquinho e com fome.
Quanto ao ímpeto sexual agressivo (encoxar a mina no trem, chamar a gostosa da calçada de gostosa aos berros) a linha de raciocínio é a mesma. O conceito de macho alfa só faz sentido ecológico e sobretudo evolutivo quando se pensa em sucesso reprodutivo / valor adaptativo. Um macho tímido que fique quase sempre esperando as fêmeas abanarem o rabo pra ele (presente, professora!) tende a ter menos sucesso reprodutivo e depender mais dos handicaps que possui do que um macho com nível semelhante de agressividade intra-machos/domínio de recursos não-fêmea que passa o bico na bunda das galinhas. Por outro lado, não adianta muito cantar cocorococó em alto e bom tom se sua crista é baixa e sua pena é toda fosca, isto é: não adianta muito chamar a mina de gostosa na rua se você tem os dentes cariados e está gritando da janela de um ônibus que vai pra baixada fluminense. Por outro lado ainda, se o handicap do galo for muito bom ele pode até ser mudo porque ele deixa de precisar se anunciar pras fêmeas e elas passam a se anunciar pra ele (deixa eu ficar loiro marombado dos olhos azuis e comprar minha mansão no Guarujá).
Acho que é mais ou menos isso. Espero que seu alter ego Cientista não apareça pra me fundir a cuca, tenho medo dele ahahaha
Ps.: depois de responder abaixo me lembrei de um detalhe acima: o que caracteriza um macho-alfa, beta ou gama (ou fêmea idem) é elástico tanto à história de vida do indivíduo quanto ao ambiente (o roedor que era gama num ambiente de sementes duras demais pra seus dentes pode virar alfa se encontra uma região com sementes mais macias pra explorar, do mesmo modo uma espécie que tem como machos alfa os mais agressivos numa população que habita uma região de deserto pode ter nos machos mais cooperativos os dominantes de uma outra população, esta vivendo na Mata Atlântica).