Autor Tópico: O Estado de Bem-Estar Social deixa miseráveis ainda mais pobres, famintos e dese  (Lida 621 vezes)

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O Estado de Bem-Estar Social deixa miseráveis ainda mais pobres, famintos e desesperados
By Valdenor Júnior · On 23/01/2014




A foto que ilustra este artigo foi retirada do livro “After the Welfare State”, uma coletânea de artigos editada por Tom Palmer e disponível em inglês no site americano da rede Estudantes pela Liberdade.

No filme “Elysium“, conta-se que, em 2154, existe uma estação espacial disponível apenas para os mais ricos, enquanto o restante dos humanos moram na Terra, superpopulosa, decadente. A imigração é proibida (enquanto alguma imigração ilegal de fato acontece).

Apesar de ser uma ficção científica, guardadas as devidas proporções, Elysium já existe. Talvez você tenha imaginado os EUA (pela semelhança com a imigração ilegal mexicana) ou Mônaco (país de ricaços), mas, não: estou falando do Estado de Bem-Estar Social dos países desenvolvidos em geral, especialmente aqueles mais generosos. (devo esta analogia ao Ivanildo Terceiro)

Nós que moramos em países como o Brasil, ao olharmos para países desenvolvidos com um Estado de Bem-Estar Social generoso, tendemos a pensar que estes deveriam ser os nossos modelos, de sociedades “que deram certo”. Afinal, nossa própria Constituição contém um protótipo de Estado de Bem-Estar Social bastante generoso, e o discurso dos políticos gira basicamente em torno de uma versão, um tanto quanto vaga, desse modelo de Estado.

Na verdade, tendemos a fazer uma certa divisão automática entre países ricos cujos governos oferecem um bem-estar social extraordinário ao seu povo, e aqueles cujos governos oferecem um bem-estar bem menor, e que, portanto, ainda apresentam uma proporção de pobreza que nos lembra o nosso próprio país.

Então, por exemplo, vemos imagens como a destes apartamentos em Hong Kong:




(site original das fotos: ABC NEWS)

E aí comparamos com países como a Suécia, que já foi chamada de “a sociedade mais bem-sucedida que o mundo já conheceu”,  ou mesmo a Dinamarca, cuja capital, Copenhangue, foi eleita a cidade com a melhor qualidade de vida do mundo:


(a imagem foi tirada de outra postagem daqui deste blog)

Então, aparentemente, por A + B, países nórdicos com Estados de Bem-Estar Social generosos, como Suécia e Dinamarca, devem ser considerados mais bem-sucedidos em promover justiça social, bem-estar, inclusão social e redução da pobreza, em comparação com países cujo Estado de Bem-Estar é relativamente bem menor, como Hong Kong.

Ouso duvidar desta afirmação.

Imagine o leitor que você mora em um condomínio de luxo fechado, daqueles bem bonitos e totalmente horizontalizados. O condomínio tem ruas, parece mesmo uma mini-cidade.  Quantas pessoas dormem na rua do seu condomínio? Certamente, nenhuma. Mas, fora do condomínio, existem pessoas que moram na rua, talvez mesmo próximas ao muro. Uma pessoa que comparasse o “condomínio” com o “fora do condomínio”, sem compreender o contexto, poderia ser levada a confirmar:

Nós consideraríamos que essa pessoa não presta atenção direito ao contexto. O condomínio de luxo não tem ninguém na rua, mas isso porque ele impede os moradores de rua de entrarem! Há muros, há seguranças, há uma lista que determina quem é morador e quem não é, sendo os não moradores barrados.

Agora, vamos ampliar um pouco a base territorial: imagine que o condomínio de luxo seja uma “cidade de luxo”.  Novamente, vemos o padrão, de que dentro da “cidade de luxo” não há mendigos, e, fora dela (talvez uma cidade adjacente), há moradores de rua.

E se fosse uma “região metropolitana” de luxo? Ou quem sabe um “estado de luxo”? Ou um “país de luxo“? Acho que agora você deve estar entendendo onde eu quero chegar.

Os países com Estado de Bem-Estar Social mais generosos e extensos são “grandes condomínios de luxo”, que mantém a pobreza fora deles por meio da política de imigração. Hong Kong, ao contrário, deixa que as pessoas migrem, e, de fato, elas não vivem em condições tão boas, como observarmos acima, mas vivem melhor do que se estivessem em seus países de origem, conforme o próprio juízo delas.  Já a política de países europeus “generosos” e “humanitários” é deixar que os pobres de países muito pobres continuem “pobres”, mas fora de suas fronteiras, claro, de modo que as estatísticas de pobreza permaneçam baixas.

Você talvez ainda esteja maravilhado com os países nórdicos: “pelo menos eles não tem um crescimento urbano desordenado, e os moradores das cidades tem qualidade de vida, aliás, Conpenhangue é mesmo a cidade com melhor qualidade de vida!”

Você talvez ainda esteja maravilhado com os países nórdicos: “pelo menos eles não tem um crescimento urbano desordenado, e os moradores das cidades tem qualidade de vida, aliás, Conpenhangue é mesmo a cidade com melhor qualidade de vida!”

Um dos leitores de nosso blog já deu a resposta  a nosso amigo deslumbrado com os nórdicos, em um comentário no texto do Ling sobre Copehangue : “Morei durante um ano em Aarhus e, logicamente, visitei algumas vezes Copenhague. O que posso dizer pelo que vi e vivi lá é que esse texto é brilhante, to the point. A Dinamarca é linda, é desenvolvida, é organizada – mas é para poucos.”

Mas vamos dimensionar para você, comparando a Suécia com a cidade de São Paulo: a Suécia inteira tem 9,5 milhões de habitantes.


(A Suécia é o país em verde escuro, sítio da imagem)

Já a cidade de São Paulo tem, sozinha, mais de 11 milhões de habitantes, e, contado a região metropolitana como um todo, supera 19 milhões de habitantes. Perceba que isso é uma quantidade de pessoas, de gente como nós, que a Suécia nunca sonhou em acolher! Aliás, muitas pessoas que estão hoje lá vieram de outras regiões do Brasil e quão menor seria as medidas dos problemas de São Paulo se o Estado de São Paulo fosse um país separado, que impedisse imigração? Mas isso é um jeito muito mesquinho de colocar a questão. São Paulo poderia ter uma qualidade de vida melhor (em seus índices) se restringisse a população; mas seria uma cidade para menos pessoas, menos gente, portanto, melhor nos índices porque excludente quanto às pessoas.

Você pode questionar: “mas veja bem, um condomínio de luxo pressupõe que seus moradores sejam razoavelmente abastados, por suas próprias posses. Contudo, os Estados de bem-estar europeus, por exemplo, tem moradores que não são abastados por si mesmos, mas que o Estado dá um grande apoio redistributivo. Então, sua comparação não é válida”. Eu responderia que você precisa conhecer mais os estudos de desigualdade global.

Existe desigualdade de renda dentro dos países e entre o PIB per capita dos países. Mas também há uma desigualdade global, que se enxerga quando você encara a população mundial como se fosse um único país. Para fazer a comparação adequadamente, você divide a população dos países em vinte“ventiles” (grupos de 5% da população), ordenados de forma crescente em relação à renda (Ex: O primeiro ventile representa a parcela mais pobre da população, enquanto o vigésimo representa a mais rica). Esses “ventiles” estarão representados no eixo horizontal de um gráfico. No eixo vertical, a população do mundo inteiro é dividida em grupos de 1% (“percentis”), também ordenados de forma crescente em relação à renda. Com isso, se calcula a renda média de determinado “ventile” e verifica em qual “percentil” do mundo esse “ventile” fica. Agora vejam onde os 5% mais pobres da Alemanha estão na divisão de renda do mundo:


(sítio original, p. 23)

Os 5% mais pobres da população da Alemanha tem, em média, mais renda do que quase 80% da população mundial (porque, como vocês podem ver, o 1º ventile da Alemanha está próximo do 80º percentil do mundo). E a Dinamarca? Bem, os 5% mais pobres da Dinamarca tem mais renda que 90% da população mundial. Quantas pessoas moram mesmo na Dinamarca? 5,6 milhões de habitantes. 5% de 5,6 milhões são 280.000 pessoas.

Sim, o Estado de Bem-Estar Social de um país desenvolvido como a Dinamarca pode até ter tornado a vida de 280.000 pessoas mais pobres de sua sociedade muito mais próspera, inclusive mais próspera que a de 90% da humanidade. (e lembre: é um exagero tributar tudo isso ao Estado Social, a Dinamarca por exemplo é uma economia de mercado vibrante e bastante liberal, inclusive quanto ao mercado de trabalho, e isso é que gerou a enorme renda per capita que serve para redistribuição)

Mas eu espero que, à esta altura, vocês reconheçam que tornar a vida de 280.000 pessoas muito boa é contribuir muito pouco para a redução da pobreza, em um mundo habitado por 7 bilhões de pessoas, entre as quais 90% têm menos renda, em média, do que aquelas 280.000 pessoas que são as mais pobres da Dinamarca.

Um cético insistente poderia lembrar que países nórdicos como a Dinamarca e a Suécia contribuem para a ajuda internacional e que, portanto, já fazem sua parte para reduzir a pobreza global. Mas isso é uma compensação que não realmente compensa a oportunidade que é tirada das pessoas mais pobres do mundo, de se deslocarem livremente, até porque a ajuda internacional é muitas vezes ineficaz. E esse argumento é previsível demais também: esses Estados de Bem-Estar Social muito generosos, inclusive no tocante à proteção do trabalho (Dinamarca é uma exceção notável), geram um desemprego alto, que o Estado Social tenta compensar com redistribuição maciça. Contudo, sabiamente apontou Amartya Sen que Inclusive o próprio desemprego nestes países é um desestímulo à imigração, já que o desemprego afeta desproporcionalmente os imigrantes. A Suécia é profundamente desigual: mas o fosso não é tanto entre ricos e pobres, mas sim entre aqueles que tem um emprego e aqueles que não tem, o que se reflete em uma divisão étnica – em 2013, 6,4% dos suecos nativos estiveram desempregados, enquanto 16% dos imigrantes estiveram. Apenas 2,5% dos empregos na Suécia são de salário baixo, próprios para pessoas iniciando no mercado de trabalho, enquanto a média européia é de 17%.

Um exemplo característico são o dos refugiados somalis na Suécia: Benny Carlson comparou as experiências de imigrantes somalis na Suécia com as daqueles em Minneapolis, no estado de Minnesota, nos Estados Unidos. Somente 30% deles tinham um emprego na Suécia, cerca de metade do número dos que tinham emprego em Minneapolis. Aliás, nesta cidade americana, há 800 negócios dirigidos por Somalis, enquanto há apenas 38 na Suécia. Em entrevistas, a disparidade também foi notada: um imigrante nos EUA respondeu que havia oportunidades ali, enquanto um imigrante somali na Suécia afirmou que

Agora, um mundo de fronteiras abertas e imigração livre, com um aparato governamental de bem-estar social bem mais reduzido, e segmentado, seria muito melhor para as pessoas mais pobres do mundo, do que um mundo de fronteiras fechadas com os países ricos tendo Estados de Bem-Estar Social generosos que ajudam poucas pessoas pobres (lembre do recorde dinamarquês: 260.000 pessoas, seus 5% mais pobres que são mais ricos que 90% da humanidade), ainda que mesmo a extensão em que o fazem mesmo nacionalmente pode ser prejudicada (e os seus desempregados? e os seus imigrantes? e por aí vai…).

Você já pensou como se sentiria se você fosse obrigado a ficar restringido ao mercado de trabalho no Haiti? Certamente, com choro e ranger de dentes, você se sentiria angustiado, sofrendo… e veja que a imigração do Haiti também envolve o nosso país, o Brasil:

Agora pense que, no mundo real, isso acontece em grande medida, porque os países mais desenvolvidos do mundo não vão te receber, e um dos motivos é para poder continuar a financiar seus Estados de bem-estar social, que entrariam em colapso caso esse influxo populacional de fora fosse muito maior…

Essas pessoas pobres seriam ajudadas com a abertura das fronteiras, não apenas por poderem se mover para lugares com mais oportunidades e podendo mandar remessas aos seus familiares que permaneceram nos países de origem, mas também porque o PIB mundial dobraria caso a imigração fosse livre.

Sim, você leu corretamente. O PIB do mundo inteiro dobraria.


(p. 85 do estudo de Michael Clemens aqui)

Veja que a tabela mede, em percentuais do PIB mundial, o quanto seria ganho com a eliminação de três tipos de barreiras internacionais, sendo que a última categoria é a da “[eliminação de] todas as barreiras à mobilidade do trabalho”. Clemens levantou estimativas de estudos anteriores (você pode encontrar os links aqui), e mostra-se claramente que eliminar as barreiras à mobilidade do trabalho dobraria o PIB mundial.

Inclusive, mesmo se a imigração for liberada apenas parcialmente, ainda assim os ganhos seriam enormes:


(p. 86 aqui)

Portanto, o fato de que, para financiar seu bem-estar social generoso e extenso, muitos países desenvolvidos tem fechado suas fronteiras, limitado a imigração das pessoas mais pobres do mundo, é um grave atentado à justiça social, e aqueles países que, abrindo mão de um bem-estar social por demais extenso, acolhem mais imigrantes, podem ser mesmo considerados (sob este quesito) mais cumpridores da justiça social do que aqueles últimos.

Assim,  a santificação do Estado de Bem-Estar social dos países desenvolvidos é algo péssimo, pois joga para debaixo dos panos o grande pecado de, aparentando ser campeões na luta contra a pobreza, ajudarem apenas uma pequena parte da humanidade, enquanto deixam as pessoas mais pobres do mundo ainda mais pobres, famintas e desesperadas.



Valdenor Júnior está se graduando em Direito pelo Centro Universitário do Estado do Pará. Desde janeiro de 2013, tem um blog onde discute seus principais interesses: filosofia política, filosofia do Direito e economia, com foco na compatibilidade entre livre mercado e justiça social, bem como psicologia evolucionária, antropologia e biologia evolucionária, com foco em explicações darwinianas da natureza humana. Com Darwin aprendeu a valiosa lição de que entender o babuíno é mais importante do que se imagina.

Valdenor Júnior é mestrando em Direito e advogado. Membro da Human Behavior & Evolution Society. Escreve para o site Centro por uma Sociedade sem Estado (C4SS) e mantém o blog pessoal Tabula (não) Rasa & Libertarianismo Bleeding Heart. Seus principais interesses são ciência evolucionária com foco nas adaptações comportamentais humanas, naturalismo filosófico, filosofia naturalizada do Direito, direito internacional dos direitos humanos, filosofia política e economia mainstream e institucional.

Fonte: http://mercadopopular.org/2014/01/o-estado-de-bem-estar-social-deixa-miseraveis-ainda-mais-pobres-famintos-e-desesperados/

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Re:O Estado de Bem-Estar Social deixa miseráveis ainda mais pobres, famintos e dese
« Resposta #1 Online: 02 de Junho de 2015, 08:04:36 »
Bem-Estar Social: seguir qual caminho? O americano ou o sueco?

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Matemático explica por que Suécia quer se 'dessuecizar'
21/05/2015 - 14h24
da Livraria da Folha

Em "O Poder do Pensamento Matemático", o matemático norte-americano Jordan Ellenberg mostra que a matemática está relacionada com questões cotidianas. Um dos temas tratados no livro é a política de bem-estar social que Obama tenta implementar nos Estados Unidos, mas que a Suécia, famosa pela prática, quer reduzir.

Doutor pela Universidade de Harvard e professor na Universidade de Wisconsin, Ellenberg escreveu para publicações como "The New York Times", "The Washington Post", "The Wall Street Journal" e "Boston Globe" e tem uma coluna na revista "Slate".

Abaixo, leia trecho de "O Poder do Pensamento Matemático".

*

1. Menos parecido com a Suécia

ALGUNS ANOS ATRÁS, no calor da batalha sobre o Affordable Care Act1, Daniel J. Mitchell, do libertário Instituto Cato, postou uma entrada num blog com o provocativo título: "Por que Obama está tentando tornar os Estados Unidos mais parecidos com a Suécia quando os suecos tentam ser menos parecidos com a Suécia?"

Boa pergunta! Formulada assim, ela parece bastante perversa. Por que, senhor presidente, estamos nadando contra a correnteza da história, enquanto Estados com política de bem-estar social ao redor do mundo - mesmo a pequena e rica Suécia! - cortam benefícios caros e impostos altos? "Se os suecos aprenderam com seus erros e agora estão tentando reduzir o tamanho e o alcance do governo", escreve Mitchell, "por que os políticos americanos estão determinados a repetir esses erros?"
Reprodução
Imagem do livro "O Poder do Pensamento Matemático"

Responder a essa pergunta exige um gráfico extremamente científico. Eis o aspecto do mundo para o Instituto Cato:


Imagem do livro "O Poder do Pensamento Matemático"

O eixo x representa o jeito sueco de ser2 e o eixo y é alguma medida de prosperidade. Não se preocupe em saber como estamos quantificando essas coisas. A questão é justamente essa: de acordo com o gráfico, quanto mais sueco você é, pior de vida está seu país. Os suecos, que não são nada bobos, descobriram isso e estão empreendendo sua escalada rumo ao noroeste, em direção à prosperidade do mercado livre. Mas Obama escorrega no sentido errado.

Deixe-me agora desenhar o mesmo perfil do ponto de vista das pessoas cuja visão econômica está mais próxima da do presidente Obama que da do pessoal do Instituto Cato.


Imagem do livro "O Poder do Pensamento Matemático"

Esse perfil nos dá uma sugestão muito diferente de quão suecos deveríamos ser. Onde achamos a prosperidade máxima? Num ponto mais sueco que os Estados Unidos, porém menos sueco que a Suécia. Se essa figura está correta, faz perfeito sentido que Obama fortaleça nossa política de bem-estar social enquanto os suecos reduzem a deles.

A diferença entre as duas figuras é a distinção entre linearidade e não linearidade, uma das mais centrais na matemática. A curva Cato é uma reta3. A curva não Cato, aquela com a corcova no meio, não. Uma reta é um tipo de curva, mas não o único tipo, e as retas desfrutam toda qualidade de propriedades especiais de que as curvas em geral não podem desfrutar. O ponto mais alto num segmento de reta - a prosperidade máxima, nesse exemplo - precisa estar numa extremidade ou na outra. É assim que são as retas. Se baixar os impostos é bom para a prosperidade, então baixar ainda mais os impostos é melhor. Se a Suécia quer se "dessuecizar", devemos fazer o mesmo. Claro que um pensamento anti-Cato radical poderia afirmar que a inclinação da reta é no sentido oposto, indo de sudoeste para nordeste. Se a reta tiver esse aspecto, então, nenhuma quantidade de gastos sociais é exagerada. A política ideal é a Suécia máxima.


Matemática não se limita a incidentes abstratos, ela está em nosso dia a dia
Autor conta como se devem contar os votos numa democracia

Geralmente, quando alguém se proclama "pensador não linear", é porque está prestes a se desculpar por ter perdido algo que você lhe emprestou. Mas a não linearidade é uma coisa real! Nesse contexto, pensar não linearmente é crucial porque nem todas as curvas são retas4. Um momento de reflexão lhe dirá que as curvas reais da economia têm a aparência da segunda figura, não da primeira. Elas são não lineares. O raciocínio de Mitchell é um exemplo de falsa linearidade - ele está assumindo, sem dizer claramente, que o curso da prosperidade é descrito pelo segmento de reta na primeira figura, em cujo caso o fato de a Suécia se despir da sua infraestrutura social significa que devemos fazer o mesmo.

Mas enquanto você acredita que existe algo como bem-estar social demais e algo como bem-estar social de menos, você sabe que o retrato linear é errado. Está em operação algum princípio mais complicado do que "Mais governo é ruim, menos governo é bom". Os generais que consultaram Abraham Wald depararam com o mesmo tipo de situação: blindagem de menos significava que os aviões seriam abatidos, blindagem demais significava que não conseguiriam voar. Não é uma questão de ser bom ou ruim adicionar mais blindagem - podia ser qualquer uma das duas, dependendo do peso da blindagem dos aviões, para começar. Se há uma resposta ideal, ela está em algum ponto no meio, e o desvio em qualquer uma das direções é péssima notícia.

Pensamento não linear significa que a direção em que você deve ir depende de onde você já está.

[...]

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1 Literalmente, "Ato de Cuidados Médicos Acessíveis", também conhecido como Patient Protection and Affordable Care Act ou simplesmente Obamacare, é um estatuto federal americano transformado em lei pelo presidente Barack Obama em março de 2010, representando a mais significativa medida regulatória sobre o sistema de saúde e os planos de saúde nos Estados Unidos. Na época, foi motivo de acalorados embates entre democratas e republicanos, sendo que estes últimos não viam com bons olhos aquilo que consideravam uma "socialização" da medicina pública. (N.T.)

2 Aqui, "jeito sueco de ser" refere-se a "quantidade de serviços sociais e taxação", não a outras características da Suécia, como "disponibilidade imediata de arenques em dezenas de molhos diferentes", condição à qual todas as nações deveriam obviamente aspirar.

3 Ou um segmento de reta, se você faz questão. Não vou dar muita bola para essa distinção.

4 Em favor da clareza, devemos fazer aqui uma observação quanto à nomenclatura. Quando dizemos em português que uma variação é "linear", estamos nos referindo a uma variação cujo gráfico é uma linha reta. Em inglês o termo straight line é usado abreviadamente na forma line, daí a ligação imediata com "linearity". Em português essa ligação não é imediata, pois abreviamos o termo linha reta simplesmente como reta, e não como linha. ( N.T.)

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O PODER DO PENSAMENTO MATEMÁTICO
AUTOR Jordan Ellenberg
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