É possível afirmar sem medo que o cidadão médio hoje no Brasil vive incomparavelmente melhor que Nathan Rothschild, John Rockefeller ou J.P. Morgan. Mas quase nunca nos damos conta disso. Pelo contrário, poderíamos apostar todas as nossas fichas que o mundo é um lugar mais miserável, menos saudável e mais desigual do que nunca. E a razão é simples: ignoramos que o estado natural da humanidade é a pobreza e não assimilamos muito bem o que tínhamos décadas atrás do que temos hoje, algo que nos deixa numa propensão quase irresistível de sermos pessimistas.
É curioso ler isso porque hoje mesmo eu estava me lembrando da casa de verão de D. Pedro II, e de como o imperador do Brasil vivia mal. Já no final do século 19 o imperador não tinha banheiro, água encanada, esgoto, sistema de refrigeração ou aquecimento, não tinha acesso a um analgésico nem para uma dor de dente, andava em umas carruagens bem fuleiras com roda de madeira e um sistema de amortecedores que não é para quem tem problema de coluna. E se você visse o colchão onde o imperador dormia é difícil imaginar que as pessoas não ficassem com problema de coluna. Ou pelo menos problema de insônia, porque era como dormir em cima de um saco de pedras.
Se o imperador vivia assim, coitado do resto.
Mesmo assim é difícil quantificar o quanto as pessoas estão vivendo melhor. E até mesmo se estão vivendo melhor. É complicado porque não dá para medir indiretamente o bem estar individual e a qualidade de vida com base em índices sócio-econômicos como expectativa de vida e tais...
Existe uma pequena ilha na baía da Guanabara chamada Paquetá. É um lugar até bem degradado mas nas vezes em que fui tive um pouco a sensação de como pode ter sido o Rio do século 19, da época de D. Pedro II. Não só porque há muitas casinhas dessa época mas porque é um lugar tranquilo, sem automóvel, sem barulho de cidade, onde as pessoas parece que levam uma vida sem pressa, onde todo mundo parece que tem um tempo para uma prosa com o vizinho no fim de tarde.
É o cenário do famoso romance A Moreninha, e o lugar ainda guarda um pouco dessa época. Com a diferença de que as praias então eram impecavelmente limpas.
Dá até para se imaginar vivendo nesse tempo e parece muito bom.
Alguém que esteve em Cuba também não faz tantos anos disse que é o lugar com o menor nivel de stress que ele já conheceu.
Mas o principal problema que eu vejo na argumentação do articulista é que o fato do capitalismo ( e ,mesmo o avanço técnico não pode ser inteiramente atribuído ao capitalismo ) ter produzido uma vida aparentemente mais cômoda ao longo dos últimos séculos, e mesmo tendo sido esta uma tendência contínua, não significa que daqui a 50 anos, ou menos, os defeitos inerentes desse sistema não possam vir a produzir a maior crise que a humanidade já enfrentou em toda a sua existência.