Carl Friedrich Gauss, considerado por muitos como o maior matemático de todos os tempos, tinha o costume de sintetizar suas demonstrações eliminando todos os passos que julgava desnecessários. Comparava essa atitude ao trabalho de um construtor, dizendo: "Uma catedral não é uma catedral até que o último andaime tenha sido retirado."
Qualquer definição básica de comunicação inclui os conceitos de emissor, mensagem e receptor. E geralmente consideramos a comunicação bem-sucedida quando a mensagem é recebida e interpretada pelo receptor de acordo com a intenção do emissor. Isso vale para a comunicação entre professor e alunos em uma sala de aula, entre um publicitário e seu público alvo através de um anúncio, entre um jornalista e seus espectadores em uma notícia de jornal, e de forma mais ampla, entre quaisquer pessoas tentando estabelecer algum intercâmbio de ideias.
Um dos problemas que podem prejudicar a comunicação é a "maldição do conhecimento". Descrita inicialmente pela doutoranda em psicologia de Stanford Elisabeth Newton em 1990, esse fenômeno pode ser definido como a incapacidade que pessoas com grande entendimento sobre um tema têm de simular o entendimento limitado de outras pessoas.
Em seu experimento, a pesquisadora dividiu um grupo de estudantes em dois sub-grupos e deu a cada um uma tarefa específica. O primeiro sub-grupo iria reproduzir, usando apenas batuques, o ritmo de algumas canções extremamente populares, como "Happy Birthday to You". Ao outro sub-grupo cabia a tarefa de adivinhar quais eram as músicas correspondentes aos ritmos tocados. Enquanto os primeiros estudantes estimaram que a taxa de acerto seria de 50%, dada a popularidade das músicas, na realidade em apenas 3 ocasiões os ouvintes identificaram corretamente a música, de um total de 120 tentativas.
A explicação dada por Newton foi que os alunos que executavam os ritmos mentalizavam a melodia das músicas automaticamente, o que fazia com que as respostas parecessem óbvias. Já os que apenas ouviam o ritmo, por não terem condições de mentalizarem as melodias, enfrentavam grandes dificuldades. De forma mais ampla, os resultados desse estudo sugeriram que as pessoas que possuem mais informação a respeito de um determinado tema perdem a capacidade de imaginar como é não ter essas informações, e acabam supondo, de forma errônea, que elas são amplamente conhecidas.
Em 2006, os pesquisadores americanos Chip e Dan Heath publicaram um artigo na Harvard Business Review apresentando a questão sob o enfoque organizacional. Os pesquisadores citam a maldição do conhecimento como responsável por parte dos fracassos de comunicação interna das empresas, quando executivos passam mensagens ininteligíveis aos setores de nível tático e operacional, que não possuem o aparato de conhecimentos e informações necessárias para compreendê-las.
Outros casos clássicos da maldição do conhecimento no dia-a-dia são as comunicações entre alunos e professores, onde estes comumente suprimem informações consideradas óbvias no desenvolvimento de explicações, ignorando que essas informações só lhes parecem óbvias porque eles possuem uma compreensão muito mais completa e profunda do tema do que os alunos.
A solução para minimizar o efeito da maldição do conhecimento é uma autofiscalização constante por parte do emissor, questionando frequentemente se não está pressupondo conhecimentos que seus receptores não possuem. Caso não faça isso, sempre correrá o risco de ver fracassarem todas as suas tentativas de comunicação.
Abri o tópico porque já senti algumas vezes aqui no fórum que certas mensagens eram aparentemente pouco compreendidas em virtude do baixo grau de clareza para os dummies. Há um grande número de especialistas em diversas áreas, de competência inquestionável, mas que às vezes se comunicam com os demais utilizando jargões, ideias e conceitos que exigem um certo grau de conhecimento prévio para a compreensão de suas mensagens.
Meu objetivo é perguntar se mais alguém já teve essa mesma impressão, e o que todos vocês pensam sobre o tema de forma geral.