Autor Tópico: Discurso anticapitalista papal  (Lida 605 vezes)

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Offline Pasteur

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Discurso anticapitalista papal
« Online: 10 de Julho de 2015, 21:40:15 »
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Papa Francisco faz discurso revolucionário anticapitalista na Bolívia

O papa Francisco participou, junto ao presidente Evo Morales, do fechamento do II Encontro Mundial de Movimentos Populares, que aconteceu do dia 7 a 9, em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. O evento contou com a participação de mais de 3.000 delegados de 40 países.

Em um discurso longo e altamente politizado, o Pontífice fez severas críticas ao sistema capitalista, que gera desigualdade e destruição da natureza. O papa ainda fez um pedido de perdão à América Latina frente aos crimes cometidos pela Igreja aos povos nativos durante a chamada “conquista da América”.

O Papa Francisco tem sido uma surpresa agradável para os devotos das liberdades individuais, dos direitos sociais e da moralização da cúpula da Igreja Católica. O argentino tem enfrentado a corte vaticana e seus interesses particulares, promovendo a reaproximação da igreja com os movimentos mais populares. Além disso, tem demonstrado sua vontade de reformar o discurso da igreja sobre direitos civis, como no acolhimento aos casais do mesmo sexo.

Em outubro de 2014, um documento inovador do Vaticano declarou que homossexuais têm “dons e qualidades a oferecer” e questionou se o catolicismo não pode reconhecer esses aspectos positivos. O papa afirma que a igreja deve aceitar o desafio de encontrar um “espaço fraternal” para os homossexuais, sem abdicar da doutrina católica sobre a família e o matrimônio. Além disso, o papa também foi decisivo na intermediação entre Cuba e Estados Unidos que levaram ao restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países depois de cinquenta anos.

Agora, Francisco foca na destruição do sistema capitalista. Em seu discurso nesta quinta-feira (09) o líder religioso mencionou a unidade dos povos para encarar os problemas econômicos e a desigualdade social. Também fez um chamado pela proteção da terra, a que chamou de “casa de todos” e lembrou que o futuro da humanidade não está apenas nas mãos dos dirigentes e governantes, mas também nas mãos dos povos.

Para o Papa, “a globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença”. E continua: “Quando o capital se transforma em ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez por dinheiro tutela todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena ao homem, o transforma em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, coloca o povo contra o povo e, como vemos, inclusive põe em risco esta nossa casa comum”. Segundo ele, o capitalismo é uma “ditadura sutil”.

Francisco chamou o povo para dizer “não” a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. E instiga a reflexão: “Pergunto-me se somos capazes de reconhecer que estas realidades destrutoras respondem a um sistema que se tornou global. Reconhecemos que este sistema impôs a lógica dos lucros a qualquer custo sem pensar na exclusão social ou na destruição da natureza? Se é assim, insisto, digamos sem medo: queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas”.

Para ele, trata-se de um sistema global que “já não se aguenta”. “Não o aguentam os campesinos, não o aguentam os trabalhadores, não o aguentam as comunidades, não o aguenta os povos e também não o aguentam a Terra, a irmã Madre Tierra, como dizia São Francisco”.
O pontífice atacou ainda o “novo colonialismo”. Conforme Francisco, esse sistema coloca a periferia em função do centro, e lhe nega o direito a um desenvolvimento integral. “Isso é desigualdade, e a desigualdade gera tal violência que não haverá recursos policiais, militares ou de inteligência capazes de deter”.

Além disso, considerou que a “concentração monopólica dos meios de comunicação social que pretende impor pautas alienantes de consumo e certa uniformidade cultural é outra das formas que adota o novo colonialismo”. Para ele, trata-se de colonialismo ideológico.
Mas foi otimista, e exortou os movimentos sociais a protagonizarem as mudanças: “Vocês, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos podem e fazem muito. Eu me atrevo a dizer-lhes que o futuro da humanidade está, em grande medida, em suas mãos” afirmou. “Vocês são os semeadores das mudanças”.

Pedido de perdão

Em frente a milhares de líderes de movimentos populares e indígenas do continente reunidos em Santa Cruz, o primeiro papa latino-americano da história, de origem jesuíta, pediu ainda desculpas pela atuação da Igreja Católica durante a colonização – momento do discurso em que foi mais aplaudido pelos fiéis. “Digo-lhes com pesar: foram cometidos muitos e graves pecados contra os povos originários da América em nome de Deus”, disse. “Quero dizer-lhes, quero ser muito claro, como foi João Paulo II: peço humildemente perdão, não apenas pelas ofensas da própria igreja, como pelos crimes contra os povos originários durante a chamada conquista da América”.
E adicionou, “nem o papa nem a Igreja tem o monopólio da interpretação da realidade social nem a proposta de soluções aos problemas contemporâneos. Me atreveria a dizer que não existe receita”.

Fonte


Este papa sempre surpreendendo positivamente!  :ok:

Offline DDV

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Re:Discurso anticapitalista papal
« Resposta #1 Online: 10 de Julho de 2015, 21:56:27 »
Quer dizer que o Papa vai distribuir as terras e a dinheirama da Igreja??  :oba:
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

Offline Pasteur

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Re:Discurso anticapitalista papal
« Resposta #2 Online: 10 de Julho de 2015, 22:07:17 »
Quer dizer que o Papa vai distribuir as terras e a dinheirama da Igreja??  :oba:

Por que? Ele é comunista?

Offline El Elyon

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Re:Discurso anticapitalista papal
« Resposta #3 Online: 10 de Julho de 2015, 22:45:50 »
Não há nada de muito novo nesse tipo de discurso - a Igreja Católica não entusiasta do liberalismo econômico no mínimo desde a encíclica Rerum Novarum (ela praticamente sempre foi oposta a isso, salvo alguns flertes feitos por escolásticos tardios) e o seu ramo latino-americano de onde surgiu Francisco I é bastante inclinado à Teologia da Libertação (apesar das tentativas tanto de João Paulo II quanto de Bento XVI em enfraquecer esse ramo da Igreja). Embora seja mais à "esquerda" que o comum, eu não chamaria de revolucionário - a Igreja Católica é uma instituição bastante firmada em praticamente todas correntes políticas tradicionais do Ocidente e se sustenta muito bem nele para defender esse tipo de "ventura revolucionária".
"As long as the Colossus stands, Rome will stand, when the Colossus falls, Rome will also fall, when Rome falls, so falls the world."

São Beda.

Offline Geotecton

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Re:Discurso anticapitalista papal
« Resposta #4 Online: 10 de Julho de 2015, 23:59:42 »
Quer dizer que o Papa vai distribuir as terras e a dinheirama da Igreja??  :oba:

Por que? Ele é comunista?

Não. Apenas é hipócrita.
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Offline Johnny Cash

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Re:Discurso anticapitalista papal
« Resposta #5 Online: 11 de Julho de 2015, 03:43:42 »
Quanto custa o esquema de segurança desse cara? Quem paga? Paga com o que?

E as viagens?

Offline Pasteur

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Re:Discurso anticapitalista papal
« Resposta #6 Online: 11 de Julho de 2015, 09:33:20 »
Então se o Papa condena esse sistema capitalista como está, gerador de desigualdade, ele é comunista e hipócrita? Ou tudo ou nada.

Não se trata de distribuir riqueza do Vaticano, mesmo porque ele não tem poder pra isso, trata-se de conscientizar os povos a mudar esse sistema como está, que ficando assim só vai gerar mais problemas.

Offline MarceliNNNN

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Re:Discurso anticapitalista papal
« Resposta #7 Online: 11 de Julho de 2015, 09:41:26 »
Ele deveria culpar o Estado. Esse sim gera pobreza e desmatamento.

Offline Geotecton

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Re:Discurso anticapitalista papal
« Resposta #8 Online: 11 de Julho de 2015, 09:45:01 »
Então se o Papa condena esse sistema capitalista como está, gerador de desigualdade, ele é comunista e hipócrita? Ou tudo ou nada.

Ele não é comunista mas é hipócrita, sem dúvida.

Toda a riqueza do Vaticano é resultado ou da exploração do homem ou da atividade capitalista ou da 'lavagem cerebral', digo, doações para encontrar o deus cristão.


Não se trata de distribuir riqueza do Vaticano, mesmo porque ele não tem poder pra isso, trata-se de conscientizar os povos a mudar esse sistema como está, que ficando assim só vai gerar mais problemas.

Primeiro. A distribuição de riquezas do estado do Vaticano seria o primeiro passo de coerência rumo ao discurso do mestre e mentor principal.

Segundo. A ICAR é uma das maiores responsáveis pelo descalabro ambiental em que vivemos, na medida que nunca apoiou um controle de natalidade efetivo e SEMPRE esteve do lado das classes dominantes ao longo de toda a sua história, sob o ponto de vista oficial. Se um ou outro abnegado fazia algo em prol dos mais necessitados, não é o suficiente para redimir a parte mais obscura e nojenta da ICAR.

Terceiro. O discurso dele é tão vago quanto hipócrita porque não apresenta nenhuma proposta plausível para substituir o 'malvado sistema capitalista'.
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Offline Muad'Dib

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Re:Discurso anticapitalista papal
« Resposta #9 Online: 11 de Julho de 2015, 10:18:55 »
Então se o Papa condena esse sistema capitalista como está, gerador de desigualdade, ele é comunista e hipócrita? Ou tudo ou nada.


Ele não é comunista mas é hipócrita, sem dúvida.

Toda a riqueza do Vaticano é resultado ou da exploração do homem ou da atividade capitalista ou da 'lavagem cerebral', digo, doações para encontrar o deus cristão.


Não se trata de distribuir riqueza do Vaticano, mesmo porque ele não tem poder pra isso, trata-se de conscientizar os povos a mudar esse sistema como está, que ficando assim só vai gerar mais problemas.

Primeiro. A distribuição de riquezas do estado do Vaticano seria o primeiro passo de coerência rumo ao discurso do mestre e mentor principal.

Segundo. A ICAR é uma das maiores responsáveis pelo descalabro ambiental em que vivemos, na medida que nunca apoiou um controle de natalidade efetivo e SEMPRE esteve do lado das classes dominantes ao longo de toda a sua história, sob o ponto de vista oficial. Se um ou outro abnegado fazia algo em prol dos mais necessitados, não é o suficiente para redimir a parte mais obscura e nojenta da ICAR.

Terceiro. O discurso dele é tão vago quanto hipócrita porque não apresenta nenhuma proposta plausível para substituir o 'malvado sistema capitalista'.

Mas Geotecton, o fato da ICAR sempre ter sido um fardo para a humanidade não faz do atual papa culpado ou hipócrita, ele efetivamente está tendo uma postura altamente progressista para os padrões do Vaticano. Não daria nunca para esperar que ele, com uma "canetada", distribuísse as terras e riquezas do Vaticano, rompesse com os dogmas nocivos e declarasse que deus é uma fantasia. Ele é o Papa, ele é crente, ele tem uma vida inteira de dedicação a sua fé e ele, na certa, deve ter uma pressão enorme dentro do Vaticano para manter as coisas como elas sempre foram, mesmo assim ele já se postou a favor dos gays, a favor do divórcio, pediu perdão por crimes, entre outros passos que o diferenciou dos seus predecessores. São passos pequenos mas em uma direção muito mais aceitável do que a direção que a ICAR sempre tentou tomar.

E quanto a falta de propostas para combater o "capitalismo malvadão", só de uma pessoa influente como ele estar abrindo uma discussão a respeito do capitalismo que realmente, da forma como está, é "malvadão", já é algo extremamente válido. Nossa forma de se organizar como sociedade é algo extremamente complexo, se nós formos esperar por um grande líder, um homem genial e brilhante que faça as críticas certas e aponte a forma perfeita de nós vivermos nós iremos perecer como sociedade justamente pelos problemas que o Papa apontou na reportagem.


Offline Brienne of Tarth

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Re:Discurso anticapitalista papal
« Resposta #10 Online: 11 de Julho de 2015, 10:20:21 »
Não estou aqui para defender nem a ICAR e muito menos o Tio Chico, mas na minha humilde opinião, ele não é nem hipócrita e nem comunista, ele é diplomático, como era o Paulo II, um tipo de mensagem criptografada quase indecifrável, não fosse o Manoel Charadista, há muitos anos atrás, definir o conceito.

Explico.

Início da 2a Guerra Mundial, os europeus tomando um sacode de Hitler, no desespero enviam mensagem de socorro aos americanos, a qual é prontamente respondida: SACO. Abismados, não conseguem entender a mensagem, mesmo utilizando as mais modernas técnicas de criptografia e interpretação, quando um dos assistentes (devia ser um estagiário) recomenda chamarem o já citado Manoel. Risos de descrença seguiram-se após a narrativa dos talentos do charadista, mas como a cavalo dado não se olham os dentes, e a mandíbula nazista já apertava a todos, decidiu-se por chamar o tal Manoel. Bigodudamente orgulhoso, o tuga lê a indecifrável mensagem e pergunta: "É só isso?" Entre a angústia da ignorância e o antegozo do deboche, entendendo na pergunta a derrota, os presentes afirmam que sim, era apenas essa palavra: SACO. O Manuele dá uma gargalhada e responde: " Isto cá é muito gira! Eles estão somente a dizer que apoiam, mas não entram, ó pá!!!"

Caia o pano. :hihi:
GNOSE

Offline Johnny Cash

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Re:Discurso anticapitalista papal
« Resposta #11 Online: 11 de Julho de 2015, 15:14:35 »
É muito simples, o Papa Francisco é hipócrita na medida em que:

A: Condena o capitalismo por ser a origem do mal.
B: Se beneficia do capitalismo.
C: Age como motor para a prática capitalista.



E lembremos da história recente, o Papa Francisco não é um camarada que surgiu do nada para transformar a igreja, ele foi colocado lá pela máquina pensante (e retrógrada) do corpo cardeal em substituição à figura medonha do Ratzinger, em movimento necessário para continuar o arrebanhamento de fiéis. Os caras, que não são bobos, viram que é necessária a modernização para continuarem lá, sendo cardeais.

Embora exista esse "projeto de igreja mais pobre" do Papa, nada de muito significativo é feito nessa direção, além de discursos bonitos e carinhosos. No fim das contas, tomara que ele consiga de fato influenciar as pessoas a menos ganância e mais aceitação a liberdade, partindo de dentro da igreja.

Offline -Huxley-

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Re:Discurso anticapitalista papal
« Resposta #12 Online: 12 de Julho de 2015, 20:16:40 »
Desconfie de quem não doa seus bens de modo determinado como alguém que quer contribuir drasticamente para resolver o "problema da concentração de renda" e ainda assim reclama que os "burgueses" não distribuem renda como ele quer.

Offline Pasteur

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Re:Discurso anticapitalista papal
« Resposta #13 Online: 12 de Julho de 2015, 21:04:50 »
O Papa não é ICAR nem Vaticano.

Offline Gigaview

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Re:Discurso anticapitalista papal
« Resposta #14 Online: 12 de Julho de 2015, 22:27:12 »
Na verdade existem 2 papas: o papa Chico que é jesuíta e o papa dos jesuítas, Adolfo Nicolás, também conhecido como o Papa Negro, o todo poderoso da ICAR. O Papa Chico é só marketing e diplomacia. Nicolás "colocou" ele lá para desempenhar esse papel, e está se saindo muito bem. É tudo parte da  New World Order, comandada pelo Illuminatti, aliás, criado por jesuítas maçons.
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline -Huxley-

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Re:Discurso anticapitalista papal
« Resposta #15 Online: 14 de Julho de 2015, 11:14:53 »
10/07/2015 às 13:32 \ Economia
Três mitos sobre o capitalismo no discurso do papa

O papa Francisco deu um discurso claramente anticapitalista ontem na Bolívia. Defendeu mudanças estruturais contra a “ditadura sutil” das forças do mercado. “Reconhecemos que este sistema impôs a lógica dos lucros a qualquer custo, sem pensar na exclusão social ou na destruição da natureza?”, disse ele. Há na fala do papa pelo menos três mitos frequentemente repetidos sobre o capitalismo. Estes aqui:

“O capitalismo destruiu a natureza”

A princípio parece difícil de discordar do papa. Da Revolução Industrial do século 19 até a China dos dias de hoje, o avanço das fábricas cria nuvens negras nas cidades. O que pouco se diz é que só depois de um certo nível de prosperidade (criada pelo capitalismo) surge a preocupação dos cidadãos com o meio ambiente.

Isso fica claro com o seguinte dilema. Imagine o leitor que está à beira de morrer de fome e consegue caçar um pato. Mas tem um problema: trata-se de um animal em extinção, talvez o último sobrevivente daquela espécie rara de pato. Quem preza pela própria vida até lamentaria o fim da espécie, mas comeria o infortunado pato sem pensar demais. Já se o leitor está de barriga cheia, fica mais fácil poupar o animal. Do mesmo modo, só países enriquecidos pelo capitalismo podem se dar ao luxo de se importar com a natureza.

Os economistas chamam esse fenômeno de “curva ambiental de Kuznets”. Quando um país atinge a marca de 4 mil dólares de renda per capita, a ecologia entra na agenda pública. Florestas, animais, ar e rios limpos ganham relevância. Mais uma vez é o exemplo da China, que agora, mais rica, luta para despoluir as cidades. Países comunistas (de verdade, não como a China hoje) nunca chegaram a esse nível de renda – não à toa, avançaram sobre a natureza com muito mais força que os capitalistas.

“O capitalismo nos tornou egoístas”

Bem, seria preciso encontrar um modo de medir o egoísmo em diferentes épocas. Parece impossível – ou seja, a opinião do papa é frágil. Também sem provas ou medições, poderíamos supor o contrário. Assim como a prosperidade possibilitou a preocupação com a natureza, facilitou a caridade e a preocupação com o próximo. Aqui também vale um exemplo. Se o leitor tem três sacos de batata em casa, e vai precisar de todos os três nos próximos meses, fica difícil doar um deles. Mas se o estoque conta com vinte sacos de batata, destinar alguns aos pobres se torna barato. O capitalismo de massa, ao possibilitar a abundância, barateou a caridade – e deu força a outras lógicas, além da “lógica do lucro” do discurso do papa. Estão aí os grandes bilionários do mundo, como Bill Gates, que doa mais da metade da sua fortuna, para provar que é mais fácil ser caridoso quando rico. Como diz Deirdre McCloskey, da Universidade de Chicago, “o capitalismo não corrompeu a natureza humana – pelo contrário, ele a melhorou”.

“O capitalismo exclui os mais pobres”

Antes do capitalismo industrial, quatro em cada dez pessoas morriam ou durante a gestação ou até completar 15 anos. Crises de fome ceifavam 10% a 15% da população pelo menos uma vez por século. Vestidos e casacos, de tão caros, apareciam em testamento como herança. Quase todos os gordos eram ricos, mas só os ricos tinham comida de sobra.  Quem ingeria 900 calorias por dia poderia se considerar sortudo – hoje temos que nos esforçar para ingerir menos que 2400 calorias. A altura média dos homens passou de 1,68 metro (em 1700) para 1,77 hoje. Desculpa, caro papa Francisco, mas na Idade Média, quando a Igreja dominava o mundo, a pobreza era um pouquinho maior. Não foi o capitalismo que excluiu os pobres, e sim a falta de capitalismo.

 

@lnarloch

Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/cacador-de-mitos/2015/07/10/discurso-do-papa-repete-tres-mitos-frequentes-sobre-o-capitalismo/

 

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